O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quinta-feira (31) que, sem a adoção de medidas de ajuste fiscal, as contas públicas em 2021 só cumprirão o teto de gastos se o governo tiver superestimado valores no Orçamento.
O teto é uma regra aprovada em 2016 para limitar por 20 anos o crescimento das despesas públicas à variação da inflação.
“Analisei com a equipe da Câmara o Orçamento enviado pra 2021. Sem a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) emergencial, só existe uma forma de cumprir o teto de gastos: acreditar que o governo federal enviou a LOA (Lei Orçamentária Anual) com superestimativa nos valores encaminhados para a Previdência”, disse Maia em redes sociais.
A PEC emergencial está travada no Senado há mais de um ano. A medida propõe o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal em momentos de dificuldade financeira do governo. Entre as ações previstas no texto, estão a redução de jornadas e salários de servidores públicos, a suspensão de concursos e um bloqueio à criação de cargos.
Ao apresentar a proposta de Orçamento para 2021, o governo previu uma despesa superior a R$ 700 bilhões com benefícios previdenciários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O valor é recorde, mas representa estabilidade quando observado em relação ao PIB (Produto Interno Bruto).
Quando o texto foi enviado ao Congresso em agosto, técnicos do governo afirmaram que o teto de gastos estava próximo ao limite, mas seria cumprido. No entanto, um descompasso entre regras deve provocar um aumento da pressão sobre o Orçamento.
A correção do limite para o teto de gastos no ano que vem levou em conta a inflação encerrada em junho deste ano, que ficou em 2,13%, patamar considerado baixo. No entanto, o reajuste do salário mínimo, que impacta as contas públicas, leva em consideração a inflação do ano completo de 2020 –os índices de preços tiveram forte alta no segundo semestre.
Nesta quarta-feira (30), o governo anunciou que o salário mínimo será reajustado em 5,26%, de R$ 1.045 para R$ 1.100, valor maior do que o estimado anteriormente. O aumento gera um impacto direto nas contas federais de R$ 19,3 bilhões, aproximadamente R$ 4 bilhões a mais do que o previsto pelo governo na proposta de Orçamento.
Em entrevista após o anúncio, membros do Ministério da Economia afirmaram que o custo adicional será incluído no Orçamento e respeitará a norma fiscal.
“Está dentro do espaço do teto, estamos bem embasados nisso. Todas as regras fiscais serão respeitadas”, afirmou o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida.
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress