As vendas do comércio varejista de móveis e decoração tiveram uma queda de 31,3% na Bahia em janeiro, em comparação com o primeiro mês do ano passado. Diferentemente do que acontece no atacado, a venda do varejo é feita diretamente ao comprador final, em menores quantidades. Os dados são da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA). Outros seguimentos que também não tiveram bom desempenho foram o de material de construção (-11,1%) e eletroeletrônicos (-24,3%).
Se durante a fase mais dura da pandemia muitas pessoas, por ficarem mais tempo em casa, começaram a dar uma atenção maior ao lar, agora que o cenário epidemiológico está mais controlado e a crise econômica ainda não arrefeceu, as vendas do setor diminuíram. A arquiteta Mally Requião sentiu os impactos do aumento do consumo durante o período de maior restrição sanitária. “Lá no escritório tivemos um boom na pandemia, com muita gente reformando e comprando”. Apesar do cenário de queda, a profissional está otimista em relação às vendas. “Estamos tendo até escassez de materiais, mesmo com tudo muito mais caro”, diz.
Gilberto Cerqueira é dono da loja O Fazendão, que vende materiais de construção para o varejo. Trabalhando no setor há mais de 30 anos, ele conta que nunca presenciou um cenário tão difícil economicamente como o de agora. Segundo ele, de janeiro até março, as vendas do comércio caíram cerca de 30%. Com a alta dos combustíveis, o preço do frete também subiu R$ 80,00 por tonelada nas mercadorias vindas de São Paulo.
“A locomotiva dos aumentos é o combustível. Eu ainda estou segurando os preços porque tenho estoque. Mas as novas compras que eu fiz, quando chegarem, não tem jeito. Vão entrar no sistema com aumento e tem que repassar”, afirma.
O economista e consultor da Fecomércio, Guilherme Dietze, destaca que o aumento de preços acrescido de um crédito mais caro forma um cenário complicado para os setores que registraram queda, inclusive o de supermercados. “A medida em que as pessoas vão comprar uma geladeira ou fogão, por exemplo, estão pagando normalmente em 10 vezes e é preciso de crédito. A taxa de juros que estava ano passado em 2% ao ano, agora está em quase 12%, isso dificulta o acesso das famílias aos bens duráveis”, explica o economista. O setor supermercadista teve retração de 7,6%.
Apesar da queda no varejo dos materiais de construção, Alexandre Landim, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), explica que o setor da construção civil vai bem, mas há um receio de como a área deve evoluir no próximo ano, devido à alta de produtos. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, anunciou que vai aumentar o preço do aço em 20% a partir de abril.
“Não vemos ainda redução no volume de obras, porque estamos executando agora as vendas do ano passado. Houveram muitos contratos novos, lançamentos imobiliários, contratos de construção e obras públicas. Vamos sentir o reflexo da diminuição das obras no ano que vem e não neste ano”, destaca. (Correio)
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