Mario Mello*
Muita gente discute o papel da mulher e fala da necessidade de que elas estejam sempre em papéis de liderança. Mas a participação feminina, a despeito dos muitos movimentos, custa a se ampliar.
Esse é um tema que acompanho com grande interesse. Minha primeira chefe foi uma mulher e ela me ajudou a ampliar minha visão em torno da capacidade e competência feminina. Nas minhas equipes sempre busquei a homogeneidade no que se refere à quantidade de homens e mulheres.
Mas esses temas são discutidos apenas quando entram em voga por alguma razão, como no mês passado, quando se comemorou o Dia Internacional das Mulheres. Vejam as lideranças femininas nas famílias. Independente da renda, o papel da mulher na sociedade é fundamental.
A propósito das comemorações, vi uma pesquisa apontando que as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança no País, um dado que caiu um ponto porcentual em relação ao ano passado. É uma pesquisa realizada pela Grant Thornton e a minha expectativa era a de que esse índice pudesse ter subido.
Nos conselhos globais das grandes empresas a participação feminina está em 31%, como mostra o Gender-Equality Index (GEI) de 2022, da Bloomberg. Com recorde de empresas participantes, o levantamento mostrou que 72% das companhias possuem ao menos uma diretoria de Diversidade & Inclusão, um dado que me enche de esperanças em relação ao futuro.
O mesmo trabalho indica ainda que esse universo empresarial possui 39% de mulheres em cargos com salários considerados altos e 61% dessas companhias exigem uma lista de candidatos com diversidade de gênero para cargos de gestão. Na média, avaliou o pessoal da Bloomberg, 83% das companhias avaliadas têm uma estratégia para contratar mulheres e 66% fazem análises de remuneração por gênero.
Vejam que são vitórias importantes, avanços significativos.
Isso representa uma enorme evolução. Existir planos nesse sentido já é meio caminho andado. Me lembro quando uma professora de Stanford nos apresentou um case da orquestra filarmônica da Califórnia, que tinha no seu quadro 80% de homens. Tentaram várias fórmulas e não conseguiam a solução ideal que elevasse a participação feminina, pois a figura masculina sempre se destacava na preferência entre os que faziam a seleção. Surgiu então a ideia de fazer audições às cegas, com a pessoa atrás de uma cortina. O resultado foi uma harmoniosa composição entre homens e mulheres.
Estamos contratando talentos com ‘audições às cegas?’. Há no mercado como um todo ainda muito a ser feito nesse sentido. Alguns setores têm registrado avanço maior, mas as médias da economia ainda são ruins.
Viver num universo feminino me ajuda muito a ter essa compreensão e tenho em casa duas filhas e minha mulher. Essa supremacia feminina me ensina todos os dias que as mulheres agregam responsabilidade, capacidade e um equilíbrio maior em tudo que fazem. Viva as mulheres e todos os homens que estão passando a entender melhor esse universo, diverso e plural.
*Mario Mello é diretor Digital do Banco Safra