A produção industrial na Bahia caiu 13,2%, em 2021. Os analistas afirmam que foi resultado do fechamento da Ford, já que a fabricação de veículos caiu quase 100%. É verdade que o encerramento brusco de uma empresa do porte da Ford tem impacto na produção, no mercado de trabalho e na arrecadação de impostos, mas o problema da indústria baiana tem outra dimensão, até porque a produção de veículos representava apenas de 5% ou menos do PIB industrial da Bahia. E tanto é assim, que em 2020 a indústria registrou uma queda de 5,3% e em 2019, com Ford e sem pandemia, a queda na produção industrial foi de 2,3%, segundo dados da SEI.
O que está acontecendo na economia baiana é um processo de desindustrialização, que está ocorrendo em todo o Brasil, mas aqui, por conta de fatores específicos, vem se dando de forma mais acelerada. Esse processo de desindustrialização tem várias explicações e pode-se incluir aí a tendência crescente da economia baiana de especialização na produção de commodities; a redução na produção de derivados de petróleo, que representa cerca de 30% do PIB industrial; a perda de competitividade da indústria petroquímica; e a falta de uma política industrial mais ativa.
Aliás, o Brasil deixou de ter política industrial, tanto é assim que o Ministério da Indústria e Comércio foi extinto e a política de incentivo industrial desbaratada. Curiosamente, o Ministério da Agricultura, cuja produção é muito menor que o segmento industrial – ou igual se considerado o agronegócio – continua poderosíssimo, mostrando que o lobby dos produtores agrícolas é muito mais forte que o lobby da indústria. Essa falta de política industrial resulta em absurdos como o fim Regime Especial da Indústria Química (Reiq) que havia sido negociado para terminar em 2025, mas o governo resolveu acabar abruptamente com o subsídio, fundamental para a indústria química brasileira e , mais ainda, para manter a competitividade da indústria petroquímica da Bahia.
Felizmente, em 2022, a indústria baiana deve registrar recuperação, não só pelo efeito estatístico, já que a produção será comparada com a produção deprimida de 2021, mas também pela retomada da Fafen, maior fábrica de fertilizantes do Brasil, e o retorno da produção plena da Refinaria de Mataripe, que antes de ser privatizada trabalhava com capacidade ociosa de cerca de 40%. Isso, no entanto, não resolve a questão e aqui é preciso a mobilização do segmento industrial baiano e nacional não só no sentido do país voltar a ter uma política industrial, como também de recuperar a importância política do setor. E no âmbito estadual é preciso estimular mais ainda o estímulo à industrialização e ampliar a parceria com o Senai/Cimatec, que é, por si só, uma vantagem comparativa da Bahia.
QUEM VAI FICAR NO LUGAR DA FORD?
O governador Rui Costa está comandando pessoalmente as negociações para trazer uma grande empresa para ocupar o site da Ford. Fontes extra oficiais, afirmam que uma empresa asiática já discute os detalhes. Outras fontes garantem que a negociação é com uma fábrica multimarcas, do tipo da que existe na Coréia do Sul, em Ulsan, que possui plataformas para a produção de 5 tipos de veículos. Há possibilidades de êxito, pois o site está pronto, existe mão-de-obra especializada e treinada pela Ford e um centro de engenharia com mais de mil engenheiros especializados em novos projetos. Sem falar no porto exclusivo para a empresa exportar seus carros e nos incentivos que o governo está disposto a viabilizar.
O DESEMPENHO DOS SHOPPINGS
O ano de 2021 foi de recuperação para os shoppings centers da Bahia, mas o faturamento global ainda foi 7% menor do que em 2019. No entanto, no segundo semestre do ano, as vendas voltaram ao patamar pré-pandemia, superando o volume do mesmo período de 2021. Segundo Edson Piaggio, presidente da Abrasce – Ba, isso mostra a resiliência do setor formado em sua maioria por pequenas empresas e que passou seis meses fechado em 2020. Piaggio diz ainda que a taxa de vacância é inferior a 10%, pois as lojas que fecharam foram substituídas por outras. Mas a previsão para 2022 é de desempenho inferior a 2021, por conta da incerteza do ano eleitoral, da inflação e da taxa de juros alta.