Há dez dias, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, fez o movimento inicial para a mais recente rodada de confronto entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Ao falar que o presidente Jair Bolsonaro não poderia ceder a chantagens de deputados e senadores e incentivá-lo a “convocar o povo às ruas”, numa frase que incluía um palavrão, o ministro do GSI deu nova roupagem aos atos de apoio ao governo mas, quase que simultaneamente, também abriu uma crise entre seus pares das Forças Armadas.
Captada por uma transmissão ao vivo na conta do Facebook do presidente, e divulgada pelo Globo, a declaração de Heleno incomodou os militares e, segundo relatos, a atitude do ministro foi reprovada por parte da cúpula do Exército. Integrantes do governo que acompanharam o mal-estar na caserna dizem que Heleno teria sido alertado de que sua função no GSI não está atrelada à articulação política e que ele deveria se ater ao papel institucional do cargo. A avaliação é que, ao incorporar o discurso de que o Congresso é um entrave ao avanço do governo, o ministro acaba expondo os militares e impondo às Forças um desgaste desnecessário.
A análise também teve eco no Planalto. Parte dos auxiliares mais próximos a Bolsonaro entendeu que o “foda-se” de Heleno acabou caindo no colo do também general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, cuja função é intermediar a relação dos parlamentares com o Executivo e tinha sido o negociador do acordo detonado pelo colega. Nesse contexto, aliados de Ramos disseram que a explicação de Heleno para a declaração acabou azedando ainda mais o clima. A expectativa era a de que o chefe do GSI fizesse um gesto ao Congresso e pedisse desculpas. Mas, ao sugerir que, no fundo, deputados e senadores estavam atuando para implementar o parlamentarismo no Brasil, o general dobrou a aposta. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu: “Ficou pior. [Ele] não entende nada de sistema democrático presidencialista”, disse Maia em mensagem enviada ao Globo, na ocasião.
Observadores do Planalto dizem que o rompante de Heleno acontece justo no momento em que começou a ganhar força a percepção de que ele vinha perdendo espaço no papel de conselheiro de Bolsonaro. A nova dinâmica em torno do presidente, segundo esse cenário, teria como peças fundamentais Ramos e os ministros Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, e Fernando Azevedo e Silva, da Defesa — tidos como mais moderados.
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