Segundo levantamento divulgado pela pasta federal no último dia 10, os negros representavam 23,1% dos pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave, mas chegavam a 32,8% dos mortos pela Covid-19. Um fator preponderante para a letalidade no país ser maior entre os negros é o fator socioeconômico, como defende a médica infectologista e professora da Universidade Federal da Bahia e da Unime, Nilse Querino.
“Um indivíduo de baixo nível socioeconômico depende do serviço público, e aí todo nós sabemos as dificuldades do SUS para atender essa gama de população [negra]”, completou.
Em números absolutos, a Bahia é o estado do Brasil que concentra o maior número de pessoas pobres (6,3 milhões), de acordo com dados de 2018 do IBGE. Dessa fatia, 43,8% dos indivíduos se declararam pretos ou pardos, enquanto 38,6% são brancos.
Em Salvador, enquanto 22,3% da população total da capital baiana estava abaixo da linha de pobreza em 2018 (637 mil pessoas), entre as pessoas brancas o percentual caía para 15,2% (71 mil). Entre as pretas ou pardas, o percentual subia para 23,6% (558 mil). Era a 19ª maior diferença (8,4 pontos percentuais) entre as 27 capitais.
Os números apontam que, na Bahia, raça e classe social são elementos indissociáveis, como explica Sélton Diniz, que é mestre em saúde comunitária, doutorando em Enfermagem e Saúde e tem como linha de pesquisa as desigualdades no campo da saúde.
“Quando a gente está falando em grupos vulnerabilizados socioeconomicamente, a gente vai estar falando da população negra”, afirmou.
Em muitas favelas de Salvador, moradores reclamam constantemente da falta de água. O álcool em gel, outro aliado na hora de higienizar as mãos, não é acessível a todos.
É preciso refletir, também, sobre a dificuldade de manter o distanciamento entre as pessoas nos bairros economicamente mais vulneráveis da cidade, como explica Sélton Diniz.
Uma grande preocupação das autoridades em saúde é aglomeração de pessoas nas ruas, especialmente nesses bairros. Muitos não cumprem a recomendação de não sair às ruas, exceto em caso de necessidade.
Para Sélton Diniz, há uma falha no processo de comunicação entre o poder público e os moradores das favelas.
“Na prática, o que eu vejo muito claramente é a falta de informação. A informação não chega como deve. As pessoas escutam falar em coronavírus, mas não sabem efetivamente o que é”.