No início da noite de uma sexta-feira em que as ações da Petrobras sofreram desvalorização forte nas bolsas de valores, o presidente Jair Bolsonaro confirmou os temores de uma interferência de natureza política no comando da empresa, e tirou Roberto Castello Branco da presidência. Esses temores se acentuaram na noite de quinta-feira (18), quando Bolsonaro anunciou um corte de impostos e taxas federais sobre o diesel e o gás. Numa rede social, ele disse que eram excessivos os aumentos de combustíveis anunciados horas antes. Para os investidores, esse comentário ganhou tom de ameaça quando foi complementado pelas seguintes palavras do presidente:
“Eu não posso interferir, nem iria interferir na Petrobras. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa. Vai acontecer.”. As declarações do presidente Jair Bolsonaro tiveram um preço, que apareceu logo na abertura dos mercados. As duas ações da Petrobras negociadas na bolsa registraram queda desde as primeiras horas da manhã e fecharam o dia com as maiores baixas do dia: a do tipo preferencial caiu 6,6 %; e a ordinária, a mais negociada, quase 8%.
Como a companhia é a de maior peso no mercado de ações, o que acontece com ela tem consequências para muitas outras empresas. A Petrobras acabou arrastando a bolsa para um resultado negativo nesta sexta-feira (19). Mas o economista Álvaro Bandeira, que atua no mercado financeiro, diz que há outros prejuízos. “Prejuízo de imagem do país, que a política muda ao bel prazer. Segundo, prejudica os mercados. Não prejudica só a ação da Petrobras, prejudica a abertura de capital de empresas, capitalização de empresas no mercado de capitais”, comentou o economista.
Como a lei brasileira garante a liberdade de preços para os combustíveis, a Petrobras segue o que acontece no mercado internacional. Os preços são decididos com base principalmente no preço do do barril do petróleo e o valor do dólar. Analistas dizem que a empresa precisa de independência para manter a política de preços, porque enfrenta concorrência no Brasil e no mundo. “Está sempre comprando petróleo, derivados no exterior e está pagando em dólar. Essa composição você tem que colocar dentro dos seus custos e repassar esses custos. É um quadro onde a empresa tenta se manter no mercado”, explica Álvaro Bandeira.
O preço dos combustíveis pesa no bolso de quem tem carro e tem impacto também sobre os transportes de pessoas e de produtos. Governos passados interferiram na Petrobras para que os reajustes demorassem a ser repassados, numa tentativa de segurar outros preços na economia e controlar a inflação. Mas analistas dizem que isso só prejudicou o caixa da companhia e botou em risco o abastecimento do país.
“Primeiro, você vai prejudicar a Petrobras; segundo, não vai atrair mais investimentos para o país nessa área quando cria artificialismo de preços; e terceiro, a própria venda de ativos da Petrobras porque ninguém vai querer entrar num mercado onde o governo enfia faca ali, enfia faca aqui e cria situações artificiais fora do mercado”, opinou David Zilberstayin. A Federação Única dos Petroleiros, que reúne vários sindicatos de trabalhadores do setor, critica a proposta do presidente Jair Bolsonaro de zerar impostos do diesel e do gás de cozinha como forma de baixar os preços.
Diz que para garantir preços mais justos é preciso rever a política da Petrobras de acompanhar o mercado internacional. A federação defende que os preços sejam calculados com base nos custos nacionais de produção, mesmo com alguns ajustes para atender critérios internacionais. O Instituto Brasileiro do Petróleo, que representa as indústrias do setor, diz que o risco de uma ingerência do governo provoca desconfiança e pode ter consequências. “Esse é um mercado composto por empresas que investem no longuíssimo prazo, que investem no crescimento, na geração de emprego, renda no Brasil, desde que o ambiente no qual elas possam operar seja esse ambiente institucional, regulatório previsível e seguro.”.
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