Quando a chuva se acumula por dias, as sirenes de alerta da Defesa Civil de Salvador (Codesal) começam a soar e as residências não são mais seguras para as famílias soteropolitanas, com escolas e creches virando portos seguros para moradores de áreas de risco. Dessa vez não é diferente. Desde o começo da semana, por conta do aguaceiro na capital, centenas de pessoas deixaram suas casas em localidades com alerta máximo rumo aos abrigos.
Até o início da noite de terça-feira (19), 102 famílias, que totalizam 257 pessoas, foram encaminhadas para abrigos em escolas e creches da rede municipal nas comunidades de Vila Picasso (Capelinha de São Caetano), Voluntários da Pátria (Lobato), Baixa do Cacau (São Caetano) e Mamede (Alto da Terezinha). Entre os desabrigados ouvidos pela reportagem, um ponto em comum: ninguém estava ali pela primeira vez. Em dias de fortes chuvas, sair de casa para se proteger já virou uma rotina.
Moradora do Lobato, Elisangela Freitas, 32 anos, deixou a residência assim que ouviu as sirenes. Com os três filhos de um lado e o marido do outro, foi até a Escola Municipal Eufrosina Miranda, onde está com outras 46 famílias. “O pessoal se conhece aqui porque não é a primeira vez. Toda vez que a sirene toca, as mesmas pessoas vêm para cá. E ficamos aqui até que chuva passe e não tenha risco da terra descer o morro para cima de nossas casas”.
No alojamento, Elisangela diz que pelo menos pode dormir tranquila, sem temer o pior. “Moro na ponta da encosta, se deslizar somos os primeiros em perigo. Não dá para dormir assim e deixar meus filhos nessa situação. A escola é nosso porto seguro”. Ivonice Paixão, 40, tem dois filhos pequenos, um com 11 e outro com 7. Na hora que ouviu as sirenes na segunda-feira pela manhã, não titubeou e correu para o colégio que abriga quem mora no Lobato. “Entrei em pânico com duas crianças dentro de casa. Saí do jeito que estava para garantir que eles ficassem seguros. Aqui, fomos acolhidos e temos companhia. No meio disso tudo, eles têm com quem brincar e é bom que não percebem o tanto que é difícil o que estamos vivendo”, lamenta.
Outra que encontrou segurança em abrigos foi a doméstica Maria Costa, 34 anos. Moradora de Capelinha de São Caetano, ela está na Creche Mosa Berbet com o filho, o marido e outras oito famílias. “Sempre que chove estamos aqui. É fundamental para nos dar o que mais precisamos nesse momento, que é a segurança. Poder dormir sem medo da casa cair em cima da gente”.
Volume surpreende
Apesar de ser um dos meses mais chuvosos em Salvador, abril superou o previsto. Segundo o prefeito Bruno Reis, já choveu 113% do que era esperado para o mês inteiro. “O problema é que o acumulo de chuvas vai provocando uma pressão sobre o maciço, mas a cidade está mais preparada. Não existe imunidade para a chuva. Vocês jamais vão me ouvir falar que somos imunes à chuva, não há cidade no mundo que resista a tanta chuva”, diz o prefeito.
Ainda de acordo com ele, o investimento em tecnologia contribui para evitar tragédias com vítimas. “Casa deslizando, morro deslizando, tudo isso ficou no passado. Fizemos investimento em tecnologia para salvar vidas e podemos hoje prever com antecedência os fenômenos meteorológicos”, explicou. O gestor ressaltou a importância do sistema de alerta e alarme que possui 11 pontos na cidade. Até terça, por exemplo, oito sirenes foram acionadas para que as pessoas deixassem casas localizadas em áreas de risco.
Sirene A orientação da Codesal aos moradores de área de risco onde houve acionamento da sirene é a saída imediata do imóvel, portando só a documentação mínima e remédios. Em seguida, essas pessoas são conduzidas aos abrigos organizados pela prefeitura em escolas municipais.
Previsão do tempo A Codesal informa que a previsão para quarta-feira é de céu nublado, com chuvas fracas a fortes a qualquer hora do dia. O órgão permanece de plantão 24 horas atendendo às solicitações pelo telefone gratuito 199. Travessia Pelo quarto dia consecutivo, a travessia Salvador-Mar Grande seguiu suspensa por causa das chuvas, que causam más condições de navegação na Baía de Todos-os-Santos. Até o momento, não há previsão de quando a travessia de lanchas entre a capital e a Ilha de Itaparica será retomada. Os passeios turísticos também estão suspensos.
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