Ainda sentindo reflexo da crise causada pelo coronavirus, o comércio baiana ainda apresenta um grande número de empresas inadimplentes. O número aumentou 4,3% em 2022, na comparação com o ano passado. Até março, 289.650 micro e pequenas empresas estavam no vermelho, e os setores de serviço e de comércio são os mais afetados. O Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, divulgado essa semana, apontou que 5,51 milhões de negócios estão endividados em todo o Brasil, e os especialistas estão pouco otimistas com o futuro.
Diante desse cenário, não teve outro jeito: Cleide precisou buscar outras alternativas para garantir a sobrevivência do seu negócio. “Encontrei outra atividade para complementar a renda e abri uma empresa de entrega de quentinhas em parceria com uma amiga doceira que também foi prejudicada pela pandemia”. Pela manhã, as duas trabalham no Rango das Meninas (@rangodasmeninasofc) e, à tarde, se dedicam aos seus negócios individuais.
Segundo a pesquisa, o crescimento da instabilidade econômica foi provocado por uma sucessão de acontecimentos desastrosos. Primeiro, surgiu o vírus que arrastou o mundo para uma crise financeira. Depois, a inflação disparou, o poder de compra do consumidor diminuiu e o desemprego aumentou. E, em seguida, houve o reajuste nas taxas de juros.
No início do mês, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic de 11,75% para 12,75% ao ano. Esse foi o décimo aumento seguido da taxa básica de juros da economia. Isso sem contar o fato de que o Brasil alcançou a maior inflação dos últimos 26 anos em um mês de abril, quando o índice chegou a 1,06%. Em 12 meses, os preços subiram, em média, 12,13%.
Professora de Administração da Unifacs, especializada em empreendedorismo e estratégia empresarial, Luciana Buck, destaca que o aumento da inadimplência no país não foi uma surpresa: “Não surpreende porque foram dois anos de pandemia, em que alguns setores ficaram até 12 meses sem funcionar. No caso da Bahia, foram dois anos sem carnaval, o que causou impacto direto nas áreas de serviço e comércio. Muitas empresas que pegaram financiamento para sobreviver nesse período, agora estão tendo que fazer lucro para conseguir pagar, mas o poder de compra das famílias ainda está baixo”, analisa.
Os setores mais prejudicados são os de serviço, que tem 2,8 milhões de inadimplentes, e comércio, com 2,2 milhões de endividados. Em seguida, aparece a indústria 446 mil e outros segmentos somam juntos 28 mil micro e pequenas empresas no vermelho. O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, pontua que cerca de 4 mil lojas fecharam as portas durante a pandemia e que 15 mil empregos foram perdidos. Ele reclama dos juros, mas garante que está otimista.
“O reajuste de taxas como a Selic impacta diretamente nos setores de bens duráveis, aqueles que usam muito do crédito como móveis, eletrodomésticos etc. Então, isso atrapalha o crescimento. Mas acreditamos que teremos uma melhor recuperação no segundo semestre deste ano, e esperamos que no último trimestre a gente consiga atingir o patamar de antes da pandemia”.
Dividas de tributos, dívidas financeiras de tomada de credito, contratos com fornecedores e funcionários. O economista e educador financeiro, Edísio Freire, afirma que estas são as principais despesas que tiram o sono do empreendedor endividado. Assim como nas finanças pessoais, muitos negócios acabam operando sem reserva de emergência para momentos de crise.
“Aquelas empresas que tinham essa reserva conseguiram superar os efeitos de forma um pouco melhor, mas a grande maioria não teve isso. Sem economia girando, consumo e renda, inevitavelmente, as empresas se endividaram. As empresas que continuaram funcionando elevaram muito seu nível de endividamento com essa redução drástica na receita”.
O conselho é reorganizar os números, entender qual é a real situação da empresa e trazer os elementos do endividamento para mesa. “E a partir daí, comece a traçar um plano dentro da capacidade financeira de operação do negócio para ir sanando essas dívidas. Busque acordos com fornecedores, instituições financeiras, aproveite linhas de parcelamento para tributos e vá diluindo essa dívida para tentar manter a empresa ativa”, orienta. (Correio)
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