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DELTACRON: HÁ MOTIVOS PARA ALERTA SOBRE A NOVA VARIANTE ?

Redação - 19/03/2022 18:00

A pandemia de covid-19 completou dois anos e, junto desse aniversário que ninguém gostaria de comemorar, veio também o anúncio do surgimento de uma nova variante do coronavírus: a Deltacron, que tem sido chamada informalmente dessa maneira por combinar características genéticas de outras duas versões do vírus – a Delta e a Ômicron. A existência dela foi confirmada na semana passada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A primeira evidência mais sólida dessa variante híbrida foi compartilhada pelo Instituto Pasteur, da França. Eles fizeram o sequenciamento genético completo do vírus para o GISAID, um banco de dados internacional que centraliza as sequências genéticas de todas as variantes do Sars-CoV-2. Desde então, a nova cepa já foi identificada em alguns países da Europa, como Bélgica, Alemanha, Dinamarca e Holanda. Mais recentemente, alguns casos de covid-19 relacionados à Deltacron também foram observados nos Estados Unidos e, desde o início desta semana, estão em investigação no Brasil.

O Ministério da Saúde havia confirmado, na manhã da última terça-feira (15), dois diagnósticos da nova variante, ambos na região Norte do país. No entanto, após análise feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), nesta sexta-feira (18), a pasta descartou um possível caso de Deltacron na cidade de Santana, no Amapá. Segundo informações do jornal O Globo, o caso se trata, na realidade, de uma coinfecção das variantes Delta e Ômicron. Já a suspeita na cidade de Afuá, no Pará, segue em investigação.

Diante da possibilidade de a Deltacron estar entre nós, brasileiros, a CRESCER conversou com especialistas para entender os riscos que essa nova variante híbrida poderia oferecer para crianças, jovens, gestantes e adultos. Confira!

É motivo para preocupação?

Durante coletiva de imprensa, a diretora técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, ponderou que, até o momento, não foi identificada nenhuma severidade maior da infecção pela Deltacron, mas que novas pesquisas e estudos ainda estão em andamento.

A coordenadora da infectologia do Grupo Santa Joana, Rosana Richtmann, esclareceu que, hoje, essa nova variante é considerada como de “interesse”. “Ela ainda não foi classificada como ‘de preocupação’ porque ainda não se mostrou com uma capacidade grande em termos de disseminação e nem em relação à virulência”, ressaltou a médica.

O infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também destacou que, por enquanto, não há evidências de que teremos problemas com a nova cepa – ao menos no curto prazo. “É pouco provável, em teoria, que uma variante que circule agora encontre um número de pessoas suscetíveis muito grande, porque, principalmente nos grandes países, onde muita gente está vacinada e muita gente acabou de ser infectada com a variante Ômicron, não há um acúmulo de suscetíveis suficiente para gerar uma nova onda”, explicou o especialista.

Vale lembrar que, nesta sexta-feira (18), a média móvel de mortes registrada nos últimos 7 dias foi de 322 – a menor desde 24 de janeiro (quando estava em 307). Eesses dados indicam tendência de queda nos óbitos decorrentes da covid-19, quando comparados à media de 14 dias atrás, conforme informou o consórcio de veículos de imprensa.

“Estamos numa descendente importante. Espera-se que a gente chegue aos patamares europeus e que, em função da chamada imunidade híbrida, ou seja, muita gente vacinada e muita gente recém-infectada, não haja espaço mais ou acúmulo de pessoas suscetíveis suficiente para que uma nova variante ressurja”, acrescentou Kfouri.

Apesar do cenário promissor, a infectologista do Grupo Santa Joana reforça que a vigilância quanto às novas cepas do coronavírus deve ser constante. “Tudo sobre essa nova variante ainda é bem precoce. Por isso, enquanto a gente ainda não conhece tudo sobre ela, eu manteria todas as medidas preventivas, não farmacológicas – não estou falando em ambiente aberto, porque nestes locais sou a favor, sim, da liberação das máscaras –, mas neste momento, em ambientes fechados, como escolas e transporte público, a gente deveria manter, sim, o uso da máscara”, recomendou Richtmann.

Imunização

Nunca é demais lembrar que outra medida essencial para combater o coronavírus é a vacinação. “Em relação aos adolescentes, o Brasil está fazendo um trabalho muito interessante, em especial o estado de São Paulo e ainda mais o município de São Paulo, que conseguiu a façanha de 100% de vacinação dos jovens de 12 a 17 anos”, lembrou a especialista. E por que isso é importante por causa da Deltracron? “Porque sabemos que a vacinação para essas variantes – com a vacina que a gente já conhece e tem utilizado – ela não deve fugir da resposta imunológica”, explicou.

Já a vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 aos 11 anos de idade, que representam 9,5% da população brasileira, é o principal desafio do Brasil, de acordo com a Nota Técnica Diferenciais de Cobertura Vacinal Segundo Grupos Etários no Brasil, divulgada na ultima quarta-feira (16), pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nesse grupo, 60,7% ainda não tomaram a primeira dose da vacina – e apenas 4,7% do público infantil recebeu as duas doses do imunizante. “Devemos ter uma comunicação muito clara no sentido de acelerar a realização da segunda dose nessa população específica”, orientou Richtmann.

O mesmo vale para as gestantes. Quanto ao melhor período para vacinar, a infectologista ressaltou: “qualquer momento da gestação”. “Não se deve esperar hora nenhuma. Os recém-nascidos não costumam ter doença grave. Nossa preocupação é o óbito fetal, o abortamento e a morte materna. A Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) recomenda vacinar em qualquer período da gestação. O ideal é que elas façam a primeira, a segunda e a dose de reforço independentemente do estágio gestacional”, finalizou.

Foto: divulgação

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