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JOSÉ MACIEL- A EMBRAPA, O MATOPIBA E O SEALBA

Redação - 08/02/2021 08:57 - Atualizado 08/02/2021
Em  estudo intitulado “2030: o futuro da agricultura brasileira”, a EMBRAPA destaca movimentos populacionais relevantes no Brasil a partir dos anos 1950-1960, e , a partir daí, elege as duas principais fronteiras agrícolas  do país na atualidade: o MATOPIBA e o SEALBA.
O referido trabalho pontua inicialmente  que o Brasil do século XX foi marcado por intensa movimentação populacional interna. Com efeito,  a partir da década de 1950, milhões de brasileiros saíram do campo em   direção às cidades. Uma parte, porém, migrou para outras áreas rurais. A grosso modo, no período 1950-1990, um em cada três brasileiros deixou seu lugar  de moradia   original e migrou em busca de melhores oportunidades de trabalho. Três principais movimentos migratórios referentes aos ambientes rurais podem ser destacados.
O primeiro, envolvendo cerca de 30 milhões de brasileiros no período aproximado entre 1960 e 1980, partiu do Nordeste rural em direção às cidades, notadamente São Paulo e regiões adjacentes em processo de industrialização.
O segundo movimento ocorreu durante a década de 1970 e consistiu  na migração para a Amazônia , motivado pelas oportunidades desta fronteira agrícola e pelas expectativas de mineração de metais preciosos. O Nordeste foi uma das origens e os destinos principais foram as áreas  alimentadas pelas rodovias Transamazônica e Belém-Brasília.
O terceiro, o que mais nos interessa do ponto de vista do Oeste baiano, e o que mais impactou a ocupação de terras agrícolas e alavancou a produção de grãos no Brasil,  foi a chamada “Caminhada dos  Sulistas”, com destaque para os gaúchos, pressionados pela escassa margem de expansão das áreas  de cultivo em seus locais de origens e alto preços dessas terras. Portanto, eles partiram , de forma mais acelerada a partir dos anos 1970 em busca de amplas áreas de terras a baixo custo, principalmente  no  cerrados. Inicialmente, os destinos principais  foram a grande Dourados (MS), partes do Triângulo Mineiro, sul de Goiás e a região de Sorriso e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Isso se intensificou nos anos 1970. A partir dos anos 1980, ocorreu, segundo a EMBRAPA, uma bifurcação: uma parte dos migrantes sulistas vai para o Norte, e outra vai para a direção leste, com epicentro importante em Luís Eduardo  Magalhães ( na época, Mimoso do Oeste), avançando para áreas de cerrados do Tocantins, Piauí e Maranhão, formando o chamado Matopiba.  Portanto, a Bahia entra messe momento definitivamente para o mapa da produção de grãos mais dinâmica do país.
É importante ressaltar que em 1996, a lista dos maiores produtores de grãos do Brasil  incluía majoritariamente municípios do Sul e Sudeste. Em 2016, apenas Uberaba figurava nessa lista; a imensa maioria era  constituída de municípios de Mato Grosso , mas alguns municípios baianos  já integravam este universo, com   especial destaque para São Desiderio, que tem ocupado a primeira posição em alguns anos , alternando esta liderança com Sorriso e Sapezal (MT) em outros anos. Se pegarmos a lista dos 50 maiores municípios produtores de grãos do Brasil, a chamada TOP 50,  a dominância é do Mato Grosso, mas a Bahia tem 6 municípios que frequentam este ranking: São Desiderio, Formosa do Rio Preto, Barreiras , Luís Eduardo Magalhães, Correntina e Riachão das Neves,  nas posições 1 (alternando com  Sorriso e Sapezal), 11, 19, 28, 32 e 49, respectivamente.
Após essa descrição  sucinta dos movimentos migratórios, a EMBRAPA  afirma categoricamente que duas fronteiras agrícolas despontam daqui para a frente em nosso País: o MATOPIBA e o SEALBA, estando partes do território baiano nas duas áreas.
O MATOPIBA, como já dissemos, inclui terras de cerrado da confluência do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Essa região se encontra em trajetória de expansão acelerada de produção de grãos, especialmente soja, algodão e milho. Possui extensas áreas de terras planas,  apropriadas para mecanização, produzindo atualmente mais de 20 milhões de toneladas  de grãos, podendo alcançar algo como 33 milhões  de toneladas em 2030, segundo algumas projeções. A parte baiana, detentora de algo entre 40 e 45% da produção dessa região, tem em Luís Eduardo  Magalhães a segunda maior Feira de tecnologia do agronegócio, só atrás da Agrishow, em Ribeirão Preto, movimentando negócios próximos da casa de bilhões de reais , no evento de 2019.
O SEALBA inclui áreas de tabuleiros costeiros e do agreste na confluência de Sergipe , Alagoas e Bahia. São cerca de 5 milhões de hectares aptos  para a produção de grãos.  Essa  região pode produzir na entressafra do MATOPIBA, conta com a proximidade de portos nos três estados , além de polo de fertilizantes. Experimentos da EMBRAPA permitiram constatar campos de soja com  produtividade acima de 70  sacas por hectare, dado este superior a média nacional, que é  de 60 sacas por hectare. No entanto, o tamanho médio das propriedades é menor que no Oeste baiano, e as terras são mais caras , dificultando a formação de extensas áreas compatíveis com as escalas de produção observadas no Oeste. Talvez o modelo de arrendamento seja mais apropriado ao cultivo de grãos nessas áreas.
(1) Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP.  E-mail:  [email protected]

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