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NILSE QUERINO – INFECTOLOGISTA E PROFESSORA DA UNIME

Redação - 13/04/2020 07:00

Bahia Econômica – Quais as precauções que devemos ter para evitar a contaminação com coronavírus?

Nilse Querino – Neste momento, principalmente o distanciamento social, que é inclusive uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o mais importante é manter uma higiene rigorosa das mãos com água e sabão ou álcool gel, e o uso de máscara caseira ao sair de casa. Recomendo também que as pessoas separem dois jogos de roupas para transitar na rua e, ao retornar, lave-as. Não abrace, beije ou aperte a mão dos familiares antes de tomar banho.

BE – Qual natureza é a origem desse vírus?

NQ – A teoria para esta pandemia é que o vírus covid-19 é originário de animais silvestres muito consumidos nos mercados da China, em especial na cidade de Wuhan. O coronavírus já foi encontrado em morcegos, civetas (mamífero asiático), cobras, entre outros animais muito apreciados na culinária chinesa. Ao que tudo indica, o covid 19 é um novo tipo de coronavirus que apresentou uma mutação genética se adaptando ao corpo humano e se disseminando de uma pessoa para outra rapidamente.

BE – Por que ele tem se espalhado tão rápido em locais do mundo?

NQ – Acredito que inicialmente pela simples falta de conhecimento de um novo agente infeccioso. Depois, devido a um retardo em medidas de contenção rigorosas para tentar evitar a epidemia. Antes de serem adotadas medidas preventivas para mitigar o avanço da doença, muitas pessoas já haviam viajado de um país a outro, disseminando a infecção.

BE – O coronavírus se propaga mais lentamente no calor?

NQ – Na verdade, já existem estudos mostrando a melhor adaptação do vírus à baixas temperaturas. Mesmo assim temos que ter em mente que outros fatores, como humidade do ar e aglomerações, podem favorecer a disseminação.

BE – O coronavírus é perigoso para gestantes?

NQ – Em relação às gestantes, ainda não há dados consistentes que afirmem uma pior evolução da doença. Recentemente, tivemos a confirmação do óbito de uma puérpera de 28 anos no interior da Bahia, na cidade de Itapetinga. Quanto às mães que deram à luz recentemente, se observou que aquelas que tiveram pneumonia apresentaram complicações como prematuridade, ruptura prematura da bolsa. Além disso, alguns recém-nascidos destas mães gravemente doentes apresentaram complicações, inclusive com relato de morte, embora deva-se dizer que foi um número muito pequeno de casos para se tirar conclusões precisas.

BE – Qual tempo de saturação do coronavírus no ser humano?

NQ – Está bem estabelecido que o vírus se concentra nas vias aéreas superiores logo nos primeiros dias da doença. Tem sido preconizado 14 dias de quarentena, entretanto estudos recentes demonstram o seu desaparecimento em cerca de sete dias.

BE – Quais as diferenças do coronavírus para uma gripe normal?

NQ – Acredito que quando se refere a uma “gripe normal”, esteja se referindo ao quadro de resfriados causados normalmente por vírus respiratórios, que provocam coriza, espirros e febre baixa. Já o quadro de gripe pelo coronavirus pode variar. Entretanto, alguns sintomas são muito frequentes: febre alta, chegando a 39°C, tosse inicialmente seca e persistente e fraqueza acentuada. Alguns destes sintomas se confundem com a gripe provocada pelo vírus Influenza. Nos primeiros dias, curiosamente muitos queixam-se de perda de olfato e paladar.

BE – Quanto tempo mais ou menos teremos uma vacina para combater esse vírus?

NQ – Em tempos normais, a produção de uma vacina, seguindo as suas etapas desde a escolha do material (antígeno), testes in vitro e em animais e por último em humanos, normalmente dura anos. Entretanto, pandemias como a que estamos vivendo obriga a aceleração do processo. Na verdade, há muito vem se clamando pelo desenvolvimento de laboratórios com técnicas inovadoras que permitam em tempo recorde a produção de vacina, que normalmente é a forma mais eficaz de abortar uma epidemia.

Foto: divulgação

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