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ADARY OLIVEIRA- A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DE GASODUTOS

SX - 27/03/2023 08:44

Desde os anos 1930, quando os moradores de Lobato, subúrbio de Salvador, usavam uma lama oleosa encontrada nas escavações para acender os candeeiros e fifós, que o petróleo é conhecido no Brasil. Ele vinha impregnado de um gás conhecido como gás natural (GN). Esse gás é uma mistura de hidrocarbonetos leves, com predominância do metano (CH4) acompanhado de outros compostos. Até hoje o GN não associado é encontrado em reservatórios onde não há ocorrência de óleo. O GN associado é também encontrado em reservatórios, dissolvido no petróleo.

Aqui na Bahia ele transformou-se num dos principais agentes da indústria moderna. Atraiu para as margens da Baía de Aratu a companhia americana Lone Star Cement Corporation que operava uma planta de Cimento Portland em Guaxindiba, Rio de Janeiro. Em Aratu, começou a produzir cimento usando como matéria-prima os depósitos de calcário formados por conchas de moluscos marinhos que cobriam o fundo da Baía de Todos os Santos (BTS), nas proximidades da Ilha da Maré, próximo ao local onde foi construído o Porto de Aratu. O combustível usado na calcinação do calcário era o GN. Também nas terras da BTS, próximo à Ponta da Sapoca, a Sudene, ainda no tempo de Celso Furtado, instalou uma fábrica de ferro esponja que usava o processo de redução direta com GN.

O GN é considerado um dos mais limpos combustíveis e uma excelente matéria-prima para a fabricação vários produtos. Na geração de energia elétrica o GN alimenta caldeiras que fornecem vapor para acionamento das turbinas, apresentando vantagem sobre o óleo combustível e óleo diesel quanto ao poder calorífico e menor poluição, oferecendo por isso amplas vantagens operacionais.Como matéria-prima é usado na fabricação de bissulfeto de carbono, ácido cianídrico, cloro-metanos e do gás de síntese, que por sua vez é empregado na produção de várias substâncias entre as quais a amônia, ureia, ácido nítrico, hidrazina, metanol e etileno glicol.

A forma mais comum de transporte do GN é no estado gasoso, através de dutos, e na forma líquida (GNL) havendo, neste caso, necessidade de submetê-lo a processo de liquefação, antes do transporte, e de regaseificação, antes do consumo. O GN pressurizado tem sido também usado quando é transportado em cilindros e tanques especiais.A instalação, regulação, fiscalização da construção e operação de um gasoduto de transporte são de responsabilidade da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por ser monopólio da União e estar sob competência federal. O transporte de GN em dutos é conveniente para diversos atores da nossa economia.As companhias de exploração de petróleo e gás natural (E&P) dependem do escoamento do GN para aumento da produção. O volume de gás associado, efetivamente queimado em cada campo, a cada mês, não pode ser superior a 5% em relação ao nível de queima previsto para esse mês no Programa Anual de Produção em curso, exceto quando essa variação resultar de motivos de comprovada necessidade operacional, conforme justificativa a ser apresentada à ANP no Boletim Mensal de Produção. Assim, a construção de gasodutos, para escoamento do gás, ou de instalações para liquefação de GN, beneficiam as companhias de E&P, sendo indispensáveis para aumento da produção de petróleo.

A companhia distribuidora de GN no Estado da Bahia é a Bahiagás, encarregada da entrega do GN aos consumidores não considerados livres, que não podem adquirir o produto diretamente na fonte produtora. Os pequenos consumidores, como vidrarias, cerâmicas, hospitais, residências, fabricantes de alimentos e pequenas indústrias adquirem o GN nas companhias distribuidoras. A Bahiagás tem em seus planos a construção de gasodutos e tem instalado vários deles, como o que está sendo construído entre Ilhéus e Brumado para atender a demanda de companhias mineradoras da região.

Os consumidores livres de GN, que o adquire em grandes volumes diários e o utiliza industrialmente como matéria-prima ou na geração de eletricidade, têm nos fornecedores locais a possibilidade de obter o gás por mais baixo custo devido a aspectos logísticos, incidindo menor preço da moléculae no custo do transporte. A Secretaria de Infraestrutura do Governo do Estado da Bahia (Seinfra), controladora da Bahiagás, tem todas as condições de conceber e executar um Plano para a construção de gasodutos no Estado da Bahia, independentemente dos gasodutos existentes e que são operados por companhias de transporte de gás de âmbito nacional.

Associação Brasileira dos Pequenos Produtores de Petróleo e Gás Natural (ABPIP), que congrega as empresas independentes de E&P, com sede fixada em Salvador, tem interesse no desenvolvimento desse programa por definir melhor os aspectos do projeto que sejam de interesse geral, estabelecendo diretrizes para as ampliações futuras. Enfim, temos aí, na construção de gasodutos, um belo exemplo de algo que poderia ser feito na Bahia para impulsionar seu desenvolvimento.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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