O Monitor do PIB-FGV sinaliza que o PIB retraiu 4,0% em 2020. Pela ótica da produção, dos três grandes setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços), apenas a agropecuária cresceu no ano (2,0%). Enquanto pela ótica da demanda, todos os componentes retraíram, com destaque para o consumo das famílias com retração de 5,2% no ano. “A expressiva queda de 4,0% da economia em 2020 consolida retrações disseminadas em diversas atividades econômicas, em decorrência da pandemia de Covid-19. Embora a economia esteja acelerando no final do ano, com crescimento de 3,4% no 4º trimestre e de 1,0% em dezembro, nas comparações contra os períodos imediatamente anteriores, na comparação com iguais períodos do ano de 2019 os resultados não foram suficientes para compensar a perda expressiva que o PIB sofreu, principalmente, no 2º trimestre. Os desafios para 2021 mostram-se grandes a partir deste cenário, tendo em vista que devido ao crescimento lento de 2017-2019 a economia não havia sido capaz de recuperar as perdas da recessão de 2014-2016. Com o choque adverso enfrentado em 2020, que ainda não foi totalmente eliminado, os resultados de 2014, pico da série histórica, parecem cada vez mais distantes de serem alcançados.” afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
Neste número, o Monitor do PIB-FGV, além dos resultados usuais, divulga informações de valores anuais a preços correntes e a preços de 2020. Uma análise mais detalhada sobre esses valores, como o PIB per capita e a produtividade dos 12 setores de atividade, encontra-se a partir da página 6 deste relatório. Estas informações encontram-se disponíveis no arquivo Excel anual do Monitor do PIB-FGV.
Na análise trimestral, o PIB apresentou, na série com ajuste sazonal, crescimento de 3,4% no quarto trimestre, em comparação ao terceiro trimestre, mostrando aceleração da atividade econômica no final do ano. Em relação ao quarto trimestre de 2019, o PIB apresentou retração de 0,8%. O Gráfico 2 do Press Release apresenta as evoluções das taxas trimestrais com e sem ajuste sazonal. Na análise mensal, o PIB apresentou crescimento de 1,0% em dezembro, na comparação com novembro. Na comparação interanual o resultado do PIB de dezembro foi de crescimento de 1,4%; o primeiro resultado positivo após nove meses consecutivos de quedas. O Gráfico 3 do Press Release apresenta as evoluções das taxas mensais do PIB com e sem ajuste sazonal.
A análise gráfica desagregada dos componentes da demanda é usualmente realizada na série trimestral interanual por apresentar menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes. Nesta edição do Monitor do PIB-FGV essas análises são realizadas na série acumulada em 12 meses, tendo em vista a divulgação do ano. Conforme já mencionado anteriormente, nas divulgações referentes aos meses do ano de 2020, também será apresentada a desagregação da taxa mensal interanual destes componentes.
Consumo das famílias
O consumo das famílias retraiu 5,2% em 2020, em comparação a 2019. Este componente, que foi um dos principais responsáveis pelo crescimento da economia, após a recessão de 2014-2016, apresentou expressivo recuo em 2020, com a disseminação da pandemia de Covid-19. O consumo de serviços foi o que mais recuou em 2020 devido, principalmente ao recuo do consumo de serviços de alojamento e alimentação, saúde privada e serviços gerais prestados às famílias.
Na análise mensal interanual nota-se que o consumo de produtos não duráveis e duráveis cresceram em dezembro de 2020. O forte crescimento de 10,2% do consumo de produtos duráveis foi devido ao aumento do consumo de todos os segmentos que compõem este tipo de bens. Já o consumo de produtos não duráveis cresceu devido, principalmente, ao consumo de produtos alimentícios e farmacêuticos; padrão recorrente no ano de 2020. A maior queda dentre os componentes do consumo segue sendo a do consumo de serviços, devido, principalmente, as retrações do consumo de alojamento, alimentação e demais serviços prestados as famílias, todos dependentes da interação social, dificultada devido à pandemia.
Formação bruta de capital fixo
A FBCF recuou 2,9% em 2020, em comparação a 2019. O componente de máquinas e equipamentos, que havia sido o que apresentou maior contribuição para o crescimento da FBCF ao longo de 2018 e 2019, foi o que principal responsável pela retração deste componente em 2020. O segmento de máquinas e equipamentos que mais influenciou neste expressivo recuo do componente foi o de automóveis, camionetas e utilitários.
Na comparação interanual, observa-se que a FBCF cresceu 14,5% em dezembro de 2020, devido, principalmente ao crescimento de 36,3% do componente de máquinas e equipamentos. Esse expressivo aumento foi disseminado entre diversos segmentos, porém os de caminhões e ônibus; tratores e outras máquinas agrícolas e; máquinas e equipamentos mecânicos em geral foram os que tiveram maiores destaques positivos.
Exportação
A exportação retraiu 1,9% em 2020, em comparação a 2019. Os segmentos exportados que retraíram no ano foram os bens intermediários, os serviços e os bens de capital; com destaque para este último que recuou 33,5% no ano. Em contrapartida, os segmentos que apresentaram desempenho positivo foram os de produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral e os bens de consumo.
No Gráfico 9 do Press Release, nota-se que o volume total exportado de bens e serviços recuou 1,9% com crescimento registrado em três segmentos: bens de consumo (11,8%), bens intermediários (12,9%) e bens de capital (7,8%). Destaca-se que a maior queda registrada foi na exportação de produtos agropecuários (-27,9%), seguida de produtos da extrativa mineral (-19,1%) e da exportação de serviços (-7,7%).
Importação
A importação apresentou retração de 10,3% em 2020. Na comparação com 2019. Á exceção da importação de produtos agropecuários, que cresceu 2,3% no período, todos os demais segmentos recuaram em 2020. Conforme apontado no Gráfico 10 do Press Release, a importação de serviços foi a principal responsável pela queda na importação com recuo de 28,4%, no ano.
Conforme apresentado no Gráfico 11 do Press Release, apesar de apenas dois segmentos da importação terem crescido em dezembro, o total da importação cresceu 10,3% na comparação interanual. Apesar das quedas nos demais componentes, o crescimento expressivo dos bens intermediários (39,7%) e dos bens de capital (34,8%) impulsionaram o total importado.
O resultado do PIB de 2020 interrompeu a trajetória de crescimento que se estendia por três anos e retornou ao patamar de 2016. A preços constantes de 2020, o PIB de 2020, embora seja um pouco maior que o de 2016, ainda é inferior aos do período 2017 a 2019. A valores de 2020, o PIB per capita equivale a R$ 35.108, menor valor desde 2008, conforme mostrados nos Gráficos 12 e 13, do Press Release.
A produtividade da economia foi de R$ 76.374 Mil Reais em 2020. Apesar de ter aumentado com relação ao início da série histórica, este resultado ainda não superou o pico da série, em 2013, período pré-recessão de 2014-2016, conforme mostrado no Gráfico 14 do Press Release. O Gráfico 15 do Press Release mostra a evolução da produtividade da atividade de transformação que foi a atividade que apresentou a maior retração de produtividade na série histórica iniciada em 2001. Nota-se expressivo aumento da produtividade em 2020, porém isso é explicado pela redução no emprego ter sido mais acentuada do que no valor adicionado da atividade.
A Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) em 2020 apresentou resultado inferior a 2019, mas superior ao apresentado em 2016. O consumo das famílias também apresentou resultado inferior ao de 2019 e superior ao de 2016. A taxa de investimento da economia foi de 16,1% em 2020; a maior taxa desde 2015 (17,3%).
Foto: divulgação