domingo, 28 de abril de 2024
Euro 5.5474 Dólar 5.1673

ENTREVISTA COM ARMANDO AVENA SOBRE O LIVRO “OS 7 VOCÁBULOS”

Redação - 21/12/2021 10:55 - Atualizado 21/12/2021

P: De onde saiu a inspiração para este livro? De vários casos conhecidos pelos leitores mais aprofundados ou de algum específico?

R: A inspiração veio um pouco da minha experiência como escritor e, aliás, esse livro tem muita a ver com a minha história. Nele relato muitos casos que ouvi e que ficaram na minha imaginação. E crio personagens diferentes, como a “casa”, que retrata o lugar em que vivi por muitos anos, e o cão, que tem um papel importante no enredo. Os personagens principais, no entanto, são o escritor e seu editor e são personagens fictícios.

P: O livro é um romance sobre a relação entre um escritor e um editor fictício ou um apanhado de casos sobre essa relação por vezes conflituosa?

R: Sim, o tema central do livro é a relação entre um escritor que almeja o reconhecimento e um editor em busca de um best-seller. A relação entre o autor e o editor é muitas vezes conflituosa, pois, embora não se possa generalizar, os dois têm objetivos muitas vezes conflitantes. Mas a intenção do texto não é atacar os editores, afinal, conheci editores maravilhosos, como Ênio Silveira e outros, e meu editor atual que tem muita sensibilidade.  Mas há também os pareceristas e editores que só pensam no mercado. Na verdade ambos precisam um do outro: Aquiles só existiu graças a Homero e Homero só existe graças aqueles que divulgaram suas histórias. Não há, portanto, razão  para  demonizar os editores, a não ser que isto resulte…em uma boa história.  E essa história começa com um pacto demoníaco que o escritor faz com seu editor e que pode resultar em morte e daí surge uma série de histórias.

P: No release lemos que “o leitor não saberá exatamente se estará lendo um livro de contos, um romance, uma peça de teatro, ou talvez, que esteja lendo tudo isso em uma história diferente”. A narrativa assume diversas formas ao longo de seu desenvolvimento, é isso? Pode detalhar?

R: No livro, o escritor faz um pacto com o editor e, à semelhança do Fausto de Goethe, percebe que está vendendo sua alma. Então, à medida que a trama se desenvolve, ele vai se rebelando e surpreendendo o editor. Faz isso de várias maneiras e o leitor não saberá exatamente o que está lendo, mas não conseguirá parar de ler. Por mais que precise do editor, o escritor é quem cria – ele é o deus da criação, ainda que rodeado de demônios – e tem ao seu dispor o tema, os personagens e a forma da narrativa. E é assim que ele vai enfrentar o editor e o mercado.

P: O tema da escravidão, que o senhor abordou em Luiza Mahin, está bastante em voga no mercado literário no momento, com autores como Laurentino Gomes (trilogia Escravidão) e Fernando Granato (Bahia de Todos os Negros) lançando livros bem avaliados sobre o assunto. Seu livro sobre Luiza Mahin, uma ficção histórica, dialoga de alguma forma com estas obras e este momento? O senhor pretende voltar ao assunto em algum outro livro?

R: Sim, dialoga inteiramente. Luiza Mahin é um personagem que me deu enorme prazer em criar, pois ela é a imagem viva da luta contra o racismo e a escravidão e, principalmente, e, acima de tudo, representa a luta pela libertação da mulher. Luiza representa não só a mulher negra, mas a mulher no sentido amplo, livre em seu desejo, em seu querer e em seu pensar. E minha Luiza tem muito da Bahia, tem a alegria da terra e a vontade de amar e sua luta não a impede de amar, dançar e fazer sexo com quem seu desejo escolher. É, de certa forma,  a mesma temática do Evangelho Segundo Maria, em que é também mulher o centro de tudo. É  a história mais contada de todos os tempos, mas  jamais foi contada pela perspectiva feminina. Esse é um tema que me encanta, uma história contada por uma mulher é completamente diferente da mesma história contada por um homem e, certamente, eu vou voltar a esse tema.

P:Por favor, acrescente o que o senhor acha importante dizer sobre seu novo livro e eu não perguntei.

R: “Os 7 Vocábulos” é um livro sobre o fazer literatura e a literatura é feita, não importa em qual a plataforma, com palavras. E como diz o protagonista da história: “as palavras são o meu ofício, posso entortá-las num romance, embaralhá-las num conto ou aprisioná-las em um poema”.

Publicado no jornal A Tarde e na Tribana da Bahia

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.