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ADARY OLIVEIRA – SIMULANDO AS CONDIÇÕES OPERACIONAIS EM ÁGUAS PROFUNDAS

João Paulo - 24/04/2023 09:20

Há algum tempo, quando eu ainda trabalhava para o governo, fui convidado a participar de uma reunião de concluintes de um curso de soldadores.

Os técnicos reclamavam de não terem sido aproveitados na seleção feita por uma empresa que iniciara a construção da parte superior de uma plataforma de exploração de petróleo. Perguntei se eles sabiam trocar o pneu de um carro. Diante da resposta afirmativa indaguei se eles se sentiam aptos a trabalhar no pit-stop de uma corrida de Fórmula 1, quando um pneu é trocado em segundos. Obviamente disseram que não. Desse-lhes que muito menos eles estariam capacitados a trocar a roda de uma locomotiva, em movimento, descendo uma ladeira e sem freios. Para completar usei a narração para explicar a diferença que existe entre conhecimento e habilidade, mostrando que muitas vezes é preciso se chegar perto do real através de simulações.

No Brasil, a produção média de petróleo em fevereiro de 2023 foi de 3,262 milhões de barris pordiae a produção média de gás natural foi de 146,540 milhões de m3 por dia. A maior parte da produção de óleo (78,1%) veio do pré-sal, um dos maiores reservatórios de petróleo e gás que se conhece. Está sendo usada uma tecnologia inédita e tudo conquistado em menos de dez anos. Extrair petróleo em poços convencionais de terra é uma barbada, isso se faz aqui na Bahia há 81 anos, quando se começou a exploração do primeiro poço de petróleo comercial em Candeias. Agora, operar um poço no mar, a uma profundidade de mais de 5 mil metros, pressão superior a 500 atmosferas e temperatura em torno de 150°C, não é para qualquer um. A exploração de petróleo e gás natural nessas condições, com processamento primário, elevação e escoamento, com uso de extensos cabos umbilicais na transmissão de dados, novos equipamentos, válvulas, instrumentos especiais e sistemas originais, requer muitos estudos e pesquisas.

Para que sejam simuladas com perfeição as condições reais de operação e se consiga avanços contínuos de produtividade, há necessidade de montagem de laboratórios, bancadas especiais e plantas pilotos, não só para especificar corretamente os diversos materiais construtivos, como também definir perfeitamente as situaçõesfuncionais. Os requisitos incomuns do pré-sal e a necessidade de realizar novas invenções, aperfeiçoando-as com a construção de novos modelos, melhorando seu funcionamento através de testes e observações e contínuo acompanhamento, se constituem, de fato, um imenso desafio.

Recentemente foi divulgada a informação de que a Petrobras e Shell irão investir R$ 254 milhões na construção de laboratório na Bahia com o objetivo de simular as situações de operação do pré-sal no fundo do mar. O projeto é emparceria com o Senai CIMATEC com previsão de estar concluído em 2024.As instalações começaram a ser construídas no Polo Industrial de Camaçari (BA) financiado com recursos da cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis(ANP) fixada na Lei do Petróleo (9.478/97).

Trata-se do Laboratório de Desenvolvimento de Produção (LDP) que o SenaiCimatec está instalando em Camaçari, dentro do CimatecPark, em área de 4 milhões de m2, para definição de faixas de pressões, temperaturas, vazões e testes com diferentes taxas de aquisições de dados, bem como análise de diversas engenharias. No planejamento desse empreendimento foram definidas as necessidades de infraestrutura do laboratório, equipamentos de testes e outras competências. As principais bancadas e plantas piloto obedecerão a pelo menos seis funções básicas: descontaminação do gás natural; calibração de medidores; medição do teor de água em óleo; desenvolvimento de equipamentos aplicados no método de elevação artificial gas lift; teste de confiabilidade em válvulas de injeção química; e análise do circuito erosional.

O LDP será um laboratório de classe mundial e deverá suprir a exploração e produção de petróleo e gás natural nas camadas localizadas sob águas profundas do mar. Elas exigem várias inovações tecnológicas de diversas naturezas no ciclo de vida das reservas petrolíferas e de aparelhamentos. Os fornecedores de equipamentos e serviços deverão ser assistidos para atenderem a especificações sem igual. Tudo está sendo construído dentro de técnicas as mais avançadas para consolidação da competência nacional e o desenvolvimento e homologações de equipamentos do setor de petróleo e gás natural. Parece um sonho, mas isso está acontecendo na Bahia.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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