Dados divulgados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que até o mês de setembro, o faturamento das empresas produtoras de minério de ferro na Bahia ultrapassou os R$ 470 milhões, contra R$ 25 milhões alcançados durante todo o ano passado, representando um crescimento de mais de 1.700% em suas operações. Apesar do crescimento expressivo, a dificuldade no escoamento da produção é um empecilho para o setor como um todo.
Este aumento se deve ao início de produção, neste ano, de grandes empresas no mercado baiano, como a Bamin e a Tombador Iron, que, junto com a Brazil Iron – empresa que já atuava no estado – aumentaram a produção do minério de ferro na Bahia. O crescimento deve continuar ao longo dos próximos anos com a chegada da Colomi Iron – em processo de instalação no norte do estado – e também com as novas áreas com potencial para produção de minério de ferro que seguem sendo prospectadas pela CBPM e outros empresários do setor nos entornos dos trilhos da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste).
Segundo o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, Antonio Carlos Tramm, este aumento confirma que a mineração irá ocupar uma posição de destaque cada vez maior no desenvolvimento econômico da Bahia, na geração de empregos e de tributos. “Estudos realizados pela CBPM mostram que o centro-oeste baiano, onde fica Caetité, é rico em minério de ferro, urânio e outros minerais. Na esteira da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), a CBPM já trabalha para atrair mais investimentos para oportunidades identificadas na região e, também, em estudos de novas jazidas minerais a 100 km de distância de cada lado dos trilhos”, afirma Tramm.
Os trilhos da primeira etapa da FIOL vão de Caetité ao Porto Sul, em Ilhéus, e devem colocar a Bahia no seleto grupo de exportadores nacionais de minério de ferro, commodity que representa aproximadamente 4% do PIB brasileiro. O bom resultado do setor também representa um incremento de receitas para os municípios com produção mineral, que recebem 60% da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), contribuição paga pelas mineradoras. Até setembro de 2021 a contribuição referente a todos os minérios produzidos já é superior a 114 milhões, montante que ultrapassa o valor arrecadado durante todo o ano de 2020.
Logística ainda é um problema
O aumento da produção é expressivo, no entanto, a logística do transporte ainda é deficiente e impacta diretamente no preço e tempo para o escoamento da produção. O problema, já enfrentado pelas mineradoras que iniciaram a mais tempo, agora também atinge a Tombador Iron, que recentemente iniciou sua produção no município de Sento Sé. É necessário realizar mais de 800 viagens de caminhão, de 700km cada, para transportar mais de 35 mil toneladas de minério de Sento Sé, onde fica a mina da empresa, até o Terminal Marítimo Inácio Barbosa, em Barra dos Coqueiros – Sergipe. No total, os mais de 560 mil km viajados dariam para chegar com folga até a Lua (distante 384 mil km da Terra) ou, se preferir, dar 44 voltas ao redor da Terra (12,7 mil km cada).
A Tombador Iron divide sua produção entre o mercado interno – encaminhada também de caminhão para o Polo Siderúrgico de Minas Gerais – e o mercado externo, enviada para o porto de Sergipe. De acordo com a empresa, dois embarques já foram realizados e a estimativa é que o número seja de um por mês. “A Tombador Iron é uma empresa de mineração de pequeno porte e se encontra na fase de ramp-up de produção. Ou seja, trata-se do estágio onde se testa a curva de produção até que a planta de britagem e classificação (processo a seco e sem rejeitos) atinja sua capacidade planejada de produção. Após a fase de ramp-up, nossa estimativa é de realizar um navio Handysize (35-38 mil toneladas) por mês”, explica.
Em nota, a Tombador afirmou que investimentos na malha ferroviária do estado contribuiriam para melhorar o escoamento da produção, porém, a empresa não teria como arcar com o investimento necessário. “Como a Tombador Iron é um projeto de pequeno porte, entendemos que os volumes a serem exportados, por si só, não viabilizam um projeto de ferrovia só nosso”, informou a assessoria de comunicação da empresa.
Segundo o presidente da CBPM, “Transportar de caminhão é caro, demorado, desgasta as estradas e polui muito mais do que se fosse transportado por trem”, defende. Ele ainda ressalta a dificuldade no que se refere à logística e também competitividade comercial da produção baiana, devido aos gastos adicionais com transporte. “Recursos como minério de ferro se tornam economicamente mais viáveis com a disponibilidade de uma malha ferroviária que funcione, o que estimula a implantação de novos empreendimentos minerários, gerando mais desenvolvimento econômico e social para o estado da Bahia. Que venha o Trem!”, diz Tramm.
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