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JORNAL A TARDE: BRASILEIRO ENGOLE O LEÃO E ENGASGA COM  MOSQUITO – ARMANDO AVENA

Redação - 26/01/2023 07:49 - Atualizado 26/01/2023

O jornalista e economista Armando Avena diz, em artigo no jornal A Tarde, que a discussão sobre a moeda comum do Mercosul é um mosquito.

 Em se tratando de economia, o brasileiro anda engolindo leão e engasgando com  mosquito. Esta semana o mosquito foi a moeda comum entre Brasil e Argentina que gerou uma tremenda discussão em jornais e grupos de Whatzap. Falou-se sobre uma negociação entre Brasil e Argentina na qual as moedas dos dois países, real e peso, seriam substituídas por uma moeda única, como na União Europeia.  Essa ideia bizarra nunca existiu, pelo simples fato de ser impossível criar uma moeda única para países com realidades econômicas tão diferentes.  O Brasil tem uma inflação de pouco mais de 5% ao ano, ao passo que a inflação da Argentina é de mais de 90%; nossas reservas são de quase 400 bilhões de dólares, enquanto os hermanos praticamente não tem dólar em caixa; o Brasil não tem dívida externa, enquanto a Argentina vive às voltas com o FMI renegociando a sua. Ora, em países assim é impossível falar em moeda única. Aliás, não vamos esquecer que cada país que entrou no mercado do euro, teve de viabilizar metas de indicadores econômicos, como inflação, déficit público e outros.

 O que Brasil e Argentina estão discutindo é uma moeda comum nas trocas do comércio exterior, para substituir o dólar nas transações entre os países do Mercosul. O mais engraçado é que isso também é uma bobagem – bem ao gosto dos países submetidos à ditadura do dólar nas trocas comerciais  –, pois tem pouca factibilidade. O comércio exterior exige financiamentos em dólar, frete das mercadorias em dólar, seguros em dólar e por aí vai e criar uma moeda comum entre países que representam pouco no comércio mundial beira o inútil, pelo menos enquanto houver uma moeda forte dominando o planeta. Sequer a China que  tenta negociar seus produtos usando sua moeda conseguiu avanços nessa linha. Essa discussão é o mosquito que alimenta as disputas políticas e os desejos de soberania financeira do Itamaraty.

 Mas agora vamos aos leões que o Brasil está engolindo e eles são muitos. Vou deixar de lado os leões da regra fiscal e da reforma tributária para focar naquele que é o maior desafio do governo Lula: o investimento. Não há crescimento econômico sem investimento e é sabido que o investimento privado não é suficiente num país com enorme deficiência de infraestrutura, pelo que se faz necessário um nível alto de investimento público. Pois bem, em 2022 o Brasil atingiu um dos menores níveis de investimento público da história. Esse será o grande desafio do governo Lula III, lembrando que neste século os maiores níveis de investimento público foram registrados entre 2007 e 2010, exatamente no governo Lula II. O grande desafio do terceiro mandato, além da questão fiscal e da inflação, é a retomada dos investimentos tanto públicos quanto privados, pois sem isso estaremos condenados à estagnação. A taxa média de investimentos em relação ao PIB na última década foi de 17,7%, a menor desde a década de 70. Ou seja, o investimento é um dos três grandes desafios do governo Lula.

                                              O CARNAVAL E AS ESTATÍSTICAS

O trade turístico está entusiasmado com o carnaval e tem razões para isso. O Carnaval de Salvador vai bombar e isso gera emprego e renda. Mas é preciso ter cuidado com as estatísticas. Estima-se, por exemplo, que 800 mil turistas virão a Salvador para a festa, uma ocupação hoteleira de 95% e uma receita da ordem de R$ 2 bilhões. Mas atenção, dos 800 mil turistas cerca de 60% vem de outros municípios do Estado, inclusive da RMS. São turistas e movimentam a economia da cidade, mas gastam menos do que aqueles que vêm de outros estados e muitos ficam em casas de parentes e amigos. Tirando esses ficam cerca de 300 mil turistas extra estaduais e  50 mil estrangeiros. 

                                          A FÁBRICA DA BYD NA BAHIA

 A fábrica de carros elétricos da montadora chinesa BYD deve vir para a Bahia em junho, conforme o protocolo de intenções assinado em outubro com o governo do Estado. Houve, efetivamente, uma visita recente da montadora chinesa ao Paraná na qual o governo disponibilizou as instalações da fábrica desativada da Stellantis em Campo Largo. Apesar disso, nada mudou e a fábrica deve vir para a Bahia. Há pendências, já que a Ford quer que a BYD pague por melhorias recentes feitas na fábrica e o governo quer a recontratação de antigos funcionários da empresa. Embora a Bahia tenha de abrir os olhos, nada mudou, mas a oferta do Paraná aumentou a capacidade de barganha dos chineses. 

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