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OS 7 VOCÁBULOS – POR ARMANDO AVENA

Redação - 04/12/2021 08:50 - Atualizado 09/01/2022

Durante muito tempo vivi em uma casa assombrada pela literatura. Era uma casa ampla, nos arrabaldes do bairro de Piatã, onde havia livros por toda à parte e uma praça cuja sombra do chorão banhava um banco de madeira e criava um lugar perfeito para a leitura. Foi ali que escrevi meu primeiro romance, intitulado “O Afilhado de Gabo”, uma homenagem ao realismo fantástico que grassava na América Latina, mas também à  literatura gótica, que foi minha companheira na adolescência.

E, dado a devaneios literários, sempre tive a impressão de que a casa tirava dos seus escaninhos ideias que penduravam-se nos trapézios do meu cérebro a dizer: “decifra-me ou te devoro”. Um dia fiz um poema homenageando a casa, mas achei que isso não lhe bastava, ela não queria ser apenas o tema, queria ser o autor. Certo dia, Núbia, minha esposa, resolveu escrever versos nos muros da casa, em espaços onde a hera ainda não cobria.

E começou com Bilac:  Ora (direis) ouvir estrelas! Certo/ Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto/ Que, para ouvi-las, muita vez desperto/ E abro as janelas, pálido de espanto… E depois,  Cecilia:  Renova-te/ Renasce em ti mesmo/ Multiplica os teus olhos, para verem mais… Foi aí que a casa se rebelou, ela não queria ser a lousa, desejava ser o giz. E para minha surpresa a hera começou a esconder as vírgulas e a cobrir determinadas palavras, de modo que os poemas passaram a ter outro sentido. A casa achou um meio de escrever e há fotos provando que não era efeito da imaginação exacerbada do escritor.

Acostumei-me com as idiossincrasias da casa, mas percebi que sua volição artística estava a disseminar-se por toda a parte e tão rigorosos eram seus ditames que os romances na estante, aqueles que ficavam na última prateleira, quase ao rés do chão, e que tanto eu quanto ela não suportávamos, foram destruídos certo dia pela água da chuva que entrou na biblioteca, mas só a eles inutilizou.  Cansado de tanto voluntarismo, acompadrei-me com meu cão, um macilento Shar-pei de nome Dost, (vulgo Chicão), no intuito de vigiar a casa, mas logo percebi que eles haviam se tornado cúmplices e que estavam planejando algo.

Quando um escritor não pode decifrar alguma coisa, ele escreve sobre ela e foi assim que resolvi escrever um livro contando minha saga. A casa e o ser enrugado que eu amava eram bons personagens, mas eu precisava de um tema, de uma história, sem o que não se faz um romance. Foi então que o tema e o personagem bateram na minha porta num domingo à noite, materializando-se na figura misteriosa de um editor que, com ares de Mefistófeles, propôs-me um pacto demoníaco semelhante àquele proposto ao Fausto. E assim surgiu  “Os 7 Vocábulos”, um livro diferente, cujo lançamento será no próximo dia 9 de dezembro, quinta-feira, a partir das 18;00 horas na nova Livraria Leitura do Shopping Salvador e para o qual convido todos os amigos e leitores.

Publicado no jornal A Tarde em 26/11/2021

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