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PESQUISA APONTA DESIGUALDADE RACIAL NA IMPRENSA BRASILEIRA

Douglas Santana - 24/05/2023 17:39

Divulgado neste mês de maio, foi realizado a pesquisa Raça, Gênero e Imprensa: Quem Escreve nos Principais Jornais do Brasil?, que mapeou o perfil dos profissionais que escrevem nos três maiores jornais impressos do país, Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo.

O estudo teve colaboração da Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação, associação que se dedica a combater a escassez de oportunidades para profissionais negros neste mercado. Conforme resultado da pesquisa realizada em 2021, os jornais analisados mantiveram a maioria branca, apontando uma forte existência de desigualdade racial nas redações jornalísticas, atingindo 84,4%.

O segundo grupo mais numeroso no jornalismo brasileiro são os pardos (6,1%), seguidos dos pretos (3,4%), amarelos (1,8%) e indígenas (0,1%). João Feres Junior, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), observou que, quando se trata de textos de opinião, considerados o “filé do menu” jornalístico, a sobrerrepresentação de jornalistas brancos sobe para 90%.

“Em editoriais, alcança 100%, caso do Estadão”, ressaltou o professor. Em O Globo, são 93% e, na Folha, 86% de brancos. “Não tem só uma subrrepresentação brutal de negros escrevendo nos jornais mas, também, em termos de espaço de maior poder nos jornais”, observou.

Considerando o perfil de raça e gênero, observa-se nos três jornais que a maioria dos textos é assinada por homens brancos, seguidos de mulheres brancas, enquanto uma pequena parcela envolve homens negros e mulheres negras, nessa ordem. Para os pesquisadores, isso denota um problema da invisibilização de grupos sociais na produção das narrativas e informações que levam à formação de opinião.

Segundo a sondagem, mulheres brancas lideram entre os colaboradores mais frequentes (acima de 16, de 11 a 15 e de 6 a 10 textos no período pesquisado relativo a 2021), enquanto homens e mulheres pretos encontram-se na faixa de mais baixa frequência (de 1 a 5 textos no período). O estudo indica que a desigualdade da distribuição geral se reproduz de modo similar pelas temáticas abordadas. A exceção são notícias relacionadas a esportes, cujos textos têm seis vezes mais autores homens que mulheres.

O professor João Feres Júnior afirmou que a solução para a desigualdade racial e de gênero nos veículos da grande mídia é os jornais contratarem mais pessoas negras e estabelecerem um equilíbrio de gênero maior.

“Não tem outra coisa. É política de ação afirmativa para aumentar a participação de homens e mulheres negros”, explica.

Já na avaliação da coordenadora de Igualdade Racial da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Valdice Gomes, a pesquisa mostra de maneira clara que negros e mulheres são minoria nas redações da grande mídia, e o estudo do Gemaa/Uerj confirma o retrato que vem sendo feito sobre o perfil racial da imprensa brasileira.

“Isso só mostra o quanto os jornalistas negros vêm denunciando e reivindicando políticas e ações afirmativas também no segmento de comunicação. O perfil traçado só vem provar o quanto o jornalismo feito por esses veículos é prejudicial para a própria população. Não é representativo da sociedade brasileira, quando se sabe que a maioria da população, 56%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são pessoas negras”, afirma.

 

Foto: Joédson Alvez/Agência Brasil

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