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ADARY OLIVEIRA- ESTÓRIAS DE MINERADORES

Redação - 01/02/2021 10:59 - Atualizado 01/02/2021

São muito conhecidas as estórias de pescadores, mas vez por outra me lembro de estórias de mineradores, muitas delas verdadeiras histórias. Conheci em Andaraí, na Chapada Diamantina, um cidadão muito rico, prefeito da cidade e chefe político de muito prestígio. Ele era popular pelo ouvido apurado, capaz de descobrir segredos de cofres após poucas escutas. Contam que certa feita, apareceu na cidade um viajante vendendo uma arca que ninguém conseguia abrir. Apesar de algumas tentativas mal sucedidas ele comprou o cofre. Anos depois ele o abriu e encontrou dentro três saquinhos cheios de diamante.Ficou rico.

Lá mesmo em Andaraí, um garimpeiro presenteou um amigo comerciante com uma rocha que encontrou no garimpo dizendo: “Compadre, encontrei essa pedra parecida com um carbonato, fique com ela”. O comerciante usou omineral sobre a mesa prendendo papeis.Seus clientesfalavam sempreda semelhança da pedra com esse tipo de diamante. Um de seus amigos, mais curioso, sacou a pedra e fez um risco numa chapa de aço, exclamando: “É um carbonato”. A rara preciosidade pesava 750 quilates.

Nos anos 60 conheci em Andaraí um jovem aventureiro vindo da Rodésia (atual Zimbábue) que impressionava a todos pelas suas habilidades no manuseio das coisas, principalmente na montagem e desmontagem de motores. Ele chamava-se Frank, seu pai era rico e ele tinha migrado para o Canadá onde era mergulhador. Numa biblioteca encontrou um livro que falava dos diamantes de Andaraí. Vendeu os escafandros e rumou para a Chapada. Estando em Andaraí, onde residia minha namorada, dirigindo uma Rural Willys verde e branco, dei carona a ele até Mucugê, cidade vizinha. Ele me pediu para levá-lo até uma lagoa próxima, seguindo uma estrada que sai de Mucugê e passa em frente a belíssimo cemitériodearquitetura de origem bizantina. A lagoa é linda e rodeada de morros. Frank me contou que projetava construir um flutuador com tonéis e colocar em cima uma draga acionada por motor de Fusca. Ele acreditava que o fundo da lagoa estava repleto de cascalho, vindo dos morros lavados anos e mais anos pelas chuvas. Seu plano era bateiar o cascalho e catar os diamantes.

Dias depois Frank esteve em minha morada em Salvador e eu lhe entreguei uma carta enviada pelo seu pai. Ele usava meu endereço e reclamava do genitor que sempre o chamava de volta, enviando uma passagem de avião, nunca o dinheiro que pedia para fazer seu projeto. Desta vez o envelope continha um cheque. Ele saiu correndo. No dia seguinte, o jornal Diário de Notícias estampava uma foto dele morto. Ele descontou o cheque com Salomão, um judeu que tinha uma casa de câmbio no Comércio, e seguiu para Feira de Santana. Em Feira contratou um taxi para levá-lo até Andaraí. Teve a infelicidade de contar seu segredo para o motorista e foi assassinado. O taxista foi preso e ele sepultado no Cemitério dos Ingleses, na Ladeira da Barra, em Salvador. A lagoa de Mucugê continua lá, com seus diamantes a dois ou três metros de profundidade.

A outra estória que tenho para contar é uma história verdadeira. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), no tempo que era estatal, tinha se associado com a norte-americana United State Steel (USS) para pesquisar minério de ferro na Serra dos Carajás, no Pará. Após anos de pesquisa a USS desistiu de prosseguir e a CVRD continuou sozinha, tendo indenizado a americana com US$ 20 milhões para sair do negócio. Uma semana depois a brasileira descobriu a maior província mineral do mundo, para espanto de todos. A riqueza era de tal magnitude que o governo dos militares criou um ministério para fazer o Programa Grande Carajás (PGC).

No início dos anos 80 eu era diretor da BNDESPar e residia no Rio de Janeiro. Estive no auditório do Clube de Engenharia, na Av. Rio Branco, para assistir ao lançamento do PGC, com a presença do ministro, presidente da CNI e outras autoridades. Após a exposição, um jornalista pediu a palavra falando e mostrando um documento: “Vocês conhecem este documento? Ele é o original desse que vocês acabaram de ler. Ele foi elaborado pela Confederação Industrial Japonesa (Keidanren)”, gerando um desconforto desconcertante.A Vale continua pesquisando a região. Ela construiu uma ferrovia de 800 km descendo a serra até o Porto de Itaqui por onde circulam as maiores composições do mundo, puxada por cinco locomotivas. Em Itaqui, embarca o concentrado de minério em supergraneleiros e os vende por quase US$100,00/t, bem acima dos US$16,00/t praticados pela CVRD antes da privatização.

Adary Oliveira – engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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