Já estamos num novo Brasil e, seja na política ou na economia, estamos agora sob a égide da negociação.
Na política, acabou o tempo das brigas de rua, com o presidente Bolsonaro, completamente despreparado para o exercício do poder, enfrentando a socos e pontapés os demais poderes e, ao ver-se encurralado, entregar o país ao Centrão. A política agora é outra e é feita sem gritos e imprecações, mas com negociação entre os poderes e com jogadas de mestres no tabuleiro do poder. Esta semana, as peças se moveram no xadrez da política, o Supremo decretou que o orçamento secreto é inconstitucional e o todo-poderoso presidente da Câmara, teve de recuar ao perder sua moeda de troca. Lula, que parecia estar nas mãos de Lira, mostrou que sabe jogar o jogo da política, articulou-se com o Supremo, mas mantendo os canais de negociação com o Congresso e aceitando a desidratação da PEC de transição que foi aprovada, com sua validade reduzida para um ano,
Também na economia a negociação passa a ser a palavra chave. Acho graça quando alguns empresários e economistas insistem em dizer que o país vai entrar no caos, que as nomeações do presidente são catastróficas e seguem apostando no confronto. É uma atitude irracional, semelhante a quem está na porta dos quartéis sem aceitar o resultado da democracia, afinal, se a economia entrar em caos, se o país afundar em outra crise política, tanto a população quanto os empresários e suas empresas vão continuar se dando mal. Dito isso, chegamos à única saída: negociar uma política econômica razoável.
E aqui vale dizer que é possível, sim, ter, ao mesmo tempo, responsabilidade social e responsabilidade fiscal. Responsabilidade social é garantir que o reajuste do salário mínimo, o aumento do Bolsa Família e os 150 reais para cada criança pobre com menos de seis anos estejam garantidos. Responsabilidade fiscal é não dar um cheque branco ao governo, reduzindo o prazo da PEC para um ano e assim obrigar o governo a propor uma nova âncora fiscal. A desidratação da PEC acalmou o mercado financeiro, pois o governo vai ter de negociar com o Congresso em 2023 uma postura fiscal mais rígida. Será fundamental, por exemplo, garantir a trajetória descendente da relação dívida/PIB.
E o governo terá também de adequar a política monetária – que hoje exibe uma taxa de juros de quase 14% ao ano sem a certeza de que a inflação está refluindo – com a política fiscal. Negociação será, ao que parece, a palavra chave do governo Lula e o empresariado precisa dizer quem será seu interlocutor com o governo para assim negociar uma reforma tributária, aceitando o fim de alguns subsídios, mas exigindo em troca a redução da carga tributária no setor produtivo. Em resumo, seja na política ou na economia, o tempo das bravatas acabou, é hora de negociar.
A ESCOLHA DE JERÔNIMO
O governador Jerônimo Rodrigues fez a escolha certa ao decidir manter Manoel Vitório na Secretaria da Fazenda. Certamente levou em conta o trabalho que ele realizou nas quatros gestões à frente da pasta, permitindo que a Bahia registrasse os melhores resultados fiscais do país, com uma taxa média de investimentos em relação ao PIB que corresponde a mais que o dobro da média nacional e, este ano, destinando 15% da sua receita total para investimentos. Mesmo nos piores momentos da crise econômica, quando muitos estados atrasaram ou suspenderam os salários, a Bahia manteve os vencimentos do funcionalismo em dia. Ao escolher Vitorio, Jerônimo optou pela responsabilidade fiscal.
FELIZ NATAL
Estive pensando outro dia que o maior erro do tempo é ser uniforme. Ele passa igual seja na segunda ou no domingo. Ele passa igual mesmo no Natal. A forma como passa o tempo deveria ser uma escolha dos seres humanos e eles o fariam fluir de acordo com o que estivessem sentido. Não me atrevo a dizer que, se assim o fosse, eu o faria passar o mais lentamente possível, afinal, as vezes é necessário acelerar o tempo. Infelizmente o tempo entrou em modo corrida tal a rapidez com que todos os anos chegamos ao natal e ao réveillon. Então resta desejar um Feliz Natal e um 2023 cheio de paz e alegria aos leitores. E tirar duas semanas de férias para dar um tempo ao cronista e ao leitor.