Com a definição da eleição americana a favor do democrata Joe Biden , começam a surgir as primeiras análises e especulações acerca dos impactos da escolha do candidato democrata sobre a economia brasileira em geral, e sobre o agronegócio nacional em particular.
Cabe inicialmente fazer alusão a algumas premissas que serão destacadas neste exercício preliminar. Geralmente, alguns analistas admitem que , enquanto os governos republicanos tendem adotar posições próximas de uma economia de livre mercado, com menor intervenção estatal na economia e menor protecionismo comercial , dentre outras , os
democratas se aproximariam mais de posturas intervencionistas, maior protecionismo, maior gasto público e adoção de subsídios para alguns setores, como o agronegócio. Uma retrospectiva dos governos americanos recentes relativiza esses estereótipos, com governos de ambos os partidos tendendo mais para uma postura mais intervencionista a favor dos interesses americanos, como aliás atesta o governo republicano de Donald Trump, com o seu lema “America First”. Talvez no plano da tributação resida uma diferença mais nítida, com os republicanos mais favoráveis a incidência de menores tributos para empresas e pessoas físicas , e os democratas mais inclinados a uma posição oposta.
Por seu turno, embora alguns analistas não acreditem em grandes reviravoltas da política externa americana em relação ao Brasil, parece haver um certo consenso de que o governo Biden deve pressionar mais nossa política ambiental , muito criticada pelos europeus , notadamente na questão dos desmatamentos ilegais, sobretudo na Amazônia. O próprio candidato democrata prometeu ajudar o Brasil com recursos para reduzir os desmates, mas acenou com ameaças de consequências duras para o nosso país se o atual governo não praticar medidas efetivas com respeito à essa temática.
Outro ponto importante para os nossos interesses diz respeito à tensão comercial dos americanos com a China. Aqui, é possível constatar variantes na posição a ser adotada por Biden, desde uma moderação do tom adotado por Trump até quem ache que a tensão pode persistir em outras moldes , pois há interesses geopolíticos e estratégico-militares envolvidos nas relações com os chineses. Durante o governo Trump, referida tensão favoreceu nossas exportações do agronegócio para a China , sobretudo para os complexos soja, carnes e algodão, itens que levaram nossas vendas para esta nação asiática alcançarem quase 40% de nossas exportações setoriais no ano passado.
A retomada da Parceria Transpacífica e a possível vinculação de acordos comerciais dos EUA com o Brasil à questão climático- ambiental podem também interferir com as nossas exportações, notadamente nas 3 cadeias produtivas acima citadas, tanto para os EUA como para países asiáticos do Pacífico, como Japão, Singapura, Malásia e outros. Mas, por outro lado, a volta dos americanos ao Acordo do Clima pode trazer benefícios para as nossas vendas e produção de biocombustíveis, dentro da perspectiva de busca de uma matriz energética calcada em energias renováveis.
Enfim, essas são especulações preliminares, e deveremos voltar a esse assunto em outra oportunidade.