Por: João Paulo Almeida
Bahia Econômica – O banco central deve elevar a taxa Selic para 7,5% hoje. Como o senhor avalia essa politica do Banco central?
Eduardo Castro – O BC justificou a necessidade da alteração do seu plano de voo em função da piora do balanço de riscos para a inflação. De fato a inflação corrente veio acima das expectativas desde a última reunião e de forma mais disseminada. Adicionalmente chamou atenção a menção a maior preocupação dos bancos centrais desenvolvidos também com a inflação. Porém, o ponto mais relevante do comunicado foi classificar os eventos recentes relacionados à PEC do Precatórios e elevação do valor do novo Auxílio Brasil como “questionamentos” por parte do governo em relação ao arcabouço fiscal, leia-se furo do teto de gastos, e a chance de desancoragem das expectativas. Esta classificação de “questionamento” e não de fato consumado fez com que o mercado passasse a considerar o potencial de nova alteração na estratégia com eventual aumento do passo.
Bahia Econômica – Quais as principais reflexões que devemos adotar ao escolher um investimento pensando nessa alta da Selic?
Eduardo Castro – Apesar da volatilidade e da ainda presente indefinição quanto à condução da política fiscal, é razoável imaginar que temos um ciclo de aumento da Selic para próximo dos 12%. Com esses juros posicionamento em títulos privados de alta qualidade de crédito passa a ser importante em um portfólio balanceado. O stress recente nos juros fez com que títulos públicos indexados à inflação e mesmo os prefixados ajustassem suas taxas para níveis já bem atrativos. Feitos com parcimônia e sempre ajustado ao perfil de risco do investidor também agregam à carteira. O mercado de renda variável já se ajustou e os preços já consideram muito do cenário complicado que nos encontramos. A incerteza quanto ao impacto da alta dos juros no crescimento econômico para o próximo ano e possível impacto nos resultados das empresas pode fazer com que a bolsa demore a atrair novo fluxo mas já identificamos atratividade em várias empresas.
Bahia Econômica – Qual o peso que a alta da Selic pode trazer para o resultado do pib do Brasil em 2021?
Eduardo Castro – Juros mais altos e principalmente a falta de visibilidade do lado fiscal impactarão a atividade sem sombra de dúvidas. No mínimo, cresceu o risco de pouco crescimento ou mesmo de recessão para o ano que vem. Estagflação passa a ser um cenário possível.
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