Historicamente, a França é o país europeu que tem anteposto mais resistências e dificuldades às nossas exportações agropecuárias. mas outras nações vêm aumentando suas ameaças, como Alemanha e principalmente a Inglaterra. A negociação do acordo União Europeia com o Mercosul, concluída recentemente, bem demonstra o tamanho dessas dificuldades.
Matéria de 02 de setembro último do Valor Econômico dá conta de que o governo inglês cogita lançar uma Consulta Pública para criar uma lei que garanta que as commodities (especialmente as agrícolas) importadas não estejam ligadas a desmatamentos ilegais. Essa iniciativa vem se somar a outras em curso em outros países, a exemplo da França, que, juntas, podem interditar ou dificultar as vendas externas brasileiras de produtos do agronegócio. A decisão do governo inglês, se efetivada, obrigará as
cadeias de suprimentos britânicas a fazerem a “diligência devida” em relação a riscos florestais e ambientais de importações de commodities. O governo de Boris Johnson sustenta que o Reino Unido consome e importa volumes importantes de sete commodities, cujos níveis de expansão da produção têm sido associadas por eles a desmatamentos. São elas: carne bovina, couro, soja, papel, celulose , borracha e óleo de palma.
Segundo a reportagem do Valor Econômico, o texto da consulta pública mira as florestas em geral, mas o Brasil é, sem dúvida, o alvo principal. Ainda conforme o texto citado, a conformidade apenas com o Código Florestal brasileiro já levaria a um aumento da nossa cobertura florestal de cerca de 15% até 2050.
Dois pontos em especial merecem destaques dos analistas. O primeiro é o fato do governo inglês ter feito clara distinção entre o desmatamento legal e o desmate ilegal, e aqui a preocupação deles é com o desmatamento ilegal. O segundo ponto reside na suposição de que a futura lei britânica será aplicada às grandes empresas, que deverão ter o poder ou a capacidade de formar tendências para o universo das demais empresas. A interpretação corrente é que a Inglaterra pretende seguir os passos da França. que já formulou planos de eliminar ou diminuir gradualmente o uso dessas matérias-primas importadas, podendo eventualmente ampliar aquela lista para incluir café, algodão, cana e até commodities minerais. Alemanha, Suíça e União Europeia parecem também, estudar alternativas nessa direção. Não se sabe o formato que terá a regulação da União Europeia a respeito desse tema, mas membros do Parlamento Europeu admitem que a imposição de regras muito duras podem privar as cadeias produtivas europeias de matérias-primas importadas e de baixo custo, como é o caso da soja brasileira.