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ADARY OLIVEIRA- AS CAMINHADAS MATINAIS

Redação - 08/06/2020 06:00

Caminhada matinal é uma prática esportiva recomendada pelos médicos para as pessoas de todas as idades. O bairro da Pituba é um dos lugares de Salvador onde grande número de soteropolitanos e interioranos escolheram para esse tipo de exercício, atraídos pelo amplo calçadão da orla. A partir das cinco e meia da manhã um grupo dos mais animados percorre diariamente cerca de seis quilômetros contando piadas, cantarolando, recitando poesias, mas também comentando sobre política, economia, futebol e claro, falando da vida dos outros.
As pessoas que caminham pela orla da Pituba são já conhecidas de todos. A rezadeira, é uma que passa orando e debulhando o rosário. A turma sempre pede para ser incluída nas preces. O cantador, é outro que cruza correndo e espantando seus males. Ele canta baixinho e as canções e sua voz são horríveis. Ainda bem que corre e é pouco ouvido. As meninas que passam são lindas e estão sempre bem vestidas. Poucas, por merecerem, são cumprimentadas, como a deusa do ébano, linda morena moradora da Boca do Rio. O sorriso dela é para poucos e ultimamente ela anda sumida. Dizem que foi ter neném. O antipático múmia passa marchando, balançando os braços como se fora um soldado. Parece um trator, quem quiser que saia da frente. Engraçada é a mulher que ama os cachorros, sempre acompanhada de seu marido e contando anedotas. Dizem que ela recolhe cães pelas ruas e os trata bem. Os gêmeos são quase iguais, mas um é mais dado, torcedor do Bahia, sempre alegre. O outro é caladão, introspectivo.
A farra é animada e faz o percurso parecer mais curto. Um dos componentes mais assíduos tem as pernas arqueadas, conhecidas popularmente como cambotas. Toda pessoa cambota que passa pela frente é apontada por alguém como irmão dele. Tem um cara que passa quase todos os dias pelo grupo, cambota de apenas uma perna, quando se comenta “esse daí também é irmão, mas só por parte do pai”. O fulano não se importa com a brincadeira. Um outro é o gordinho, só pensa em comer e só fala nos vinhos escolhidos para o jantar. Ele é pouco assíduo, anda devagar e por isso tem o apelido de mala. Quando ele comparece alguém tem de ficar carregando-o, sempre mais atrás. Outro dia o aconselharam a aprender a andar de patins, assim ele passaria a ser uma mala com rodinhas. Um professor componente da turma costuma pronunciar de forma jocosa o nome de um outro colega toda vez que passa por uma cabrocha com os traseiros exuberantes, no que o nominado concorda dizendo: “gente boa, gente boa”. Um deles gosta de imitar passarinhos e é sempre respondido pelo bando de pássaros pretos do coqueiral. A turma tem uma musa. A única mulher do grupo, um amor de pessoa. Se alguém se torna inconveniente, ou se a discussão descamba para um desentendimento, ela está ali, ativa, sempre pronta para mediar um fim. Também se alguém falta à caminhada, ela telefona para saber o que houve.
A andada se passa em meio a distrações hilariantes, como o local onde um coronel da reserva faz ginástica e brinca com todos que passam. Sempre tem uma quadrinha pronta para falar e nunca se zanga com as brincadeiras dos transeuntes. Ele não é tonto, mas às vezes parece um barata. No fim da caminhada a pausa obrigatória é na barraca de cocos. O vendedor se diverte com seus fregueses alegres, os únicos da orla que têm conta corrente. A mesa é cativa e o coco de boa qualidade. Um elemento do grupo sempre leva a polpa para casa, dizendo que é para seu cachorro. Mas outro dia brindou a todos com uma excelente cocada.
Pelo pouco escrito pode-se perceber que a caminhada faz um bem danado a todos. Além de exercitar o físico ajuda em muito a mente e afasta todas as doenças. Aliás, é dos latinos o provérbio que diz: “mens sana in corpore sano”. Infelizmente o coronavírus está demorando de ir embora e as caminhadas estão suspensas até segunda ordem. Que passe logo, para a turma voltar a se reunir e disseminar o riso pelo calçadão do Jardim de Alah, Centro de Convenções e Boca do Rio. E que todos voltem a viver no ambiente de alegria e felicidade.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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