Demitido pelo presidente Jair Bolsonaro há três semanas, o presidente da Petrobras Roberto Castello Branco foi convidado por acionistas minoritários da Vale para compor uma chapa na disputa pela renovação do conselho de administração da mineradora. A eleição ocorrerá em assembleia no dia 30 de abril. Na quinta (11), a Vale anunciou uma chapa com indicações para o colegiado, que tem 12 membros. Desse total, segundo a mineradora, oito seriam executivos independentes, sem ligação com grandes acionistas.
O grupo dissidente quer Castello Branco no comando do conselho, com o investidor Mauro Cunha como vice. Com passagem pelo conselho da Petrobras, Cunha já presidiu a Amec (Associação dos Investidores no Mercado de Capitais) e é conselheiro do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Castello Branco tem longa experiência na Vale, onde atuou por 15 anos, chegando a ocupar cargo de diretoria. Ao assumir a Petrobras, em 2019, levou consigo executivos da mineradora, como a diretora financeira da estatal, Andrea Almeida.
Ele será substituído na Petrobras pelo general Joaquim Silva e Luna, atual presidente de Itaipu Binacional, que foi indicado por Bolsonaro para assumir a empresa em meio à crescente insatisfação dos brasileiros com a escalada dos preços dos combustíveis. Seu mandato vence no dia 20 de março, mas a indicação de Silva e Luna só será apreciada em assembleia de acionistas da estatal no dia 12 de abril. A princípio, a diretoria de Castello Branco ficará na empresa até a assembleia, para fazer a transição de comando.
O anúncio da demissão de Castello Branco foi mal recebido no mercado e gerou uma debandada inédita no conselho de administração da Petrobras, com cinco conselheiros declinando do convite do governo Bolsonaro por sua recondução. Na semana seguinte ao anúncio da troca, a Petrobras anunciou ter fechado 2020 com lucro de R$ 7 bilhões. Em eventos para detalhar o resultado, Castello Branco apareceu com uma camisa de malha escrita “Mind the gap”.
Era, segundo ele, uma referência ao plano de negócios da companhia, que foi batizado com o alerta usado pelo metrô de Londres para que os passageiros prestem atenção no vão entre o trem e a plataforma. No plano, a mensagem é que a Petrobras precisa reduzir a distância entre seus concorrentes globais. A palavra “gap”, porém, é usada pelo mercado em referência à defasagem entre os preços dos combustíveis no país e as cotações internacionais.
A eleição do conselho da Vale será a primeira após a dissolução do acordo de acionistas que garantia o controle da empresa a um bloco formado por Bradesco, Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e a japonesa Mitsui. Com o fim do acordo, a Vale se torna uma corporação “sem dono”, isto é, sem um controlador definido, embora os três ex-controladores mantenham participação relevante em seu capital. Assim, a ideia é ter um conselho cada vez mais independente.
Em carta aos acionistas no relatório financeiro de 2020, o presidente do conselho de administração da mineradora, José Maurício Pereira Coelho, disse que a assembleia “será um marco na história da Vale pela oportunidade trazida de ampliar a independência e a pluralidade de expertises na gestão da Companhia, ampliando as vozes de nossos acionistas e a escuta ativa da companhia”. A proposta da administração da companhia para assembleia, porém, causou polêmica e teve que ser revista após parecer da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) contrário ao modelo de votação defendido pela empresa, ainda inédito no Brasil.
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil