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ELEIÇÃO 2018: POR ENQUANTO, A POLARIZAÇÃO É OUTRA

admin - 24/08/2018 07:08 - Atualizado 24/08/2018

Os políticos precisam cultuar a arte do autoengano, afinal necessitam acreditar nos seus candidatos, mesmo quando as pesquisas indicam que são poucas suas possibilidades de êxito. Entre os políticos do PT e do PSDB, o autoengano do momento tem o nome de horário eleitoral gratuito. O PSDB e seu candidato Geraldo Alckmin, por exemplo, apostam todas as suas fichas no programa eleitoral, mas nada está a indicar que o tempo de televisão alavancará um candidato cuja trajetória nas pesquisas não dá sinais de crescimento e que enfrenta dificuldades nos seus dois principais redutos eleitorais, o Sul e o Sudeste do país. No Nordeste, monopolizado pelo PT, não há televisão que alavanque o candidato do PSDB e no Sul, antigo reduto do partido, Bolsonaro lidera com 30% e Álvaro Dias sangrou os votos de Alckmin.

Não vamos esquecer que faltando um mês para a eleição de 2014 Aécio Neves já tinha 15% das intenções de votos, ao passo que Alckmin não consegue chegar aos dois dígitos.  Do lado do PT, a televisão também é fundamental para transformar Fernando Haddad em Lula, mas nada parece indicar que isso seja possível. Pesquisa Datafolha mostra que caso Lula não seja candidato, apenas 17% dos eleitores dele aceitam votar em Haddad. E na pesquisa Ibope a situação é pior: 60% dos eleitores dizem que não votará em Haddad de jeito nenhum se Lula for impedido de concorrer. Para completar, Haddad só é conhecido por 59% dos brasileiros, o que significa que o programa de televisão teria de fazer o milagre de fazê-lo conhecido e  transformá-lo em Lula em pouco mais de um mês.

Programa de televisão não tem poderes divinos, especialmente se o produto não empolga e tanto Alckmin quanto Haddad, sem o molho de Lula, tem gosto de chuchu no meio da salada. Enquanto isso, o famigerado Jair Bolsonaro crava 15% de intenções de votos em pesquisa espontânea, quando não se apresenta nomes ao eleitor, e está crescendo ao passo que Alckmin e Haddad patinam em 2% ou menos. É impressionante a incompetência dos dois maiores partidos brasileiros, já que, no momento em que o povo brasileiro anseia pelo novo, o PSDB aposta num político tradicional e sem carisma e o PT faz campanha no Brasil inteiro por um candidato que não vai disputar as eleições. Nesse cenário é cada vez mais provável que Jair Bolsonaro esteja presente no segundo turno, mas isso não significa que o Brasil terá de aturar suas ideias extravagantes e retrógadas, pois sua taxa de rejeição é superior a 37% e as pesquisas indicam que ele perderia as eleições, qualquer que fosse seu adversário. E aí surge a grande incógnita do processo eleitoral: consolidado Bolsonaro, quem irá enfrentá-lo no segundo turno? Pouco se pode dizer quanto a isso.

Embora superestimado, o programa eleitoral pode influenciar os eleitores, especialmente os indecisos, as redes sociais vão mostrar se tem força eleitoral , os debates podem ser decisivos  e 22% dos eleitores dizem que vão votar branco ou nulo. Tudo isso indica que a eleição está completamente indefinida. Mas no atual cenário, a anunciada polarização entre PT e PSDB está longe de acontecer, até aqui a polarização é outra e, segundo o Datafolha, está dada entre Bolsonaro com 22% das intenções de votos e Marina com 16%  que, vale segundo a pesquisa,  terá 10% dos votos dos eleitores de Lula se ele não for candidato.  Os analistas se apressarão em dizer que Marina e Bolsonaro tem menos de 10 segundos no horário eleitoral, mas o problema é que nesses tempos bicudos e com  uma população indignada ninguém garante que o eleitor dê crédito aquele chatíssimo programa que invade suas casas sem permissão. Muita água ainda vai rolar nas eleições de 2018, mas por enquanto a polarização é outra.

                                             O BRASIL PRÉ-CAPITALISTA

Quando o leitor entrar em uma loja em Nova York, Londres ou Xangai para comprar um produto, a única coisa que o vendedor vai querer saber é se ele tem dinheiro. No Brasil não, aqui todos querem saber seu nome, filiação, data de nascimento, etc, ou seja, todas as lojas brasileiras querem fazer o seu “cadastro”. O famigerado cadastro é uma forma de fugir da competição de mercado, de modo a que todas as lojas pratiquem preços semelhantes e se diferenciem nas promoções, incentivos, etc. Só no Brasil, remédio baixa de preço quando se tem cadastro e médico ganha brinde quando passa receita. Esses são  alguns exemplos para demonstrar que a burocracia não está apenas no governo e que a vontade de levar vantagem em tudo não está apenas nos políticos, mas também nos agentes econômicos. E o artigo seria pequeno para listar como os postos de gasolina preferem o cartel, ao invés da competição; como nos bancos os juros são sempre altos e não há competição; como as lojas continuam vendendo “sem juros”, quando todos sabem que isso é uma mentira e por aí vai. As artimanhas pré-capitalistas estão em toda à parte, especialmente nos mercados onde não existe competição externa. E assim fica difícil ser competitivo.

                                                     O DÓLAR E A ELEIÇÃO

O mercado quer estabilidade e em ano eleitoral ele reflete isso na cotação do dólar e da bolsa de valores. Por isso a moeda americana está em alta e no fechamento desta coluna girava em torno de 4,10 reais, e o dólar turismo em quase em 4,30. O problema é que, para o mercado,  Geraldo Alckmin representa a estabilidade e como o candidato do PSDB não está decolando, o dólar decola. Há também a preocupação no mercado quanto a possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, já que alguns analistas superestimam a capacidade de Lula transferir seus votos. Se essa previsão se confirmar, não será apenas o mercado que vai entrar em polvorosa, muito eleitor também vai ficar baratinado.

                                                 PESQUISA NA BAHIA

A pesquisa Ibope de intenções de voto sobre as eleições na Bahia não trouxe novidades na disputa pelo governo do Estado, e o governador Rui Costa lidera com  50% dos votos. Mas a disputa pelo Senado, especialmente a segunda vaga parece que vai ser com emoção. Chama atenção o fato de que os eleitores que ainda não sabem ou não responderam em quem vão votar nas duas vagas atinge 36%, percentual maior do que o do ex-governador Jaques Wagner, da ordem de 34%. Além disso, no que se refere à segunda vaga, 35% dos eleitores afirmam que vão votar branco ou nulo, contra 25% no caso da primeira vaga. E a diferença de intenção de votos entre os candidatos é grande.  O Irmão Lázaro do PSC registra mais que o triplo de intenções de votos do candidato do PSD, Ângelo Coronel,  que tem apenas 7% das intenções de voto, metade do escore de Jutahy Magalhães, do PSDB. Na Bahia, tradicionalmente, os candidatos eleitos para o Senado são da mesma coligação que elege o governador, mas com o pouco tempo que resta de campanha a coligação de Rui Costa vão precisar trabalhar dobrado para eleger Coronel.

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