A euforia para comprar um carro novo com desconto de até R$ 8 mil dentro do programa federal de incentivo pode contaminar as avaliações sobre as melhores condições para aproveitar o abatimento. O governo anunciou o total de 266 veículos que receberam descontos dentro da iniciativa, que visa a reduzir os custos no setor. São automóveis de diferentes versões, que correspondem a 32 modelos. Economistas concordam que o desconto é realmente atraente e vale a pena, mas alertam que o benefício pode ser diluído em financiamentos com altas taxas de juros.
Isso porque parcelar um veículo 0km ainda esbarra em taxas elevadas. Com os juros altos, o custo final após o pagamento das parcelas fica bem acima dos novos valores de tabela. Para auxiliar o leitor a aproveitar melhor o programa de carros populares, o EXTRA preparou dez dicas com auxílio de especialistas em finanças. Entre recomendações, estão o cuidado com a comodidade de assinar o financiamento na própria concessionária e não pesquisar os juros e as outras condições de parcelamento. Uma alternativa, dizem os economistas, pode ser fazer um empréstimo no valor do veículo, com taxas diferenciadas e menores, e pagar o carro à vista. Ou ainda dar uma entrada maior, financiando a menor parte.
Os juros altos assustam quem deseja comprar um veículo. A pedido do EXTRA, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) fez uma simulação aplicando o desconto no preço de um carro popular, e somando ao custo da operação as taxas de financiamento. Entre os exemplos listados está o Fiat Mobi Like, cujo preço caiu de R$ 68.990 para R$ 58.990, mesmo valor do Renault Kwid. O desconto para o Kwid é de R$ 10 mil, somando os R$ 8 mil concedidos pelo governo aos R$ 2 mil de incentivo da montadora.
Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac, ressalta que, embora o desconto já seja um bom negócio porque, com preço menor do carro, o cálculo dos juros vai incidir sobre uma base mais baixa, se o comprador fizer um financiamento com prazo maior do que 12 meses, o total do abatimento vai evaporar devido à cobrança de juros. — Claro que a pessoa que já ia comprar um carro terá o benefício do desconto. Por outro lado, comprar a prazo anula o incentivo do governo e o que as montadoras estão dando. E quanto mais longos os financiamentos (normalmente, quanto maior o número de parcelas, mais facilmente a prestação cabe no bolso), maior a quantidade de juros que vai pagar e maior o prejuízo ao bolso dele — explica.
Considerando, por exemplo o Fiat Mobi Like, que custa cerca de R$ 58 mil, com entrada de 10% e taxa média do mercado, o valor total pago em um financiamento de 12 meses seria de pouco mais de R$ 67.720. Aumentando a quantidade de meses, o valor das parcelas diminui. Mas, o total do veículo aumenta. Então, em 24 meses, o cliente pagaria R$ 8.753 a mais. Já em 36 meses, desembolsaria R$ 18.159 a mais no valor final do automóvel financiado. A educadora financeira Aline Soaper destaca que o valor de um carro novo pode ficar mais caro com o pagamento do seguro do financiamento e de outras taxas. Mas esse custo, varia conforme o automóvel e a instituição financeira escolhida pelo comprador. Quando não dá para comprar um carro 0km, a opção são os usados.
— A medida do governo pode trazer consequências no segmento de seminovos e usados, que prevê reduções nos valores dos automóveis. A Fenauto tinha divulgado que se os descontos ficassem na base de 6%, por exemplo, os veículos seminovos, especialmente os que têm preços mais próximos aos dos 0km, deveriam cair na mesma proporção da alíquota média. Mas a própria Fenauto alertou que a queda não iria durar muito tempo.
Mesmo antes de calcular o valor da operação financeira, é preciso avaliar todos os custos envolvidos na manutenção do carro: — Muitas pessoas pensam apenas na prestação a ser paga, enquanto outras acham que o gasto se resume ao combustível. Aí estão armadilhas. É preciso ter consciência das diversas despesas envolvidas, como seguro, combustível, manutenção, IPVA, licenciamento anual, lavagens e até multas de trânsito.
Para economizar no financiamento
Foto: Lucas Tavares / Agência O Globo