Como todos sabem, ainda é muito cedo para qualquer análise sobre o quadro eleitoral em 2022, mas já é possível identificar que tem cacife para concorrer ao pleito e que fatores podem aumentar ou diminuir esse cacife. Desde logo, pode-se se dizer que o ex-prefeito ACM Neto e o ex-governador Jaques Wagner são os nomes que vão polarizar a eleição. A última pesquisa eleitoral realizada pelo Instituto Paraná e pelo site Bahia Noticia mostrou ACM Neto liderando a disputa com 49,3%, enquanto Wagner teria 21,4%. O resultado mostra que os dois nomes são aqueles que tem cacife para disputar a eleição, mas a diferença numérica não indica muita coisa, pois reflete o recall recente de ACM Neto, que saiu do governo há pouco mais de três meses, em relação ao recall de Jaques Wagner que não exerce cargo executivo desde 2014. Mas o diabo mora nos detalhes. E o detalhe mostra que nesta eleição a composição das chapas e a eleição presidencial serão fundamentais para o resultado eleitoral.
Engana-se, por exemplo, quem está dando excessivo destaque para o percentual relativamente baixo de intenções votos do vice-governador João Leão e do senador Otto Alencar. Leão e Otto são fortíssimos independente dos números da pesquisa, pois sua força está na capacidade de arregimentar prefeitos e lideranças do interior para a chapa que vão apoiar. Engana-se também aqueles que não estão dando a devida importância ao papel do governador Rui Costa nesta eleição. Com avaliação positiva em todas as pesquisas, Rui Costa aparece 45,5% de intenção de votos na disputa para o Senado. Ora, com tal percentual qualquer candidato deveria estar querendo Rui disputando o Senado na sua chapa.
Mas aí entra o principal fator que definirá os caminhos da eleição para governador na Bahia: a disputa para a Presidência da República. Não vamos especular sobre aquela que será a mais disputada eleição da história recente do Brasil, afinal se Lula for candidato mudará a correlação de forças na Bahia e pode até atrair Rui Costa para uma posição de destaque na campanha. Por outro lado, Bolsonaro tem pouca penetração na Bahia e não se sabe se estar ao seu lado agregará ou tirará votos, especialmente se ele não mudar sua postura em relação à pandemia. Mas, ao mesmo tempo, não se pode descartar sua importância, especialmente se houver uma mudança de postura e a economia voltar a crescer a partir do segundo semestre. Além disso, não se pode esquecer a terceira via na disputa e, mais especialmente, a candidatura de Ciro Gomes que começa a ser avaliada nos quatros cantos do país como uma possibilidade efetiva e que aqui na Bahia teria um campo vasto de crescimento.
Por fim, há a possibilidade de Bolsonaro indicar um candidato próprio para disputar com ACM Neto e Jaques Wagner. Naturalmente, essa hipótese existe, mas jamais poderia se concretizar com um nome desconhecido e sem articulação política, como ocorreu com muitos candidatos bolsonaristas na eleição passada. Ou seja, antes da mosca azul picar o atual Ministro da Cidadania, João Roma, e fazer ele se posicionar como candidato, será necessário ter algum partido forte, com muitas prefeituras e muita força no interior para que possa ter cacife na disputa. Por enquanto, só quem tem esse cacife é o ex-prefeito ACM Neto e o ex-governador Jaques Wagner e a força de cada um dependerá da chapa que conseguirem montar e, naturalmente, da disputa pela Presidência da República. (EP – 29/03/2021)