Jay Forrest, do Massachusetts Institute of Technology – MIT (USA), publicou em 1961 famoso trabalho intitulado Industrial Dynamics onde simulou o comportamento de variáveis da indústria, como níveis de estoque e de pedidos em carteira, fluxo de matérias primas, produtos intermediários e bens finais, usando expressões matemáticas para relacioná-las entre si. Algumas equações são de entendimento fácil, como por exemplo, o nível de estoque de hoje (n) é igual ao nível de estoque de ontem (n – 1), mais a produção do dia, menos o que saiu do estoque. Outras, por usarem média móvel ou outras funções analíticas, são para um leigo mais difíceis de entender. Alguns sistemas produtivos têm cadeias simples, mas outras são mais extensas, como a do algodão que tem pelo menos seis etapas: beneficiamento, fiação, tecelagem, confecção de roupas, atacadistas, varejistas, sem falar em padronagem, tintura, moda e financiamento. Em todas elas se tem o controle dos níveis do estoque inicial, dos pedidos em carteira (ou do bem final) e dos fluxos entre cada passo.
Partindo-se do sistema em equilíbrio, onde a representação gráfica das variáveis segue em linha reta horizontal, introduz-se uma alteração, como por exemplo o aumento das vendas em 10%. O que se verifica, através da simulação, é que todo o sistema se altera e tende para uma nova posição de equilíbrio, mas em tempos diferentes. Algumas delas entram em equilíbrio imediatamente, outras oscilam e levam meses para voltar ao normal. Isso mostra que a relação entre os elementos de um sistema segue leis complexas, não triviais. O seu entendimento só pode ser pleno através da formulação e validação de modelos.
A quarentena a que estamos submetidos para nos proteger do coronavírus, por exemplo, fez com que algumas cadeias indústrias reduzissem sua produção em 70%, devido à queda do consumo. Se a produção cai, o faturamento também desaba. Se o faturamento rui, todos os stakeholders são afetados. Os acionistas da empresa recebem menos dividendos, os empregados têm seus salários reduzidos, os fornecedores de bens e serviços entregam pouco, os bancos emprestam menor valor para o giro e o governo arrecada limitados tributos, para citar apenas alguns dos elementos que estão diretamente ligados à indústria. De todos eles, o que mais deixa de receber é o governo. Para se ter uma ideia, apenas uma das fábricas de nosso parque industrial, a refinaria de Mataripe, nos tempos do petróleo de US$140,00 por barril, era responsável por cerca de 30% do ICMS, principal tributo recolhido pelo Estado da Bahia.
Caindo a receita tributária em 70%, ou mais, vai faltar dinheiro para cobrir os dispêndios do governo, principalmente para pagar seus funcionários da saúde, educação, segurança e burocracia. Eles representam a maior fatia das suas obrigações e, mais adiante, passam a consumir menos fazendo a demanda cair ainda mais. Contudo, como no modelo idealizado por Jay Forrester, tudo isso não acontece de uma só vez, mas em momentos distintos, vindo na forma de ondas, levando até meses para restabelecimento de nova posição de equilíbrio. Diferentemente do Governo Federal os governos estaduais e municipais não podem emitir moeda nem títulos para cobrir os déficits e os bancos vão ser mais conservadores em relação às garantias para concessão de novos empréstimos ou renovação dos vencidos.
A mudança de hábitos implantada para alteração da tendência natural da destruição, para evitar perdas de vida e danos sociais, tentada hoje pelos confinamentos, redução das atividades econômicas e diminuição dos contatos pessoais, tem nos trazido muito desconforto. Se estamos achando ruim o que está acontecendo, se o controle da pandemia está demorando de passar e se a vacina plenamente eficaz retarda ainda mais de ser disponibilizada, estaremos mais angustiados e sem saber o que nos espera no futuro.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]