Desde o dia 01/01/2022 começou a ser consumido em vários estados do Nordeste o gás extraído do Pré-sal brasileiro, uma das maiores reservas de petróleo e gás natural (GN) do mundo. Situado a cerca de 300 km da costa, na Bacia de Santos, a produção do Pré-sal,oriunda de 128 poços com profundeza que rodeia 5.000 m, supera 2 milhões de barris por dia de petróleo e se aproxima de 90 milhões de m3 por dia de GN, correspondente a mais de 73% do total produzido no Brasil. Foram construídas três linhas de ligação com o continente (Rotas 1, 2 e 3) e mais três estão projetadas.Farão o transporte do gás rico em metano e descontaminado de impurezas como o gás carbônico.
Essa importante matéria-prima, também combustível limpo na geração de calor e eletricidade, chega com duas novidades. Primeiro, ele é transportado integralmente por dutos da Rota 2, percorrendo 411 km pelo fundo do mar e chegando a Macaé (RJ).Aí deverá abastecer a usina termelétrica Marlim Azul, seguindo por gasoduto para o Nordeste em transferência inovadora. Depois, a venda está sendo feita por empresa privada, a anglo-holandesa Shell, segunda maior produtora de petróleo e gás natural do país, atrás apenas da Petrobras,inaugurando o mercado de consumidor livre e quebrando o monopólio estatalcomGN de sua própria extração.
Para realizar tal suprimento a Shell celebrou contrato com a Unigel Agro para abastecimento das fábricas de fertilizantes nitrogenados de Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE) e com as companhias distribuidoras de GN Bahiagás (BA), Copergás (PE), Potigás (RN), Cegás (CE) e as termelétricas Termopernambuco (PE) e Portocem (CE). O transporte do GN de Macaé até a porta dos consumidores será realizado através dosgasodutos da Transportadora Associada de Gás (TAG), que adquiriu parte dos dutos construídos pela Petrobras, e de empresas distribuidoras estaduais.
O GN é uma importante matéria-prima para a fabricação do gás de síntese (CO + H2), precursor na manufatura de várias substâncias intermediárias da indústria química, de aproximadamente 30 produtos químicos e petroquímicos, destacando-se entre eles a amônia e ureia, que comandam a cadeia de fertilizantes nitrogenados, e o metanol com vários produtos derivados.Na produçãodo biodiesel automotivo,este álcool éconsumido na transesterificação dos óleos vegetais e gordura animal. Na Bahia,o GN poderá ressuscitar a aciaria da Usiba-Gerdau, que usava o gás de síntese na redução direta, e a Metanor, fabricante de metanol. Tudo isso terá continuidade se for mantido preço mais em conta, competindo com o que é importado da Bolívia e com o Gás Natural Liquefeito (GNL) vindo dos Estados Unidos e países da África e Ásia.
As companhias distribuidoras de gás do Nordeste têm assim o insumo que faltava com abundância para atender ao mercado doméstico substituindo o gás de botijão (butano) por metano mais barato e mais limpo, nas residências, hospitais, casas de saúde e demais consumidores urbanos e rurais, e abastecendo os fabricantes de alimentos (padarias, biscoiteiras, lanchonetes, restaurantes) e contribuindo para a redução de poluidores do ar,inclusive coibindo o consumo de lenha, agressivo no desmatamento e lançador de grande volume de gás carbônico na atmosfera.
A produção de GN na Bahia remonta aos anos 1950, quando atraiu os americanos da Lone Star Corporation para instalação da fábrica de Cimento Aratu e a Petrobras no projeto do Conjunto Petroquímico da Bahia (COPEB), precursor do polo Petroquímico de Camaçari.A produção atual de GN no Nordeste é de pouco mais de 14 milhões de m3/dia, liderada pela do Maranhão, de 8 milhões de m3/dia, que o usa na geração de eletricidade, e 5,6 milhões de m3/dia da Bahia, sendo que destes 3,2 milhões são extraídos do Campo de Manati, Bacia de Camamu,em fase de exaustão.
Por tudo isso que aqui escrevi sobre o bem-vindo gás natural, não se pode deixar de incluí-lo entre as coisas boas que tanto desejamos e que pedimos nas mensagens de fim de ano. Que ele venha como anunciado, farto, limpo, bom e barato, trazendo melhorias ao funcionamento de nossas cidades e se junte aos outros atrativos de bons negócios promotores de riquezas e geradores de empregos.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]