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JOSÉ MACIEL – AINDA A PROPÓSITO DOS FERTILIZANTES

Redação - 10/10/2022 07:14 - Atualizado 17/10/2022
Na última coluna, destacamos o problema da excessiva dependência brasileira das importações de fertilizantes para suprir nosso mercado interno, configurando um cenário de grande vulnerabilidade para o agronegócio nacional, especialmente nas áreas de potássio e, em menor grau, de nitrogênio e fósforo. A recomendação óbvia consiste na diversificação de nossas fontes de suprimento externo, contemplando países como Canadá, Irã, Chile, Catar , Israel e outros, e, por outro lado, no aumento de nossa produção interna, frente essa em que temos possibilidades, mas há desafios a serem enfrentados e os resultados só virão  no médio e longo prazos.
Hoje, abordaremos outras frentes complementares de atuação,  com foco na economia e melhoria da eficiência do uso de fertilizantes, aumentando inclusive a sua disponibilidade para as plantas quando disponível nos solos.
Inicialmente , cabe sustentar que os sucessivos governos nas três últimas décadas não consideraram os fertilizantes  como insumo importante e estratégico para a economia e para o agronegócio brasileiro,  e, por essa razão, não formularam um plano consistente   e duradouro para o setor, talvez confiando que os países supridores do nosso mercado eram fornecedores confiáveis e isentos de qualquer tipo de turbulência. O que ocorre é que o embate entre Rússia e Ucrânia, tradicionais países fornecedores mundiais de fertilizantes (aí se inclui também Belarus) e grãos, como trigo e milho, despertou a preocupação do governo brasileiro somente agora. Mas, os números de nossa dependência de importações já deveriam ter sido elementos de alerta para os nossos governos independentes de  guerras e invasões.
Nesse contexto, já passou da hora do país repensar sua estratégia de abastecimento de nosso mercado nas áreas de fertilizantes e também na de trigo, alimento estratégico  para a nossa segurança alimentar . Deixemos o trigo para uma próxima oportunidade. Voltemos ao caso dos fertilizantes.
No curto prazo, o caminho é, como se viu, buscar novos países supridores ou aumentar as fatias de importações de países que já nos abastecem. Nesse sentido, a ministra Tereza Cristina já está em viagem ao Canadá para conseguir aumentos de nossas compras , sobretudo de potássio , nosso nutriente mais sensível e preocupante , com importações da ordem de 95  a 96% de nossas necessidades. Já houve sondagens ao Irã, e poderá  ser necessário envidar esforços junto a outros países, como Chile, Catar, Israel e outros.
Em outra frente, a ministra já ajudou a elaborar e  lançar um Plano Nacional de Fertilizante, oficialmente divulgado no último dia 11, contemplando  algumas  frentes de ação  no curto, médio e longo prazos, com horizonte temporal até 2050.
Como frente e tarefa de curtíssimo prazo, a EMBRAPA entrará em cena a partir da primeira quinzena de abril, com a chamada Caravana Fert BRASIL, na qual serão enviados pesquisadores e técnicos da estatal  para todos os grandes polos produtores de produtos agropecuários do país, visando orientar os produtores no emprego  de novas tecnologias para melhorar a eficiência, disponibilidade  e racionalização  no uso dos fertilizantes, com a inclusão várias   alternativas, inclusive nas áreas de fertilizantes biológicos. Esse esforço já existe e será fortalecido, e permitirá economizar cerca de 1 bilhão de dólares em importações  na safra 2022-2023 e de 25% nas compras externas até 2030.
Um dos pilares, segundo nos informa Celso Moretti, presidente da EMBRAPA, consiste no uso do biofertlizante chamado BiomaPhos, lançado em 2019 e já presente em cerca de 3 milhões de hectares cultivados no Brasil. Trata-se de  2 bactérias, que, quando aplicadas no solo, atuam sobre o fosfato  já disponível no solo , aumentando consideravelmente a disponibilidade do fósforo para as plantas. Com isso, o produtor comprará   menos insumos e fertilizantes fosfatados de outros países.
Uma outra possibilidade reside no uso de fertilizantes organominerais e “nanoestruturados”, a partir de partículas minúsculas, menores que um fio de cabelo, com as quais se desenvolverão os adubos.  Sem falar na “adubação de precisão”, em que a análise do solo indicará as áreas que demandam adubos e as que não demandam. Com isso, se pode regular as máquinas para lançar os adubos somente nas faixas que demandam o insumo.
Embora não citada por Moretti, a fixação biológica de nitrogênio, com o uso de bactérias fixadoras de  N atmosférico , já usada na soja ( a soja não consome nitrogênio), pode  impactar fortemente na economia  e na redução das importações de fertilizantes nitrogenados. A EMBRAPA já identificou   bactérias fixadoras de N para as lavouras de cana e milho. Quando utilizada em  escala comercial, o consumo e as importações de  adubos nitrogenados  poderão experimentar uma queda considerável, já que soja, cana e milho consomem mais de 70% de nossas necessidades de fertilizantes. Em suma, há enorme espaço para a atuação do governo e do setor privado no curto, médio e longo prazo no setor de adubos e fertilizantes.
(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: [email protected]

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