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JORNAL A TARDE – ARMANDO AVENA: O DESCASO DA FORD COM A BAHIA

Redação - 14/01/2021 06:58

A decisão da Ford de encerrar suas atividades no Brasil, e especialmente na Bahia, foi uma decisão empresarial e de caráter nacional, mas não poderia ter sido anunciada  intempestivamente e sem negociação com o governo federal e estadual. Não se fecha uma fábrica que é o eixo de uma cadeia produtiva do dia pra noite e sem negociação, especialmente quando essa empresa já recebeu mais de R$ 20 bilhões em incentivos fiscais, cerca de R$ 1 bilhão em incentivos estaduais e tem empréstimos ativos no BNDES no montante R$ 355 milhões com o objetivo de desenvolver novos veículos.

E, vale lembrar, a Ford acenava com fechamento das fábricas em São Paulo, mas jamais falou ou negociou com autoridades federais ou estaduais  o encerramento das atividades em Camaçari, preferindo adotar a estratégia do “fato consumado”, sem se preocupar com os parceiros fornecedores, nem permitir qualquer tipo de negociação com os trabalhadores. Por isso, o anúncio da Ford deixou no ar um sentimento de descaso e desrespeito da empresa para com a Bahia. É preciso, portanto, que o governo estabeleça as sanções adequadas e impeça o desmonte da fábrica.

Dito isso, cabe lembrar que o fim da produção automobilística é ruim para a Bahia, especialmente para o setor industrial, mas não é o fim do mundo, a indústria baiana ainda representa 40% de toda indústria do Nordeste e seu Valor de Transformação Industrial é maior do que o dos estados de Pernambuco e Ceará somados. Mas não há dúvida de que o fechamento da Ford terá impacto negativo no setor industrial. A produção de automóveis representa cerca de 4% do PIB industrial baiano, mas quando se agrega todos os demais segmentos dessa cadeia produtiva esse percentual se eleva.

Isso significa que a fábrica da Ford não é apenas uma fábrica isolada, ela faz parte de uma cadeia interindustrial composta por  empresas que foram criadas ou aqui se implantaram orbitando em torno da produção de automóveis e que inclui sistemistas e fornecedores de primeiro, segundo e terceiro nível que serão afetados diretamente e alguns podem simplesmente fechar. E isso vai agravar a perda de importância da  indústria na matriz industrial da Bahia. Em 2009, o setor industrial  era responsável por cerca de  29% do PIB baiano, hoje participa com algo como  23%. E a indústria de transformação, que já representou 15% do PIB, hoje participa com pouco mais de 10%.

Por outro lado, a  participação da indústria da Bahia no PIB da região Nordeste, que era de 45% em 2010, caiu para cerca de 40% em 2018, e o fim do complexo automobilístico também acelera essa perda, já que o estado de Pernambuco torna-se agora o polo produtor de automóveis da região, com a Fiat ampliando sua fábrica. Tudo isso demonstra a necessidade de repensar a política industrial baiana e seu papel no modelo de desenvolvimento.

Por fim, vale destacar que o anúncio da Ford mostra o despreparo empresarial da empresa, que concentrou a produção em poucos produtos, fugiu do processo de fusões e aquisições e se posicionou mal no mercado. E cometeu outro erro ao encerrar intempestivamente as atividades em  Camaçari, uma fábrica moderna e bem equipada e que pode ser atrativa para outras montadoras, inclusive as chinesas que estão ávidas pelo grande mercado brasileiro.

                                                 FORD: QUEM SE INTERESSA

A fábrica da Ford fica no maior mercado da América Latina e foi modelada para fabricar carros de passeio e veículos esportivos (SUV), por isso vai atrair investidores. Segundo a CNN Brasil Business, quatro marcas chinesas estariam interessadas em se instalar no espaço: a Great Wall Motors, a Changan Auto, a Gelly e a GAC capitaneadas pela CAOA do  empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que já comanda a fábrica da Cherry em Goiás. E há outras montadoras interessadas, mas o governo não pode cair no canto de especuladores como a JAQ Motors e outros. E é preciso evitar o desmonte da fábrica e sua transferência para a Argentina.

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