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ADARY OLIVEIRA – O PETRÓLEO PODERÁ SER NOSSO

Redação - 22/06/2020 08:46

Lá se vão 90 anos que a teimosia do engenheiro delegado de terras Manoel Ignácio Bastos e do presidente da Bolsa de Mercadorias da Bahia Oscar Cordeiro iniciaram a saga da descoberta do petróleo no Brasil e ainda não conseguimos afirmar se o petróleo é nosso, como se apregoava nos anos que antecederam a criação da Petrobras. As perfurações realizadas em Lobato, subúrbio de Salvador, duraram nove anos e fez surgir a esperança de que um dia passaríamos a ser um grande produtor de petróleo, deixando a pobreza para traz.

Os tempos estão mudando com a pandemia do coronavírus e o petróleo parece se firmar no patamar dos US$ 40,00 o barril, o que viabiliza muitos dos negócios do setor. Se de um lado, ocorre a alta de consumo nos Estados Unidos, na China e em países asiáticos, do outro lado, o fato dos membros da OPEP+, como se chama hoje a Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais os grandes produtores como Rússia e Arábia Saudita, decidiram reduzir a produção fazendo o preço subir. Tal nível de preço reascende a expectativa do comércio de petróleo voltar a ser um bom negócio para os pequenos e médios produtores estabelecidos no Nordeste.

A Petrobras está mesmo firme no cumprimento de sua decisão de se desvencilhar dos campos maduros de pequena produção. Depois de ter concluído a venda de 34 campos de petróleo do Riacho da Forquilha da Bacia Potiguar, para uma subsidiária da Petrorecôncavo, e de ter vendido 100% de suas participações de quatro campos terrestres da Bacia de Tucano, na Bahia, para a Eagle Exploração de Óleo e Gás Ltda. anunciou a venda de ativos de exploração e produção por ela operados no estado de Alagoas. Trata-se do Polo de Alagoas que compreende sete concessões de produção de petróleo: Anambé, Arapaçu, Cidade de São Miguel dos Campos, Furado, Paru, Pilar e São Miguel dos Campos. A venda inclui, ao lado das concessões de produção em terra e águas rasas de petróleo e gás natural, a Unidade de Processamento de Gás Natural de Alagoas que produz condensado de gás.

Ademais, o setor privado continua organizando-se para ampliar sua participação nesse campo de atuação com mais de 30 empresas no Nordeste, contando ainda com dezenas de prestadores de serviços principalmente nalogística e na engenharia. Também desperta atenção a montagem de refinarias menores para processamento do óleo produzido na região, a exemplo da Dax Oil, instalada em Camaçari, que já produz óleo combustível, óleo diesel e solventes. Adicionalmente a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autorizou a empresa Brasil Refinarias a construção de nova refinaria de petróleo na Bahia. Ela deverá produzir nafta, óleo diesel, querosene e óleo combustível.

A informação que se tem é que as companhias operadoras particulares, usando tecnologia de produção mais avançada do que a da Petrobras, estão conseguindo dobrar a produção de óleo, tornando a iniciativa super rentável. Embora sejam investimentos pequenos, quando se fala em extração de petróleo, são muito atrativos e podem crescerrapidamente. Ademais, como os campos estão localizados no interior, apresentam a vantagem de fazerem prosperar áreas mais pobres, o que é bom para o desenvolvimento. Se um dia for permitido a concessão da exploração para os fazendeiros, permitindo-os bombearem óleo de poços tamponados em seus pastos, desativados há muito tempo, dando-se a eles a oportunidade de engrossarem seu faturamento, tal atividade vai melhorar ainda mais. Os donos das minis refinarias levariam seus caminhõestanque para essas fazendas e fariam a coleta do óleo, como é feito no Texas, nos Estados Unidos, e em Alberta, No Canadá.

O assunto petróleo deveria figurar na pauta do Consórcio Nordeste, entidade que congrega os sete estados nordestinos, para traçar uma política de fortalecimento do setor, acrescentando-lhe linhas de crédito, construção de rodovias e gasodutos, unindo assim os traços culturais dos nordestinos com a rede física de produção. Se tudo isso vier a acontecer poderemos um dia dizer que o petróleo é nosso de verdade.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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