Uma pandemia atingiu em cheio as finanças pessoais dos brasileiros. Milhares de pessoas foram infectadas pelo vírus do desemprego e da inatividade econômica e, aqueles que tinham algum dinheiro no mercado financeiro, foram contaminadas pelo vírus do juro baixo. O Banco Central cortou a taxa Selic para 3% ao ano pensando em estimular a economia, num movimento clássico em momentos de recessão.
Mas em tempos de pandemia seu efeito é quase nulo. Se a intenção do Banco Central foi baratear o crédito bancário, não vai dar certo, já que os bancos estão travados, com medo da inadimplência, e não adianta a taxa Selic cair pois eles continuam com spreads altos e juros extorsivos e só ajudam o Brasil nas propagandas do Jornal Nacional. Se a intenção foi aumentar o consumo, como tradicionalmente acontece, não vai funcionar, pois o consumidor está travado, isolado em casa, consumindo apenas o que é necessário, e com medo de gastar, pois nada sabe sobre o futuro. Se não ajudou a estimular a economia, a redução da taxa Selic – e o aviso de que ela vai cair mais em junho – atingiu em cheio o investidor pessoa física, pois significa rentabilidade real zero ou negativa na poupança e nos fundos de renda-fixa e redução do patrimônio se houver saques. O que fazer então?
Bom, duas forças regem aqueles que tem dinheiro guardado: segurança e rentabilidade. Em tempos de pandemia, segurança significa garantia da manutenção do capital e liquidez, ou seja, disponibilidade de recursos para enfrentar a incerteza. Nesse caso, o investidor tem de ficar nos títulos de renda fixa, vinculados a Selic, mesmo com rentabilidade menor, ou aceitar prazos maiores no Tesouro Direto, especialmente Tesouro IPCA+, com vencimento em 2026. Quem privilegiar a rentabilidade tem muitas opções, todas de longo prazo e com certo risco, como ações da bolsa de valores, fundos Imobiliários, fundos multimercados e outros.
E há ainda a possibilidade de comprar ativos fora do Brasil, se a expectativa é de que a recuperação econômica vai chegar lá primeiro. Já o dólar é um ativo que une rentabilidade e segurança, mas comprar dólar a quase US$ 6,00 já é um investimento de risco. O ouro, por outro lado, é um ativo cuja rentabilidade só é garantida no longo prazo. Em resumo: para quem tem algum dinheiro guardado, o tempo é de parcimônia e espera, com possibilidade de alguma perda ou de rentabilidade só no longo prazo. Antes assim, pior é quem não tem qualquer recurso e está na dependência dos aportes do governo federal.
BAHIA: A ECONOMIA E A COVID
A pandemia afetou a economia baiana de forma diferenciada. O setor serviços, que responde por 70% do PIB e inclui comércio e turismo, sofreu, em março, uma queda de quase 8% em relação a fevereiro e de 12% em relação a 2019. E em abril, a situação parece ter se agravado. Mas no setor agropecuário, as perspectivas são melhores e safra de grãos vai ser de quase 9 milhões de toneladas, 7% maior que no ano passado. Na indústria, alguns setores, como petróleo e celulose, voltados para o mercado externo estão crescendo, mas, outros, como o setor automobilístico, estão paralisados. Que a recessão vai ser grande é consensual, mas seu tamanho vai depender de quando o isolamento termina.
TURISMO CAI 30%
O índice de atividades turísticas na Bahia caiu 27,3% em março de 2020, em comparação com o mês anterior. No Brasil, a queda foi de 30%, puxado pelo Rio de Janeiro com redução da ordem de 35%. A receita nominal do setor na Bahia caiu 28%, a terceira maior queda entre os estados. Hotéis, empresas de aviação, agências de viagens e toda a cadeia produtiva está se desestruturando e precisa sair do chororô e buscar novas formas de inserção. O setor precisa começar a pensar formas de retomar a atividade, quando o isolamento for flexibilizado. E usar da criatividade. Na Europa, por exemplo, estão sendo feitos acordos bilaterais para permitir a volta do turismo. Os dados são do IBGE.
Publicado no jornal A Tarde em 14/05/2020