Em 2017 integrei um grupo de empresários da Bahia que foi a Brasília prestigiar o conterrâneo João Martins, que tomava posse como presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Durante a cerimônia notei que perto de mim estava sentado um brasileiro que o mundo todo deveria reverenciar: Alysson Paolinelli. Levantei-me e fui até ele para cumprimentá-lo, revelando a satisfação que estava tendo por cumprimentar um dos mais importantes brasileiros da atualidade. Alysson nasceu em Bambuí, Minas Gerais, em 10 de julho de 1936 e exerce a profissão de engenheiro agrônomo. No final da década de 60 fundou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa) através da qual ampliou seus estudos sobre o potencial da região do Cerrado para a produção agrícola.O mineiro foi secretário da Agricultura por três vezes e ministro da Agricultura no governo de Ernesto Geisel de 1974 a 1979.
Os Cerrados sempre foram considerados uma região improdutiva e para muitos fadada a se transformar em deserto. Na época o Brasil seguia sua tradição de exportador de produtos agrícolas e mantinha-se reconhecido como grande exportador de sobremesas: café, açúcar e cacau. A criação de 26 representações da Embrapa e a pesquisa de novas tecnologias para aumento da produtividade, transformaram os Cerrados em uma das mais elevadas áreas de produção de alimentos do mundo. Além de maior produtor de café do globo o Brasil consolidou-se como líder na produção de açúcar, soja, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, milho e algodão. Segundo o IBGE o cerrado brasileiro é responsável por 46% da produção de soja, 49% da de milho, 93% da de algodão, 25% da de café, além de deter 32% do rebanho de bovinos e 22% do de frango e suínos.
Muito se tem criticado o Brasil por adotar ao longo dos tempos uma posição de exportador de produtos primários, de baixo valor agregado. Defende-se a adoção de estratégia de exportação de produtos manufaturados com a qual se obteria maior receita e mais postos de trabalho. O avanço nas exportações é mais fácil de ser conseguido quando se procura produzir o que o mercado mundial está demandando, sendo recomendávelexportar o que está sendo largamente consumido, ao invésdaquilo que se está fabricando em abundância, muitas vezes sem vínculo com o consumo mundial. Também é bom salientar que o mundo vai sempre importar alimentos, fato garantido pelo crescimento vegetativo da população mundial, mesmo diante da ameaça de novas pandemias. Para isso é necessário se somar à tecnologia de produção a disponibilidade de terras agricultáveis e de sol durante grande parte do ano, itens que muitos países desenvolvidos não mais dispõem. Além disso, vale o registro que as commodities agrícolas são sazonais e renováveis, o que as diferem dos minerais na forma primária, muitas vezes fartos, mas finitos, com data de extinção marcada.
A revolução que a Embrapa de Alysson Paolinelli trouxe para os Cerrados precisa ser repetida para o nosso vasto semiárido. Além da produção mineral e do êxito que está tendo com os investimentos na geração de energia eólica e solar fotovoltaica, precisa encontrar um caminho que amplie sua agricultura, coisa que só se poderá conquistar com muita pesquisa, tecnologia, inovação e absorção das mudanças que proporcionem aumento da produtividade e do consequente aumento da produção. A identificação de culturas capazes de resistir à seca e que possam servir de matéria prima na produção de bens consumidos em larga escala no mundo, como alimentos, ou na formulação de materiais diversos, é um caminho difícil, mas não intransponível.
Do mesmo modo vale sempre lembrar que muitos dos insumos agrícolas que o nosso agronegócio consome e são trazidos do exterior, como a amônia e ureia sintetizados a partir do gás natural, os fosfatados solúveis fabricados a partir da rocha fosfática e do ácido sulfúrico e as substâncias potássicas obtidas do cloreto de potássio, poderiam ser aqui industrializados, necessitando da adoção de políticas públicas incentivadoras. Assim, vale a pena se iniciar o ano sonhando, acreditando que é possível encontrar solução para se trilhar os caminhos do desenvolvimento como Alysson Paolinelli tão bemmostrou, e o fez merecedor das homenagens que aqui são a ele prestadas.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]