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EMPRESAS FECHAM VAGAS PARA TRABALHADORES COM MAIS DE 50

Redação - 26/04/2021 09:00 - Atualizado 26/04/2021

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados(Caged), até setembro de 2020, 438,1 mil profissionais maiores de 50 anos foram demitidos, o que significa que cerca de 8 em cada 10 vagas eliminadas eram ocupadas por profissionais dessa faixa etária. A professora de Gestão de Recursos Humanos da Estácio, Míria Reis acredita que essa rejeição pelos profissionais mais velhos reside numa questão cultural. “Na década de 1980, quando iniciei minha atuação em RH, aos 40 anos, o profissional era considerado velho para o mercado de trabalho. Mesmo com todas as mudanças ocorridas desde então e dos discursos de inclusão, igualdade e diversidade, os desafios persistem. Observamos nas empresas que o percentual de profissionais com idade acima de 60 anos é mínimo”, explica a especialista em gestão empresarial.

Para a diretora de operações na Região Nordeste da Consultoria LHH, Mariângela Shoenacker, encontrar emprego pode ser ainda difícil depois dos 50 anos, num momento com alta taxa de desemprego nas diferentes faixas etárias e mudanças aceleradas de tecnologia e mudança de modelo de negócio. “Apesar de todas as iniciativas de sucesso de inclusão de profissionais sêniores no mercado de trabalho sendo feito por muitas organizações, ainda percebemos uma certa resistência de empresas para contratar profissionais 50+, principalmente devido há alguns mitos, como a baixa criatividade; a falta de adaptação à novas tecnologias; problemas em realizar trabalhos pesados e os riscos de problemas de saúde”, diz. Para ela, esses são apenas mitos e generalizações que não deveriam, portanto, ser parâmetro para decisão de não contratação.

Míria Reis acredita que as empresas brasileiras não se atentaram para o envelhecimento populacional. “O fato é que o Brasil está envelhecendo, o mundo está envelhecendo, mas as políticas e práticas de exclusão dos “experientes” se mantém. Os profissionais maduros – da terceira idade – encontram as mesmas dificuldades dos jovens inexperientes quando se lançam no mercado de trabalho”, diz.

Requalificação

No Brasil, os idosos representam 12% de toda a população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados apontam ainda que a maioria dos idosos ativos no mercado de trabalho atuam no setor de serviços (53%); comércio (22.3%) e indústria (11,9%).   A expectativa é que até 2050 esse número cresça para 22%.

A representante da LHH Mariângela Shoenacker acredita que a não absorção dessa mão de obra trará consequências sérias para a sociedade, com aumento da longevidade. “Vemos que muitas empresas, além de não contratar profissionais nesta faixa etária para posições não executivas, não buscam desenvolver os profissionais que já estão nas empresas para acompanhar as mudanças do cenário atual e/ou prepará-los para esta nova fase de vida”, denuncia.

Mariângela Shoenacker afirma que muitas organizações ainda utilizam a abordagem de desligamento seguida de contratação no mercado, ao invés de investir em requalificar, qualificar profissionais, aumentado o número de desempregados nesta faixa etária. Durante o tempo que experenciou o trabalho realizado na Disney, o presidente da seccional Bahia da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Wladimir Martins reforçou suas posições sobre a necessidade imediata de quebra no modelo atual da maioria das organizações brasileiras no que diz respeito a atuação de equipes com diferenças geracionais.

“Na Disney, por exemplo, utilizavam o conceito de mentoria reversa e estágio sênior, o resultado era que os mais jovens tinham suas competências complementadas pelos mais velhos e vice versa”, relata. Ele diz que essa abertura emprestava uma qualidade impressionante aos processos adotados em todas as áreas e destaca o exemplo do laboratório Sabin, aqui na Bahia, que adota a perspectiva de contratação dos 50+. Para Martins, um dos principais entraves reside nas lideranças brasileiras que ainda acham difícil coordenar pessoas mais velhas. “Os líderes precisam se preparar para essa mudança no perfil profissional que, inevitavelmente, ocorrerá, queiram eles ou não, mas é preciso que quem ocupa a linha de frente faça esse movimento no sentido da mudança”, defende.

Novos caminhos

Além das dificuldades de inserção no mercado do trabalho, muitos profissionais ainda sofrem com uma defasagem na requalificação. A diretora da LHH defende que, independente da questão etária, o aspecto da atualização virou um componente primordial para quem deseja se manter no mercado de trabalho, cada vez mais impactado com mudanças constantes e aceleradas. “O profissional deve buscar ser proativo, estar aberto a mudanças, ser pouco resistente a processos, adaptar-se às novas tecnologias, ter capacidade para interagir com os mais jovens e ter energia para fazer acontecer trabalhando com profissionais de diferentes gerações, habilidades e expectativas”, pontua.

Com uma postura parecida, a professora Míria Reis salienta que a tecnologia se transformou numa questão determinante no mundo do trabalho atual. “Ela está presente desde as funções mais básicas às mais complexas. Então, estar antenado sobre os recursos tecnológicos disponíveis na sua área de atuação é indispensável”, orienta. Míria defende que, atualmente, a prestação de serviço com consultoria termina sendo um campo bastante atrativo para os profissionais sêniores especializados. “Caso o profissional esteja nesse processo de transição profissional, é fundamental que ele busque se atualizar e ter clareza de como suas habilidades podem ser utilizadas no cenário de negócios atual, seja como empregado, freelancer, empreendedor, trabalhador terceirizado, artesão”, esclarece.

A professora faz questão de reforçar que os profissionais mais velhos têm qualidades importantes para os negócios, a exemplo da responsabilidade, dedicação, experiência e maturidade emocional e confiança. “A diversidade geracional pode ser extremamente positiva e benéfica para o negócio, assim como para todos os seus colaboradores. O profissional, por sua vez, deve buscar áreas/empresas que tenham a diversidade geracional na sua estratégia, pois a abertura de oportunidades é maior”, completa.

Alternativas empreendedoras

Se o caminho for a mudança profissional, o conselho de Mariângela Shoenacker  é que o profissional faça uma auto análise e busque o autoconhecimento, para  ter clareza de seus sonhos, necessidades financeiras e pessoais e habilidades para poder definir qual seu plano de ação de busca de trabalho.  “Ao refletir sobre suas habilidades, deve pensar de maneira ampla, seus hobbies, habilidades que não necessariamente foram as que te trouxeram até aqui, para poder ter um portfolio de habilidades para ofertar ao mercado”, ensina.

Para a especialista em RH, é importante que tenha clareza do que sabe fazer, gosta e o que o mercado necessita, focando a busca em trabalho, não necessariamente emprego, onde consiga usar suas habilidades e ser remunerado por isto. “É fundamental que tenha um bom currículo e tenha presença nas mídias sociais, já que muitas empresas hoje utilizam as mídias sociais como forma de contratação de profissionais ou mesmo para venda e compra de serviços”, sugere.

Outra dica de outro é que o profissional conecte-se com pessoas com quem trabalhou, negócios que tem interesse e algo a oferecer ou que tem a diversidade geracional como valor para buscar novas oportunidades de trabalho. “Esteja aberto para aprender e trabalhar em universos distintos do que só aquele que trabalhou nos últimos anos.Amplie seu universo de possibilidades”, orienta. Atualmente, as melhores oportunidades estão no varejo, empresas de serviços, empresas de tecnologia, startups da área financeira, que têm investido em programas de contratação de profissionais seniors com sucesso.

“Hoje a Labora Tech, empresa que seleciona os melhores talentos de diversidade, para os seus Programas de Entrada, com eficiência, agilidade e escala, seleciona e forma profissionais seniors para atuar no mercado de trabalho principalmente nas áreas de tecnologia como programador, na área de atendimento a clientes e vendas. Recomendo conhecer”, completa. Mariângela sugere também conhecer e avaliar alternativas de trabalho tais como :corretor de seguros autônomo, perito, mediador de conflitos, representante comercial, corretor de imóveis, empreendedor, artesão, consultor, professor, coach, mentor, trabalho temporário ou freelancer. “Conheça também o SEBRAE de sua cidade e para avaliar tirar do papel sua ideia empreendedora. Hoje existem muitos programas de apoio ao empreendedor gratuitos ou de valor muito baixo, e ideias de negócio levantadas pelo SEBRAE para você desenvolver e só querer”, conclui.

 

Saídas de emergência

 

  • procurar alternativas de trabalho remoto na sua área de atuação, trabalhos temporários ou por tarefa que possa realizar com suas habilidades atuais;

 

  • avalie oferecer serviços de comida delivery ou trabalhar na cadeia de serviços delivery do varejo;

 

  • avalie transformar um hobby em uma nova carreira, principalmente se isto for algo que você goste, saiba fazer bem e o marcado demande;

 

  • atue como consultor ajudando empreendedores menores a crescer.

Foto: Shutterstock/reprodução

 

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