Mesmo sem a venda liberada em Salvador, os fogos de artifício estão requisitados nos bairros da cidade. Vendedores ambulantes e pequenos comerciantes, hesitantes em conversar com o Correio, queixam-se dos preços dos fornecedores, mas acabam tendo que repassar o maior valor para a precificação final dos produtos. Traques de massa, chuveirinhos e vulcões têm o fim da vida útil nas ruas asfaltadas da Cidade Baixa e da Boca do Rio, em sua maioria, pelas mãos de crianças. É onde a fiscalização não chega e os acidentes podem acontecer.
Nossa reportagem flagrou as vendas clandestinas na Feira de São Joaquim, além de barracas no fim de linha da Boca do Rio. Mas esses não são os únicos pontos de venda na cidade, que estão, em sua maioria, comercializando os fogos a preços similares, para evitar a concorrência neste segundo ano de suspensão das festas juninas, por conta da pandemia. Os relatos são de que há menos clientes e, por isso, os preços estão mais altos para produtos, muitas vezes estocados desde o São João do ano passado. Os mais procurados são as chuvinhas, traque de massa e abelhinha. A chuvinha variava de R$ 1,50 a R$ 3. As bombinhas maiores chegam a R$ 18. Já os traques de massa, menina dos olhos de ouro das crianças e dos pais, estavam em promoção. “Um é R$2, três é R$5”, grita um vendedor.
Um dos comerciantes da Feira de São Joaquim, que preferiu o anonimato, afirmou que até consegue vender a preços menores que os demais. O motivo é o estoque acumulado de 2020, ano que também não teve festa junina. “Está mais em conta a venda, igual ao ano passado. Por causa da pandemia, ficaram produtos acumulados desde o ano passado, porque não teve São João. Teve muita produção e não conseguimos vender”. Ele também comercializa licor e amendoim, mas, enquanto a reportagem estava no local, boa parte dos clientes estavam mais interessados nos fogos de artifício.
“Aqui, você pode comprar seu licor, seu amendoim e seus fogos para fazer seu São João em casa, com sua família. A gente está tentando vender, ganhar nosso trocado, porque o clima da gente é São João. A pandemia acabou com tudo, mas quem tem fé luta para ter seu pão dentro de casa”, completa. Um dos comerciantes da Boca do Rio, que também não quis se identificar, até vende outros produtos, como milho cozido, mas tira maior lucro com os fogos, mesmo com a venda mais fraca esse ano. “Os preços este ano estão tabelados, não tem outra opção. Já estou comprando por preços absurdos e, infelizmente, tenho que repassar para o cliente”, afirmou.
Isso foi notado por um morador da Liberdade, que não quis se identificar. “Diante da situação de não poder viajar, os fogos são uma opção para curtir dentro de casa. Por isso, os fogos estão até caros, mas está valendo. Percebi que esse ano, para manter a concorrência, eles mantiveram preços parecidos”, afirmou.
Fiscalização
Os preços são somente uma das preocupações da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor da Bahia (Procon-BA). O órgão iniciou, na última quarta-feira, a “Operação Chamas 2021”, voltada especialmente para a fiscalização das lojas de fogos de artifício. Atualmente, para a comercialização dos fogos é preciso que se solicite liberação e vistoria do Corpo de Bombeiros e da Coordenação da Fiscalização de Produtos Controlados na Polícia Civil. Entre os aspectos observados pelo Procon estão a precificação adequada, um exemplar do Código de Defesa do Consumidor em local visível e de fácil acesso, condições para pagamento à vista, política de troca e emissão de nota fiscal. Contudo, a maior preocupação é a rotulagem (fabricante, data de fabricação/validade, exposição, advertência).
“Enquanto consumidor, a gente não tem a garantia de que os produtos vieram de fabricantes responsáveis. Quem vende esses produtos de maneira ilegal está colocando em risco à própria vida, dos consumidores e das pessoas que passam pelo local. Nossa maior cautela esse ano é quanto ao prazo de validade dos fogos. Desde o ano passado, os vendedores estão sem feira, então produtos antigos podem ser expostos. O consumidor tem que ter cuidado e acompanhar o consumo dos fogos junto com as crianças”, avisa o diretor de Fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas. Para realizar denúncias, o consumidor pode baixar o aplicativo de denúncias Procon-BA Mobile, ou entrar em contato com a Polícia Civil, através do número 181.
Foto: divulgação