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PALACETE DAS ARTES PRORROGA MOSTRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Redação - 19/05/2022 15:00 - Atualizado 19/05/2022

Depois de alcançar a marca de seis mil visitações desde a sua abertura, ocorrida em 29 de março, a exposição “2022: um recorte da produção diversa e contemporânea na Bahia” continuará em cartaz na Sala de Arte Contemporânea Mario Cravo Jr, no Palacete das Artes, até o dia 18 de junho. Com curadoria de Murilo Ribeiro, a mostra reúne 60 obras de 22 artistas baianos, e se destaca pela diversidade de estilos, tendências e gerações representadas. A visitação acontece de sempre de terça a sábado, das 13h às 18h, e é obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação.

A mostra é bastante plural e reúne desde artistas consagrados, até artistas em início de carreira, como Bernardo Ribeiro Tochilovsky, que já apresenta unidade em sua produção e tem grande perspectiva de crescimento. Desde artistas já conhecidos pelo público, até artistas pouco conhecidos, como Félix Sampaio, que apesar de ter obras espalhadas pela Bahia e pelo mundo, incluindo os dois maiores monumentos religiosos do estado – o Cristo de Esplanada e o Jesus de Nazaré – ainda é pouco conhecido pelo público soteropolitano.

“Foi muito gratificante também sentir que os artistas estavam sedentos por esse encontro, que gostaram de participar, e a receptividade não podia ser melhor, pois aos poucos o público está voltando ao museu”, destacou o curador Murilo, comemorando a marca de duas mil pessoas visitando o Palacete das Artes no final de semana. Ele enfatizou também “a efervescência cultural muito grande nesta retomada”, citando outras exposições que estão acontecendo na cidade, como a exposição “As Bacantes”, do artista plástico baiano Israel Kislansky, também no Palacete; “Encruzilhada”, no Museu de Arte Moderna (MAM-Bahia); e “ComparTRILHAmentos Poéticos”, da artista Viga Gordilho, no Museu de Arte da Bahia (MAB).

Arte metafísica – Entre os 22 artistas que fazem parte da mostra “2022: um recorte da produção diversa e contemporânea na Bahia”, está Raimundo Bida. Natural da cidade de Nazaré, ele é especialista em Arte Naïf, e suas obras são caracterizados pela presença de personagens regionais do nordeste Brasileiro, a cultura local, o caráter musical, religioso, a família e o viver em comunidade; além do marcante azul profundo e do contraste de luz, em rasgos e fachos, que o artista chama de “janelas”.

Das quatro obras de Bida expostas na mostra, duas delas prestam uma homenagem aos seus pais, grandes incentivadores de sua trajetória artística. Graças a sua mãe, depois de mais de 30 anos de arte e de 80 exposições pelo mundo, ele decidiu realizar o sonho de entrar para a Escola de Belas Artes da UFBa, onde concluiu o curso em 2015. Bida confessa que ainda não pegou o diploma, mas, para quem já adentrou à faculdade consagrado como artista, o título é pura formalidade.

Nas obras, ele aparece ao lado dos pais, sendo desenhado e pitando por eles, ainda em fase de esboço, além de trazer outras referências familiares, como a quartinha de arruda de sua mãe rezadeira, o candeeiro que iluminava a casa em sua infância e o relicário que guarda a jóia mais rara, a sua ancestralidade negríndia. “O cinza é chamado na técnica acadêmica de grisalha, que é a volumetria que você dá à anatomia humana para depois você encarnar o personagem, então, eu uso essa brincadeira o academicismo para falar do processo de construção que minha mãe imprimiu em mim”, explicou Bida.

Já as outras duas obras foram pintadas nos Estados Unidos, em 2019, quando ele realizou exposições em Nova Iorque e Whashington. Uma delas faz uma homenagem à Nelson Mandela,”Madiba, mensageiro da paz e da justiça”, onde ele aparece sentado em um trono real, ao lado de um dos maiores símbolos da África, um leão, e envolto pelas energias de dois orixás, Oxalá e Xangô. Na mão de Mandela, uma flor que simboliza a doçura que existia por trás de sua força, e a busca pela revolução através da paz e do amor entre as pessoas.

A quarta peça exposta, intitulada “A Rainha e a Deusa”, retrata uma artista que Bida conheceu nos Estados Unidos, também envolta por sua ancestralidade representada por Oyá ou Iansã, a deusa guerreira. Influenciado pela arte metafísica, ele pinta um véu de luz e energia que as envolve e, em certo momento, as fundem. “Você não sabe o que é primeiro plano, o que é segundo plano, o que é material, o que é imaterial, isso é a beleza da arte metafísica contemporânea”, disse Bida explicando que para além do estético, ele pinta a alma.

Arte de (para) sobreviver – Outro artista veterano presente na mostra é Miguel Cordeiro, um dos pioneiros do Graffiti e Street Art no Brasil, que despontou na cena cultural em 1979 através dos grafites urbanos de Faustino, personagem que espalhou suas inquietações nos muros de Salvador e outras cidades. Influenciado pela Arte Pop, o Rock, as histórias em quadrinhos e os livros de escritores ligados ao movimento da Contracultura, o artista mescla variadas técnicas em seus trabalhos, que transitam entre a pintura, o desenho, a colagem e a construção de objetos.

As quatro obras de Miguel expostas no Palacete são telas produzidas durante o isolamento social imposto pela pandemia, em tinta acrílica e técnica mista, com tinta a óleo, em spray, e colagens. As peças não possuem uma temática específica, e são resultado de estudos e experimentações do artista, que buscava em seu ateliê o oxigênio tirado pela realidade sufocante. Apesar do aparente caos e confusão das obras, feitas de rasgos, fragmentos aleatórios, sobreposições de símbolos e signos, há uma certa tranquilidade e delicadeza nas cores e formas.

“A gente foi bombardeado com um turbilhão de informações sobre desespero, sobre o fim, e eu decidi trabalhar em cima de coisas contrárias a tudo aquilo, usei o caos para buscar um alívio”, explicou Miguel, defendendo que a força da arte está em sua capacidade de captar e registrar os humores do tempo, o espírito do momento vivido pelo artista e pela história.

Não só as obras registram esse momento, mas o próprio processo criativo desenvolvido pelo artista durante a pandemia. Miguel conta que trabalhava pequenos pedaços e fragmentos do cotidiano, criados em dias diferentes, e sob a influência de diferentes pensamentos e sentimentos, marca da instabilidade dos tempos pandêmicos. Depois, ele tentava organizar os caos daqueles fragmentos aleatórios, buscando combinações, harmonias e soluções para criar uma obra. Ele explica que, embora este seja um trabalho cerebral, ele deixava a emoção superar o racional, assim como a improvisação dos contextos de cada fragmento.

Assim, enquanto Miguel buscava encontrar uma solução para o caos de sua arte, ele buscava também, internamente, uma solução para a trágica realidade.

Além de Raimundo Bida e Miguel Cordeiro, também fazem parte da mostra outros 20 artistas baianos: Ana Castro, Bernardo Ribeiro Tochilovsky, Chico Mazzoni, Fatima Tosca, Félix Sampaio, Gabriela Joau, Gil Mário, Guache Marques, Guel Silveira, Grace Gradin, Juraci Dórea, Leonel Mattos, Márcia Magno, Menelaw Sete, Ramiro Bernabó, Salomão Zalcbergas, Sara Victoria, Vauluizo Bezerra, Waldo Robatto e Washington Arléo.

O Palacete das Artes é um equipamento vinculado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia/Secretaria de Cultura da Bahia. Mais informações no telefone 71 3117 6987.

Foto: Lucas Rosário/ Divulgação

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