

De vez em quando, nas palestras que vez por outra faço, ouço visões equivocadas sobre a economia baiana e comparações esdrúxulas com as economias do Ceará e de Pernambuco.
Reitero então, baseado em números, que a Bahia é, disparado, a maior economia do Norte e Nordeste. Em 2022, por exemplo, o PIB da Bahia foi de R$ 401 bilhões, o que significa um valor quase do tamanho do PIB de Pernambuco e do Ceará somados.
No que se refere às exportações, a Bahia foi responsável por 50% das vendas externas do Nordeste e ocupa o 9º lugar no ranking de exportações brasileiras, com participação de 3,5%. No ano de 2022, o PIB baiano voltou a representar 4,1% do PIB brasileiro e encostou novamente em Santa Catarina, ambos disputando o 6º lugar no ranking da economia nacional. O crescimento do PIB baiano em 2022 foi de 2,6%, desempenho inferior ao verificado nacionalmente de 2,9%, mas superior ao crescimento do PIB de Pernambuco, de apenas 0,7%, e do Ceará, de 2,10%.
A indústria baiana cresceu 2,0%, mais que a média nacional que foi de 1,6%. A agropecuária baiana cresceu 2,6%, desempenho melhor que o nacional, cujo crescimento foi de 1,6%. Mas o setor de serviços cresceu 2,9% contra 4,2% da média nacional. Isso aconteceu porque o setor de serviços na Bahia demorou mais para se recuperar da pandemia e porque o comércio teve um desempenho fraco. Na verdade, o comércio foi o único setor da economia baiana cujo PIB retraiu, caindo 0,9%. Era de se esperar, com a alta da inflação e os juros nas alturas, o poder aquisitivo da população desabou e com o crédito caro as vendas no varejo caíram muito.
Aliás, o setor de serviços vem perdendo posição na formação do PIB. Enquanto a agropecuária baiana, que representava 7% do PIB, hoje já representa mais de 12%, e a indústria que retomou sua posição e já representa 24,2 % do PIB, o setor de serviços, que já contribuiu com mais de 70% do produto, hoje representa apenas 63,1%.
Há é verdade, algumas diferenças entre as economias da Bahia e dos estados de Ceará e Pernambuco, pois a economia baiana está mais focada na produção de commodities, tanto na agricultura quanto na indústria, que é fortemente especializada em derivados de petróleo, celulose, metalurgia, mineração e outros. Enquanto no Ceará, por exemplo, a indústria é mais diversificada com maior componente de produção de bens finais.
Mas basta olhar para a dinâmica dos setores econômicos para perceber que na Bahia há muito mais oportunidades de negócios do que no Ceará e em Pernambuco e aqui vale uma constatação: está na infraestrutura o grande desafio da economia baiana e o estado precisa garantir junto ao governo federal os investimentos, especialmente em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, pois com isso a economia baiana poderá deslanchar muito mais.
O governador Jerônimo Rodrigues sabe que na área econômica a prioridade da Bahia é a infraestrutura e já colocou na mesa do governo federal, os projetos que são fundamentais. São eles: a Ferrovia Oeste-Leste, que deve se entroncar com a Ferrovia Centro Oeste não em Figueirópolis como está previsto, mas em Campinorte, ou outro local, para assim ter acesso a carga que vem de Goiás; a duplicação de trechos das rodovias BR 116 e BR 101; o apoio para a concretização da ponte Salvador-Itaparica; a concessão sob novas bases da Ferrovia Centro Atlântica; o Porto de Aratu e o Canal do Sertão. Se forem concretizados, a Bahia pode deslanchar muito mais sua economia.
O colapso do Silicon Valley Bank trouxe de volta os fantasmas da crise de 2008, mas não há, por enquanto, razão para isso. O banco é regional e não tem grandes inter-relações com o mercado, a não ser no Vale do Silício. Bem diferente do Lemon Brothers e da crise de 2008 quando o foco tinha a ver com o mercado imobiliário que atingia grande parte da população americana. Além disso, gato escaldado tem medo de água fria e o governo americano apressou-se em intervir no banco, garantiu que vai honrar todos os depósitos, e, principalmente, criou uma linha de crédito para socorrer outros bancos que estivessem na mesma situação. Mas fica o aviso: juros altos demais desestruturam a economia.
Publicado no jornal A Tarde em 16/03/2023