O Carrefour Brasil anunciou nesta segunda-feira (23) que vai criar um fundo para promoção da inclusão racial e combate ao racismo no país. O fundo terá aporte inicial de R$ 25 milhões. “O Grupo Carrefour Brasil está fortemente comprometido em lutar pelo combate ao racismo estrutural no país e promover ações afirmativas para a inclusão social e econômica de negros e negras na sociedade”, informou a companhia. O anúncio ocorre após a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, assassinado por dois seguranças da rede de supermercados Carrefour em uma unidade localizada em Porto Alegre.
“Sabemos que não podemos reparar a perda da vida do senhor João Alberto. Este movimento é o primeiro passo da empresa para que o combate ao preconceito e racismo estrutural, que é urgente no Brasil, ganhe ainda mais força e apoio da sociedade. Acreditamos que poderemos evoluir e contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária”, afirmou em nota Noël Prioux, CEO do Grupo Carrefour Brasil.
A empresa afirmou ainda que nos últimos dias tem se reunido com especialistas e entidades representativas da causa para compreender e aprender sobre como atuar de forma concreta na luta contra discriminação, incluindo outros públicos além da população negra. “A partir das reivindicações, a empresa anunciará na quarta-feira, 25 de novembro, os compromissos e o plano de ação do trabalho, que nortearão este fundo. As iniciativas compreenderão ações internas e projetos de âmbito externo, visando promover ações que envolvam seus milhares de colaboradores e também seus públicos externos”, informou a rede.
As ações do Carrefour Brasil, que subiram 0,5% na sexta, caíram 5,35% nesta segunda, a R$ 19,30, a maior queda do Ibovespa, principal índice acionário do Brasil, no pregão. A empresa passou de R$ 40,478 bilhões para R$ 38,314 bilhões em valor de mercado, perdendo assim R$ 2,16 bilhões nessa métrica. Também nesta segunda, doze grandes empresas do segmento de consumo, todas fornecedoras da rede de supermercados Carrefour, anunciaram um compromisso público em defesa da igualdade racial. Estão representadas nessa nova aliança, ainda sem nome, grandes marcas: BRF, que integra Sadia e Perdigão, Coca-Cola, Danone, General Mills, Heineken, JBS, Kellogg’s, L’oréal, Mars, Mondeléz, Nestlé e Pepsico.
No documento, as companhias se solidarizam com a dor de familiares e amigos de João Alberto e afirmam que irão criar um plano de ação em parceria com organizações e especialistas com conhecimento legítimo da causa racial. O presidente da Coca-Cola na América Latina, Henrique Braun, comentou o caso Carrefour sua em rede social nesta segunda-feira (23). Na mensagem, Braun afirma que a morte de João Alberto chocou a todos e que “não há lugar para o racismo no mundo”.
O executivo reforçou que a Coca-cola e outras gigantes do segmento de consumo —todas fornecedoras da rede de supermercados Carrefour —assinaram um compromisso público em defesa da igualdade racial. “Não podemos permitir que mais casos como esse voltem a acontecer. Mas o que fazer? Essa pergunta motivou a reunião de 11 empresas de bens de consumo. Criamos uma coalizão e vamos estabelecer um plano de ação concreto, elaborado junto a entidades com conhecimento legítimo da causa”, afirmou.
Outra empresa a se manifestar sobre o caso foi a editora Ediouro Publicações, que suspendeu a distribuição do livro “A empresa antirracista”, de Maurício Pestana, lançado neste mês pelo selo Agir. A obra aborda iniciativas de grandes corporações globais para combate ao racismo e traz uma entrevista com Noël Prioux, presidente do Carrefour Brasil. A editora afirma que tomou a decisão em conjunto com o autor do livro por causa da morte de João Alberto. “A Ediouro presta sua solidariedade à família da vítima neste momento de enorme tristeza”, diz o comunicado. No sábado (21), a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que reúne 73 organizações signatárias, informou que desligou o Carrefour da lista de empresas parceiras.
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