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A PEC SUICIDA E O BRASIL DE AMANHÃ – ARMANDO AVENA

admin - 07/07/2022 07:53 - Atualizado 07/07/2022

Aprendi na Faculdade de Economia que um economista ortodoxo, dito liberal, é radicalmente contra a expansão dos gastos públicos. O ministro Paulo Guedes é um economista ortodoxo, o mais liberal dos liberais, considerado um Chicago Boy, e, no entanto, está avalizando a maior expansão dos gastos públicos que se tem notícia nos últimos 10 anos e o pior é que essa expansão será feita sem que haja recursos disponíveis e furando o teto de gastos.

Os pares do ministro na Universidade de Chicago devem estar de cabelo em pé e qualquer economista sério também está com os cabelos arrepiados, afinal estima-se que a PEC Kamikaze vá gastar mais de R$ 40 bilhões em benefícios fiscais, sem dinheiro em caixa. Kamikaze, como bem sabe o leitor, é um ação suicida e esse nome foi dado pelos técnicos do Ministério da Economia, cientes do rombo que vão criar nas contas públicas e que vai se transformar em inflação mais rápido do que se imagina. Para cobrir a despesa sem previsão orçamentária, o governo terá de emitir moeda ou emitir títulos públicos a juros estratosféricos e ainda estará descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria Constituição que proíbe despesas desse tipo a três meses do processo eleitoral.

Sim, dirá o leitor, mas é preciso fazer alguma coisa para melhorar a vida da população. É verdade, quase R$ 6 bilhões irão para os caminhoneiros, R$ 2 bilhões para os taxistas, R$ 2,5 bilhões para as empresas de ônibus manterem a isenção aos idosos e por aí vai. Mas por que os caminhoneiros terão esse benefício e o  brasileiro desempregado não? Por que fazer renúncia fiscal para baratear a gasolina e o álcool e mover os carros da classe média, quando milhares de brasileiros não têm sequer o que comer? Seria até razoável que esses benefícios fossem usados para baratear o diesel e o gás de cozinha, como vem sendo feito em vários países, mas a forma como está se generalizando a distribuição de benefícios e a renúncia fiscal no Brasil é irresponsável.

Sim, dirá o leitor, mas esses recursos vão permitir aumentar o Auxilio Brasil de  400,00 para  600,00 reais e beneficiar milhões de pessoas carentes. É verdade, e não há como ficar contra essa medida, mas ela só poderia ser adotada se fossem cortados os gastos supérfluos do governo federal, inclusive o orçamento secreto, para assim gerar recursos orçamentários.

O Auxílio Brasil de R$ 600,00 é uma necessidade para quem vive na extrema pobreza, mas deve ser adotado como política de longo prazo, como os programas de renda mínima que foram aplicados nos países ricos, e não como uma política de curto prazo que acaba em dezembro e vai dar o dinheiro agora para tomar com juros no início de 2023. Isso porque o rombo gerado nas contas públicas já está fazendo o dólar e a inflação aumentarem, já está gerando incerteza em toda a economia e vai obrigar o Banco Central a aumentar os juros muito mais do que já aumentou.

Estamos novamente frente a uma mentira eleitoral semelhante a de Collor, que prometeu dar um tiro na inflação e tirou a poupança de milhões de brasileiros, e igual a de Dilma Rousseff que prometeu comida no prato e crescimento econômico e no primeiro dia do segundo governo nomeou o ortodoxo economista Joaquim Levy  para o Ministério da Fazenda, para implantar uma recessão sem precedentes e tentar resolver o que a irresponsabilidade fiscal havia feito. Se o Brasil não abrir os olhos, o heterodoxo Paulo Guedes de hoje se transformará no ortodoxo Joaquim Levy de amanhã e tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.

A política econômica do Brasil de hoje é a mesma de muitos brasileiros que, endividados até a alma no cartão de crédito, continuam fazendo o pagamento mínimo sabendo que mais adiante a bomba vai estourar.

                                                      FORD PARK

 A Ford apresentou no início deste mês o seu novo Centro de Desenvolvimento e Tecnologia no Brasil, que ficará sediado em Camaçari em uma área fornecida pelo Senai Cimatec e que se chamará Ford Park. O centro mantém uma equipe de engenharia com  1,5 mil engenheiros e trabalha no desenvolvimento global de veículos da companhia americana. Vários projetos mundiais estão sendo tocados, como o desenho dos  veículos elétricos da Lincoln. É uma vantagem competitiva da Bahia e precisa ser explorado nas políticas públicas de atração de empresas. Aliás, a política de criação e atração de novas empresas da Bahia precisa estar acoplada às vantagens geradas pela existência do Senai Cimatec.

                                          A FIOL TEM DE CHEGAR EM GOIÁS

Desde 2016, afirmo aqui que é preciso mudar o destino final da Ferrovia Oeste Leste, que hoje está previsto para Figueirópolis,no Tocantins, para o estado de Goiás, de modo a haver a integração com a FICO –  Ferrovia de Integração Centro-Oeste, por onde escoará o grosso da produção brasileira de grãos, colhida nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Isso viabilizaria o escoamento dessa produção pelo Porto Sul ou pelos terminais da Bahia de Todos os Santos. A ligação entre Goiás e o Porto Sul tem um percurso de cerca de 1400 km, o que torna o ramal  extremamente competitivo em relação ao Porto de  Santos ou Paranaguá. O Ministério dos Transportes precisa rever o projeto.

Publicado no jornal A Tarde em 07/07/2022

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