Artigo do jornalista e economista Armando Avena publicado no jornal A Tarde nesta quinta-feira 30/03/2023
O empresário que precisa de um empréstimo para capital de giro ou para investimentos, o mercado imobiliário, o varejo em geral e os consumidores sabem que um país não pode crescer com uma taxa de juros básica de 13,75%, até porque na ponta ela é até 25 vezes maior. Ao mesmo tempo, a história mostra que a inflação é extremamente danosa para a economia e para as pessoas.
Se é assim, é preciso que o Banco Central e o Ministério da Fazenda entrem em acordo em busca de uma sintonia fina. Não é o que vem acontecendo, pois enquanto o presidente Lula ataca os juros politicamente, o Banco Central responde politicamente. O comunicado do Banco Central afirmando que não estava descartado outro aumento nos juros – mesmo sabendo que a inflação caiu de 10% em 2021, para 5,8% em 2022 e tem uma expectativa de 5,8% para este ano – foi político, com o objetivo de enfrentar o presidente e ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta terça-feira, mostra isso claramente.
A falta de um arcabouço fiscal, por exemplo, não é o problema, pois a ata diz que “o novo arcabouço fiscal não vai impactar a inflação diretamente, na avaliação do Copom”. Diz que uma política fiscal “sólida e crível” pode apenas melhorar as expectativas. Se é assim, que motivos levaram o Copom a manter uma taxa tão alta, da ordem de 6,5% em termos reais, a maior do mundo? As explicações são pífias. A ata diz que a inflação continua elevada para o consumidor no cenário interno, mas não cita a tendência de queda: inflação de 10% em 2021, caindo para 5,8% em 2022 e com previsão do mesmo patamar em 2023. Ora, o Brasil começou a aumentar as taxas de juros antes que a maioria dos países do mundo e obteve resultados e a própria ata prevê para 2024 uma inflação de 3,8% em 12 meses no terceiro trimestre.
O problema é que o Banco Central está de antolhos e só olha na direção da meta estabelecida, afirmando que os 5,8% previstos para essa ano estão acima do limite de tolerância da meta, que é de 4,75%. Após 3 anos descumprindo a meta, eles passam a ser rígidos agora. Na verdade, forçar o alcance dessa meta, ao custo de recessão e desemprego, é esquecer que constitucionalmente o Banco Central é responsável também pelo nível de emprego e, com essa taxa de juro, o PIB vai continuar caindo e o emprego também.
Se reduzisse os juros em 0,25%, por exemplo, o Banco Central daria um sinal positivo ao mercado e aos investimentos e essa queda não teria qualquer influência nos índices inflacionários, até porque a própria ata reconhece que o mercado de crédito tem apresentado desaceleração na margem e isso significa recessão à vista.
A próxima reunião do Copom será no início de maio e, mantidos os atuais fundamentos da economia, o Copom precisa reduzir os juros. Se o patamar for mantido, o Banco Central terá adotado uma posição política, em detrimento da economia brasileira que não aguenta o terceiro ano consecutivo de juros escorchantes.
O ANIVERSÁRIO DA VELHA CIDADE
Aos 474 anos, Salvador continua linda e mostra que beleza não é privilégio de ninfetas. Nas bordas do Atlântico, essa cidade mítica, protegida por Iemanjá, foi construída sobre um triângulo que avança para as águas e que, por isso, é um dos cinco lugares continentais do mundo em que o sol nasce e se põe no mar. Se Gothe, o poeta da beleza, tivesse conhecido essa cidade mágica onde o profano uniu-se ao sagrado, a festa enroscou-se no trabalho e o negro misturou-se ao branco e ao índio para criar uma cultura singular e única, refaria o dístico que dedicou a Nápoles e diria, extasiado: Ver Salvador e depois morrer. Parabéns, portanto, a bela e mística cidade da Bahia.
A ECONOMIA DE SALVADOR
Todo soteropolitano é encantado por Salvador e por sua Baía de Todos os Santos. Talvez por isso, cada um deles tenha uma ideia, uma proposta ou um projeto para ela. A cidade da Bahia tem especialistas em várias áreas e são excelentes os estudos sobre urbanismo, tributação, infraestrutura e outros ramos. Mas ninguém fala sobre a economia soteropolitana, suas potencialidades e desafios. Como este colunista é antes de tudo um economista, começou a catalogar os números e descobriu que a cidade precisa voltar a estimular sua economia, sob pena de perder espaço para outras cidades do Nordeste. É hora de repensar a economia de Salvador, para, além de bela, fazê-la dinâmica e produtiva.