O processo de ocupação desordenada associado ao volume acima do esperado de chuvas têm provocado desastres naturais em diversas regiões do Brasil, levando o governo baiano a colocar em prática, nos últimos anos um amplo programa de investimentos em obras estruturantes, viabilizadas por meio Conder – Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia. Mais de R$ 700 milhões foram destinados para a execução de contenção de encostas e macrodrenagem em Salvador e RMS.
Entre os locais com obras de estabilização em áreas de risco já entregues estão os bairros do Subúrbio Ferroviário e do miolo da capital, como Cajazeiras, Itacaranha, Liberdade, Ilha Amarela, Lobato, Alto da Terezinha, Pau da Lima, São Caetano, Cana Brava, Vila Canária e Paripe, entre outros. Na Liberdade está localizada a maior contenção de encosta já realizada na Bahia, a da Rua São José, com 20 mil metros quadrados, equivalente a três campos de futebol. Com investimento de R$ 20 milhões, a sua construção representa segurança para cerca de duas mil famílias que vivem na área. Entre elas do sócio-educador Davi Sobral Reis, morador da região há mais de 30 anos.
Para ele, desde 2020, quando a contenção foi concluída e entregue, tem sido possível dormir e acordar com tranquilidade. “Antes da obra era um Deus nos acuda. Ninguém conseguia ficar em paz e nem sabia se ainda estaria vivo depois da chuva, com o risco desse paredão desabar. Já ajudei muitas famílias que tiveram suas casas destruídas com desabamentos e deslizamentos de terra. Sem falar nas mortes que já aconteceram também por aqui”, lembra. “Se essa contenção não tivesse sido realizada, acredito que nada estaria em pé aqui com essa chuva que vem castigando Salvador nos últimos dias. Estamos aliviados”, ressalta.
Já no bairro de São Caetano, o Governo da Bahia entregou no último mês de março duas contenções de encostas: nas ruas Fonte do Capim e Fonte da Bica de Schindler. O técnico do trabalho Eliel de Jesus Azevedo relata o medo dos moradores de acontecer alguma tragédia quando chovia. “Além da grande quantidade de água, era muita lama que descia da encosta e invadia as casas, causando muitos prejuízos também com a perda de móveis e eletrodomésticos”.
Integrante da Associação de Moradores da Fonte da Bica de Schindler, Eliel recorda que em 2020, em plena pandemia do Covid-19, mesmo com a preocupação da contaminação pelo vírus, as famílias se mobilizaram para socorrer os vizinhos. “A contenção eliminou por completo os problemas constantes de deslizamentos de terra. Nos trouxe tranquilidade”. Nesta rua foi utilizada a técnica de solo grampeado com face em concreto projetado. Com recursos de R$ 7 milhões, também foram realizados serviço de drenagem, passeio em concreto, implantação de corrimão metálico e outras melhorias urbanas.
Soluções Definitivas
De acordo com o presidente da Conder, José Trindade, quando se trata de preservar vidas, a solução tem que ser definitiva. Ele destaca que a atuação da companhia estadual na capital se concentra em 116 pontos de risco alto e muito alto, com o objetivo de levar não só segurança, como mais qualidade de vida para a população, com a execução de serviços complementares de drenagem, acessibilidade e implantação de equipamentos comunitários, como, por exemplo, praças e parques infantis.
Trindade explica que ao contrário de ações paliativas, como o uso de mantas de concreto – conhecidas como geomantas – geralmente utilizadas em situação de emergência, a Conder realiza as intervenções após um estudo detalhado do solo de cada área de risco, que aponta a técnica mais adequada. “Já concluímos as obras em 84 áreas de risco, estabilizando as encostas com a utilização de soluções consagradas na engenharia, principalmente, o solo grampeado que consiste, basicamente, no uso de elementos chumbadores enterrados e revestimento em concreto; e a cortina atirantada, com a contenção do talude combinando uma estrutura em concreto armado com a injeção de tirantes, que são barras de aço”.
Em outras áreas ocupadas de forma precária nas bacias dos rios Jaguaribe/Mangabeira, Cobre e Ipitanga/Joanes, nos municípios de Salvador e Lauro de Freitas, o trabalho tem como foco minimizar o sofrimento de famílias que por muito tempo viram seus sonhos serem levados, literalmente, pela água com as cheias nos períodos de chuvas mais intensas. As obras já foram concluídas em diversos trechos dos rios, contemplando desde os serviços de implantação de bacias de contenção e canalização, até o desassoreamento, aprofundamento das calhas, proteção das margens e a construção de equipamentos comunitários que estimulam o convívio social, o lazer e a prática esportiva, como campos de futebol, quadras poliesportivas, ciclovias e equipamentos de ginástica. Além disso, diversas ações sociais de capacitação, formação profissional e empreendedorismo estão em curso, com projetos desenvolvidos de acordo com as demandas apresentadas e a realidade socioeconômica, histórica e cultural das famílias.
José Trindade ressalta que além do extenso cronograma de trabalho na capital baiana, graças à gestão eficiente e à responsabilidade fiscal, muitas ações estão sendo desenvolvidas em parceria com os municípios para estender os benefícios para outras regiões do Estado, que tiveram prejuízos com as enchentes. “Pela sensibilidade e a origem do governador Rui Costa, a orientação que temos é não medir esforços para tirar do papel o máximo de obras de contenção de encostas, construção de unidades habitacionais e urbanização, que significam dignidade e melhores condições de vida para quem mais precisa”, afirma.
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