Para tudo que se faz na vida há um adágio popular tido como bom conselho, recomendando precaução na hora de agir. No tempo em que eu jogava futebol e não perdia um baba do final de semana, costumava seguir a orientação dos mais velhos quando diziam: “não vá de vez na bola, senão você toma banho de cuia”. “A pressa é inimiga da perfeição” é um ditado muito usado para se recomendar os cuidados que se deve ter para se fazer tudo direito. É muito popular o que diz “apressado come cru” para aconselhar paciência, para não se fazer mal feito. Gosto muito daquele que diz “não vá com muita sede ao pote” e mais ainda de seu complemento quando narra que se pode morrer engasgado em cinco minutos, mas de sede se demora uma semana, como me ensinou um grande empreiteiro daqui da Bahia. Um político disse uma vez que “quem nunca comeu melaço, quando come se lambuza”, comentando um dos erros de seu partido, quando muitos de seus correligionários perderam a compostura na chegada ao poder.
A pandemia do coronavírus, que já matou perto de dois milhões de pessoas, longe dos 50 milhões causados pela gripe espanhola, tem provocado uma corrida sem igual para saber quem consegue produzir uma vacina imunizante em meses, antigamentesó possível de se fazer em ao menos dez anos. A disputa lembra os tempos da guerra fria entre os países considerados potências mundiais, uns querendo demonstrar que eram capazes de fabricar uma bomba com capacidade destruidora de muitos megatons, outros querendo ganhar a corrida espacial com seus satélites artificiais e viajantes siderais. Além de lembrar a guerra fria a contenda serve de fundo a campanhas dos políticos locais com uma pressa de espantar, mais preocupados em chegar primeiro do que com a eficácia da vacina. Os melhores cientistas do mundo, as melhores companhias farmacêuticas e os laboratórios de pesquisa os mais avançados tecnologicamente, colocam-se à serviço deles e entram na briga querendo demonstrar maior nível de competência.
Talvez seja até recomendável esperar um pouco para saber qual das vacinas que estão sendo inventadas a que proporciona melhor resultado ou capaz de não vir acompanhada de efeitos secundários nocivos. Mas “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém” como já diziam os mais velhos. Sei que a comparação é aterrorizante e os tempos são outros, mas não custa nada lembrar o consumo da talidomida, substância usada como medicamento sedativo, anti-inflamatório e hipnótico que tanto mal causou a humanidade. Apesar de ter sido aprovada por várias agências regulatórias ela só foi proibida quando seus efeitos teratogênicos, quando era ingerida durante a gravidez e em mulheres que podiam engravidar, causaram má formação ou ausência de membros no feto.
Não se pode deixar de ressaltar os esforços que estão sendo dispendidos pela Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e pelo Instituto Butantan, em São Paulo, no campo da pesquisa e da produção, para atender a demanda de mais de 200 milhões de pessoas só em nosso País. Essas duas instituições colocam o Brasil no topo da pesquisa científica mundial e são comparáveis ao que existe de melhor no mundo. Se elas nos enchem de orgulho e fortalecem a nacionalidade brasileira, não devem deixar escapar a oportunidade de demonstrar o valor da investigação naesfera das ciências e juntar argumentos capazes de estabelecer maior prioridade orçamentária para seus propósitos.
Ainda sobre cuidados e precauções vale a pena lembrar alguns ditos: “a boa vida não quer pressas”, ou “a pressa é a madrinha dos arrependidos”, ou ainda “se tens pressa vai andando”. Na área industrial cometemos erros por falta de cuidado ou por acreditarmos na conversa do vendedor. Aqui na Bahia, por exemplo, jogamos um bocado de dinheiro fora e perdemos um montão de tempo quando adquirimos de holandeses tecnologia de uma fábrica de melamina que nunca funcionou, compramos de americanos projeto básico de uma planta de silicone fechada por não funcionar bem, e obtivemos de italianos informações de processo produtivo de uma central de síntese de insumos da química fina recheadas de erros e inconsistências. Portanto, tanto na química como na farmácia é bom se ter muito “cuidado com o andor porque o santo é de barro”.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]