Em entrevista ao Jornal Correio, o presidente do Comcar, Flávio Emanoel, afirmou ontem que o conselho não quer realizar o Carnaval 2022 a todo custo, mas os turistas, patrocinadores e trabalhadores que fazem o evento acontecer precisam se planejar com antecedência. O Comcar é um órgão colegiado do qual fazem parte entidades representativas do Carnaval e órgãos públicos para deliberar e fiscalizar as ações relacionadas à festa. O conselho realizou uma reunião nesta quinta-feira (19), em que participaram todos os conselheiros, empresários, lideranças dos carnavais de bairros e outros que integram a entidade.
No encontro, eles discutiram a possibilidade do prefeito da capital baiana, Bruno Reis, e o governador do estado, Rui Costa, criarem um comitê com a secretaria estadual e municipal de saúde, junto com um infectologista, para acompanhar a evolução ou queda dos números da covid-19. A partir disso, segundo o presidente, será possível fazer o planejamento do Carnaval e, caso os números da pandemia voltem a crescer, a folia poderá ser cancelada.
“Essa indefinição não permite que os turistas se programem, o que está causando uma revoada de turistas. O patrocinador e as bandas que poderiam atuar no carnaval de Salvador estão indo para outras cidades que já anunciaram a folia. Ou seja, está ocorrendo uma debandada não só do conteúdo musical, mas também do patrocinador e principalmente do turista, que é quem gera renda no carnaval da capital baiana”, declarou o presidente do conselho.
O prefeito Bruno Reis afirmou que essa debandada de patrocinadores, bandas e turistas é natural, mas que o município e o estado precisam ter cautela para decidir sobre a realização do Carnaval. “Nós compreendemos a angústia dos setores envolvidos, mas pedimos que essas pessoas se coloquem no meu lugar e no lugar do governador porque essa é uma decisão muito complexa e que envolve muitas variantes. Quando a gente puder tomar essa decisão, nós vamos tomar”, declarou o gestor municipal.
O governador Rui Costa também fez críticas sobre a pressão para a realização do Carnaval no próximo ano e ressaltou que a Bahia tem 2.500 casos ativos de coronavírus – na verdade, 2.800, conforme boletim divulgado pela Sesab ontem. “Repito: não colocarei a população baiana em risco dando uma definição sobre o Carnaval agora, quando estamos com 2,5 mil casos ativos na Bahia e com o coronavírus voltando com força em diversos países. O Carnaval não pode estar acima da vida das pessoas”, afirmou o governador durante a inauguração do Polo da Beleza do Grupo Boticário, em Camaçari, nesta quinta.
Em relação aos dados da pandemia, o Comcar afirmou que está sendo responsável ao pensar em realizar a maior festa de rua do mundo em 2022 e que o conselho incentiva e irá realizar campanhas de incentivo à imunização com a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Para pressionar o estado e o município a tomarem uma decisão, a entidade fará uma manifestação no próximo domingo (21), às 9h, no Farol da Barra. “Pedimos que o governador e o prefeito se solidarizem com o setor do Carnaval, não só os grandes, como camarotes, mas também com os menores, como ambulantes, que fazem a folia acontecer”, concluiu o presidente.
A indecisão sobre a realização do Carnaval também causa, segundo o vereador e presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Retomada dos Eventos de Salvador, Cláudio Tinoco (DEM), uma perda da expressão cultural da Bahia sob ameaça de perder por dois anos o seu maior palco de apresentação e desta vez, segundo ele, por inanição. “Perdemos também a movimentação econômica gerada mesmo antes da festa, com os ensaios, a confecção de abadás e fantasias, a montagem de estruturas e a comercialização dos produtos da festa”, declarou.
Ele afirma que a comissão já realizou duas audiências públicas com ampla participação dos órgãos públicos e do setor privado associados ao Carnaval, além de ter produzido um relatório técnico, substanciado em estudos e dados oficiais, que apresentou dez recomendações ao governo do estado e à Prefeitura com relação à folia. “Já iniciamos a análise de alternativa de proposições legislativas para a hipótese da não realização da festa, como editais de cultura para os artistas e auxílios para categorias como cordeiros, ambulantes, catadores, recicladores e mototaxistas”, concluiu Tinoco.
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