Ainda que um número maior de testes para o novo coronavírus já tivesse sido entregue no Brasil, o país dificilmente conseguiria ter examinado mais do que analisou até agora, afirmou Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, instituição que representa um dos principais fornecedores atuais ao Ministério da Saúde.
Segundo Krieger, a evolução da epidemia da Covid-19 fez laboratórios como a Fiocruz e o IBMP (Instituto de Biologia Molecular do Paraná) reprogramarem o planejamento de kits de testes moleculares que são usados hoje na rede pública.
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou em vídeo divulgado nesta segunda-feira (20) que a pasta vai realizar 46 milhões de testes. O ministério, porém, não divulgou quantos testes já foram efetivamente adquiridos, quando seriam realizados e qual seria o cronograma de entrega.
Em menos de dois meses, a produção da Fiocruz, por exemplo foi de 30 mil -valor inicialmente calculado para um impacto tido como limitado da epidemia, quando ainda não havia mais informações sobre o comportamento do vírus- para 1,2 milhão, volume ainda insuficiente para o panorama atual.
Já a partir de maio, a produção deverá chegar a 2 milhões de testes, o que representa quase o dobro da produção anual de testes para algumas doenças -o contrato prevê que a oferta será de 11,7 milhões até setembro. Ainda que haja aumento na oferta de kits, a capacidade de processar as amostras é hoje um dos principais desafios para ampliar a testagem, afirma Krieger.
“Hoje não temos mais o gargalo dos insumos; nosso gargalo é a logística da coleta e o processamento”, diz ele. “Também sabemos que há dificuldade hoje de achar no mercado swab [cotonete nasal] para testagem massiva”, afirmou à folha de São Paulo.
Outro impasse é o tempo de análise. “São testes sofisticados que precisam de três etapas de reações. É um processo que demora em torno de quatro horas, e é difícil trabalhar com grandes números ao mesmo tempo.”
“Estamos com uma limitação no Brasil de laboratórios suficientes para dar conta da testagem. A capacidade está bastante aquém do necessário”, afirma Pedro Barbosa, do IBMP.
Na tentativa de acelerar a análise, a Fiocruz e o IBMP começaram na semana passada a usar máquinas automatizadas em cinco unidades. O modelo permite analisar um volume maior de amostras de forma conjunta.
Com isso, as análises deverão chegar a 550 amostras por dia por unidade. A previsão é estender o mesmo modelo para até 20 unidades no futuro.