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PETROBRAS APRESENTA LUCRO RECORDE DE R$ 59,9 BI

Redação - 25/02/2021 06:59 - Atualizado 25/02/2021

A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 59,89 bilhões no quarto trimestre de 2020, informou a companhia em balanço financeiro divulgado nesta quarta-feira. Foi um resultado recorde para a estatal num período de três meses. Em 2020 como um todo, a Petrobras registrou lucro de R$ 7,1 bilhões, contrariando a expectativa de prejuízo por parte dos analistas de mercado. Novo gesto:Depois da Eletrobras, Bolsonaro entrega ao Congresso projeto para privatizar os Correios, mas faltam estudos.

O balanço foi divulgado no início da noite desta quarta-feira, após o fechamento do mercado, em meio ao turbilhão provocado pelo anúncio abrupto da troca de comando da estatal. É o último resultado da empresa sob a direção de Roberto Castello Branco, que será substituído em março após interferência do presidente Jair Bolsonaro. O executivo deve falar na manhã de quinta-feira com investidores em teleconferência. Em mensagem aos acionistas, Castello Branco diz que ele e sua gestão entregaram as promessas da estratégia que adotou ao assumir a estatal em 2019.

A gestão do ‘Chicago old’:As marcas que Roberto Castello Branco, amigo de Paulo Guedes, deixa na Petrobrás. “A produtividade está subindo, a companhia está focada em investir em ativos de classe mundial e possui uma grande carteira de ativos não prioritários à venda. Nós entregamos nossas promessas”, afirmou no texto que acompanha as demonstrações financeiras.

Câmbio e exportações ajudaram resultado

O resultado anual foi influenciado, sobretudo, pela baixa contábil de R$ 65,3 bilhões no primeiro trimestre de 2020, por conta da queda no valor do petróleo devido ao início da pandemia do coronavírus. Porém, com a alta do preço do barril, esse custo foi reduzido a menos da metade no fim do ano. Efeito Bolsonaro:Ações da Petrobras têm segundo dia de recuperação, mas ainda perdem 10% na semana

Também favoreceram a estatal a valorização do real frente ao dólar e o aumento das exportações, compensando a queda da demanda dentro do Brasil. O comunicado da estatal também cita corte de custos e do endividamento. No quatro trimestre, o ganho recorde ocorreu por conta da valorização do preço do barril do petróleo, o que gerou uma reversão das baixas contábeis (impairment) em R$ 31 bilhões.

Nessa lista até o polêmico Comperj, projeto petroquímico que coleciona prejuízos por erros e corrupção revelados pela Operação Lava-Jato, reverteu parte das previsões de perdas, mais precisamente R$ 1,3 bilhão. O lucro também foi impulsionado por R$ 20 bilhões em ganhos cambiais com a valorização do real frente ao dólar. Por outro lado,  os investimentos caíram 70%, de US$ 27,4 bilhões para US$ 8,057 bilhões.

‘Águas turbulentas’

Em tom de despedida, Castello Branco elogiou o Conselho de Administração da empresa e os funcionários no texto de apresentação do balanço: “Meu reconhecimento ao nosso Conselho de Administração pelo importante papel e contínuo apoio à execução da estratégia nesta jornada. Nossos executivos e funcionários não mediram esforços nos piores momentos de uma recessão profunda para manter o navio em segurança em águas turbulentas.”

Dada a largada do IR:Saem as regras do Imposto de Renda 2021: entrega das declarações começa na segunda-feira. Ele lembrou que o fluxo de caixa operacional alcançou US$ 28,9 bilhões, o maior dos últimos dez anos, mesmo comparando com o período de  preços de petróleo por volta de US$ 100 por barril, mais que o dobro do preço médio do ano passado, de US$ 42 o barril. Ajudaram nessa conta os US$ 17 bilhões arrecadados com a venda de ativos desde o início de 2019. Isso permitiu reduzir o endividamento: a dívida total passou de US$ 87,1 bilhões para US$ 75,5 bilhões no último ano.

Dividendos de R$ 10,3 bilhões

Em nota, a estatal disse que o Conselho de Administração aprovou remuneração aos acionistas sob a forma de dividendos no valor de R$ 10,3 bilhões, “equivalente a R$ 0,787446 por ação ordinária e preferencial em circulação, com base no resultado anual de 2020”. Esse valor é equivalente a 5% do capital social, aplicado tanto às ações preferenciais quanto ordinárias. Do valor a ser pago, R$ 5,7 bilhões são referentes à destinação do resultado do exercício de 2020 e R$ 4,6 bilhões são oriundos da conta de reserva de retenção de lucros, explicou a empresa. A Petrobras informou que “o dividendo proposto, superior ao mínimo obrigatório, foi possibilitado pela forte geração de caixa alcançada pela companhia em 2020 e está alinhado ao compromisso de geração de valor para os acionistas”, disse a estatal.

Redução de custos

Entre a redução de custos, Castello Branco destacou a venda de navios antigos por parte da Transpetro e 550 imóveis. Lembrou ainda que mais de 11 mil funcionários da Petrobras e suas subsidiárias se inscreveram em vários programas de desligamento voluntário, dos quais 6.100 deixaram a empresa em 2019 e 2020 e 5 mil  sairão a partir de 2021. Vários prédios administrativos foram fechados, totalizando 14 de 23 ocupados no início de 2019. O home office também ajudou.

“A racionalização de espaços para reduzir custos vem sendo facilitada pela redução do número de funcionários e pela adoção de um regime híbrido de teletrabalho”, disse a empresa. Custos de viagens caíram US$ 40 milhões em comparação com 2019. Grande parte dessa redução será permanente no mundo pós-Covid, afirmou a empresa. Antes da divulgação, a média das opiniões dos analistas previa um lucro da petrolífera de R$ 4,8 bilhões nos últimos três meses de 2020, com receita de R$ 73,9 bilhões.

No mercado, a expectativa era de que os números da empresa reflietissem a retomada da economia no final do ano passado, embora efeitos da pandemia ainda devam estar refletidos no balanço. No ano, a estimativa era de um prejuízo superior a R$ 40 bilhões.

Esclarecimento sobre ter “muita coisa errada”

Nesta quarta-feira, houve outra reunião do conselho de administração da Petrobras. Um dos temas que ganhou força no encontro virtual  foi a composição de um eventual novo conselho para a estatal. A aposta dos integrantes é que a União proponha a recondução de oito dos 11 membros. Com a saída de Roberto Castello Branco, conforme decidido ontem, os outros sete membros que foram eleitos de forma conjunta, pelo sistema de voto múltiplo no ano passado, também saem.

– Seria péssimo mudar o Conselho. O governo deve reconduzir todos. Essa é a indicação – disse essa fonte que não quis se identificar. Dos onze membros, estão garantidos apenas Rodrigo de Mesquita e Marcelo Mesquita de Siqueira Filho, ambos indicados por minoritários, e Rosangela Buzanelli Torres, representante dos funcionários. A fonte também lembrou que os conselheiros pediram que a diretoria de Relações com Investidores da estatal peça esclarecimentos sobre ter “muita coisa errada” na empresa, segundo declarações públicas do presidente Jair Bolsonaro.

A iniciativa é normal para empresas listadas na Bolsa, segundo a fonte, que destacou o caso envolvendo a Eletrobrás nos últimos dias. Os analistas do banco Thiago Duarte, Pedro Soares, Daniel Guardiola e Ricardo Cavalieri rebaixaram o rating das ações da empresa para neutro após o presidente Jair Bolsonaro anunciar, na última sexta-feira, que irá trocar Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna no comando da companhia.

Pilares abalados

Os analistas avaliam que não têm mais confiança que os pilares que vinham criando valor para a empresa estejam garantidos: aumento da produção sustentada pelo pré-sal, desalavancagem com venda de ativos e redução do risco político. “Com os acontecimentos dos últimos dias culminando na decisão do acionista controlador de solicitar a substituição do presidente, não temos mais a confiança de que esses pilares permanecerão”, escreveram em relatório a clientes.

O banco BTG trabalha com um cenário-base em que as mudanças com a nova equipe de gestão não serão muito dramáticas, embora veja uma situação delicada caso os preços domésticos de combustível precisem continuar subindo para acompanhar a alta do petróleo no mercado internacional. Afago em público: Bolsonaro elogia ‘galhardia’ de Guedes e diz que troca de comando na Petrobras ‘é natural’.

Para o economista Alexandre Espírito Santo, a forma como aconteceu o anúncio da troca de comando não é boa, e causou mal-estar entre os investidores estrangeiros. Mas nos últimos dias, o mercado exagerou, já que a empresa perdeu quase R$ 100 bilhões de valor em dois dias. — Não houve nenhuma plataforma à pique. É uma perda de valor muito grande para uma empresa que não mudou da noite para o dia. Foi uma reação exagerada a uma troca de comando — diz.

O economista da Órama avalia que as perspectivas são boas para a Petrobras. No balanço, diz ele, será preciso observar como está o endividamento da empresa, que vinha caindo. Ele acredita que com o avanço da vacinação, a economia começa a retomar. ‘Class action’ a caminho: Escritórios já preparam ações coletivas de investidores contra a Petrobras nos EUA

— Acredito que o petróleo deve se estabilizar em US$ 50 por barril. Não é ruim para a Petrobras. Para a empresa, também será importante que a nova gestão dê prosseguimento à venda de ativos. O endividamento também vinha sendo reduzido. Se isso acontecer, os resultados da Petrobras serão bons – diz Espírito Santo.

Lucro em refino cai 78% no ano

O lucro da área de refino foi de R$ 862 milhões em 2020, uma queda de 78% ante 2019 por conta das menores margens. No quatro trimestre, o ganho da área foi de R$ 5,1 bilhões, uma alta de 1.000% em relação ao mesmo período do ano passado. “No quatro trimestre, houve melhores margens de derivados no mercado interno, principalmente GLP e nafta, e maior volume de vendas, principalmente de querosene de aviação, refletindo a recuperação do setor, principalmente nos voos domésticos, e de óleo combustível, devido ao aumento da demanda termelétrica”, disse.

Foto: divulgação

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