A Bahia foi o estado mais beneficiado com a visita do presidente Lula e do governador Jerônimo Rodrigues à China e aos Emirados Árabes Unidos.
Só no âmbito privado, por exemplo, foram anunciados investimentos que chegam a quase R$ 20 bilhões. E, antes que a tal da polarização política diga isso e aquilo sobre essa afirmação, é preciso dizer que não se trata de especulação, mas de anúncios empresariais que devem se concretizar. Nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, houve o anúncio por parte da Acelen, que controla a Refinaria de Mataripe, da construção de uma nova refinaria para produção de diesel e querosene de aviação renovável.
O investimento será de R$ 12 bilhões, além de R$ 2 bilhões em desenvolvimento de tecnologia, e as obras começam em janeiro de 2024. A biorefinaria vai produzir diesel verde HVO ((Hydrotreated Vegetable Oil) tendo como matéria-prima inicialmente o óleo de soja e depois os óleos de macaúba e dendê. Além do montante expressivo, o investimento vai colocar a Bahia na vanguarda da produção de substitutos do petróleo no Brasil. E o projeto pode viabilizar uma nova cadeia do agronegócio na Bahia, estimulando a vinda de indústrias produtoras de óleo de soja e também dinamizando a produção agrícola, estando previsto o plantio em uma área total de 200 mil hectares.
Na China, a BYD, um gigante chinês na produção de automóveis, anunciou que vai investir R$ 10 bilhões nos próximos três anos no país, e grande parte disso será na Bahia com a implantação de um complexo de fabricação de carros, caminhões e ônibus elétricos. A princípio, o investimento será de R$ 3 bilhões, mas a empresa tem planos de verticalizar a produção com outra fábrica de lítio grau bateria e o estado pode ampliar sua parcela nos investimentos. Aliás, a Bahia e Sergipe já deviam estar em campo mapeando suas reservas de lítio.
O investimento pode dinamizar a cadeia produtiva que já existia na época da Ford e, caso o governo federal crie políticas para estimular a compra de carros elétricos, a Bahia poderá se tornar um grande produtor nacional. Além dos investimentos privados, a viagem parece ter consolidado mais dois investimentos, já contratados via PPP – Parceria Público Privada. Um deles é o modal de transporte, um monotrilho 100% elétrico, que vai substituir os trens do subúrbio e que os estudos afirmam que transportará 170 mil pessoas por dia. O outro é a ponte Salvador/Itaparica.
Nos dois casos, a negociação foi sobre o reposicionamento contratual, em função do aumento de custos resultante da pandemia e da escalada dos juros. Mas a viagem à China colocou a ponte Salvador/Itaparica em outro patamar, afinal o governo conseguiu o que é indispensável para um projeto desse porte: o apoio declarado do governo federal e sua possível inclusão no novo PAC, o programa de investimentos a ser lançado. E houve as negociações para instalação de fábricas de equipamentos para energia eólica e no âmbito do agronegócio. O fato é que a viagem foi produtiva para a Bahia.
MEIA BAHIA NO SEMIÁRIDO
A Bahia tem 7,6 milhões de pessoas, metade de sua população, vivendo no semiárido em 283 municípios. Cerca de 85% do território baiano está no semiárido, que é maior do que o estado do Ceará inteiro. Sujeito a secas, o semiárido tem um PIB que representa 41,5% do PIB baiano e seu PIB per capita é cerca 20% menor que a média estadual. Os números mostram a importância dessa região e a necessidade de políticas públicas voltadas para essa população. Um exemplo é o Canal do Sertão, a transposição do rio São Francisco em direção a Bahia, cujo projeto precisa estar no novo PAC. Os dados são da SEI –Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia e referem-se a 2022.
EÓLICA PARA GRANDES INDÚSTRIAS
As grandes empresas estão buscando energia limpa. E a Bahia tem! A ArcelorMittal Brasil, maior produtora de aço no país, vai controlar 55% do Complexo Eólico Serra das Babilônia, das empresas PEC Energia e Rio Energy, situado em Morro do Chapéu e Várzea Nova. Os 45% restantes serão da Casa dos Ventos. O parque eólico terá 95 aerogeradores que oferecem uma capacidade instalada de 223 MW, energia suficiente para abastecer uma cidade com 2 milhões de habitantes/ano. O complexo está a apenas 23 km da rede elétrica nacional e fica em um local onde os ventos têm maiores velocidades e constância. O projeto da ArcelorMittal é descarbonizar suas necessidades futuras de eletricidade.
Publicado no jornal A Tarde em 20/04/2023